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| Foto: Jordi Boixareu/ZUMA Press Wire/REX/Shutterstock (retirada do jornal The Guardian) |
Acredito que 2025 foi um ano que não poderíamos ter imaginado. Os sinais eram maus, mas não podíamos prever quão má seria a realidade. Muitas vezes pensei que encontrar coragem para ler as notícias todos os dias se tornou num acto de resistência. Pensei repetidamente em algumas coisas depois de reuniões, conferências e conversas com amigos e colegas.
Necessitamos, precisamente, de mais tempo para estarmos juntos e conversarmos mais. Isolamo-nos muito, vivemos para trabalhar, não temos noção do que acontece fora da nossa bolha confortável. Embora o "mundo lá fora" se tenha tornado mais hostil e incompreensível, precisamos de fazer este esforço e podemos fazê-lo melhor juntos. O desconforto também pode ser bom, as nuances podem ser estimulantes, há muito mais para descobrir. Muitas vezes penso na experiência do apagão em Portugal, em Abril passado, e em como pessoas que viviam no mesmo prédio, sabe-se lá por quanto tempo, se juntaram pela primeira vez, cozinharam juntas, comeram juntas, se conheceram e decidiram repetir a experiência.
Este isolamento resulta também num sentimento de "minorização". Ouvimos os bullies a gritar, estão por todo o lado, e não nos apercebemos que são, de facto, uma minoria barulhenta. Os britânicos começaram a usar um termo de que gosto muito: a maioria global. Como somos levados a sentir que vivemos num mundo privado de decência, de valores, de cuidado, se estivermos mais juntos, se conversarmos mais e olharmos nos olhos uns dos outros, poderemos perceber que somos muitos, ainda nos preocupamos e ainda temos algum poder, somos uma maioria. Não devemos ficar em silêncio. Esta confusão não vai desaparecer sozinha.
Agir não é o mesmo que reagir. Políticos, jornalistas e todos nós, na verdade, demonstramos uma certa incapacidade para nos elevarmos acima dos gritos e dos argumentos dos bullies e construirmos a nossa própria visão. Envolvemo-nos em discussões intermináveis, presos à agenda que tentam impor, e esquecemo-nos que precisamos de sonhar, de sonhar com algo diferente. Olhemos para o presidente eleito da Câmara de Nova Iorque, Zohran Mamdani: a sua postura e o seu sorriso, a sua visão e humanidade, o seu calor humano e clareza e, acima de tudo, o seu domínio sobre os assuntos que as pessoas se preocupam em discutir. Não perdeu o horizonte, os bullies não o aprisionaram na sua "pequenez".
Mas nem todos somos Mamdanis. E não temos de ser. Em vez disso, precisamos de nos lembrar que todos temos algum tipo de poder e somos mais fortes juntos. Sinto-me energizada com o empenho e a criatividade diários de tantas pessoas comuns em todo o mundo que oferecem resistência não violenta a todas as tentativas de nos desumanizar, de nos separar, de nos menosprezar, de nos anestesiar, de nos roubar toda a esperança.
A esperança está na escuridão*. A dignidade está no "estar junto". E é isso.
* “Hope in the Dark” é um livro de Rebecca Solnit.
** “Não deixem as pessoas sozinhas. A dignidade esta no 'estar junto'.” (citando o falecido Christos Grammatides)

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