Monday 22 October 2012

Blogger convidado: "Festivais, a nova cara do Zimbabwe", por Nicholas Moyo


É sempre um grande prazer ter uma conversa com Nicholas Moyo. Não só pelo seu sentido de humor, mas sobretudo pela sua sabedoria e experiência, pela sua forma calma e equilibrada de analisar as realidades à sua volta, pela sua crença num futuro melhor. Neste post, Nicholas escreve sobre a proliferação de festivais das artes no Zimbabwe e os esforços do National Arts Council para criar algumas directivas no sentido de assegurar que todos os festivais sejam realizados de acordo com as aspirações do país, no que diz respeito ao desenvolvimento das indústrias criativas. mv

Intwasa Arts Festival (Foto retirada de www.intwasa.org)
A criação de festivais das artes no Zimbabwe para a exposição de produtos artísticos e culturais tem sido moda na última década. Por muito que as pessoas possam concordam sobre o que é um festival, no Zimbabwe um festival relacionado com as artes é promovido como uma plataforma para a celebração das artes, onde artistas e outros profissionais ligados à cultura se juntam por um período específico para mostrar os seus produtos num ambiente carnavalesco e de festa.

Esta definição persiste porque os festivais são, em geral, um tempo de celebração e divertimento. Trata-se de um evento normalmente promovido por comunidades que se concentram num aspecto único daquele grupo de pessoas. No que diz respeito ao sector das artes e da cultura, cada festival é moldado à volta de um grupo particular de pessoas, que constituem o núcleo do mercado e do público.

O cenário actual

Há aproximadamente 25 festivais no Zimbabwe: seis internacionais, oito nacionais, seis provinciais e cinco distritais. A maioria destes festivais começou na última década, quando o panorama político estava em colapso, sobretudo a economia.

Nesse período, Zimbabwe testemunhou a proliferação de festivais de arte realizados em todo o país. Sem dúvida, alguns deles foram criados para lidar com questões relacionadas com os direitos humanos. Outros eram acolhidos por organizadores fugazes que procuravam ‘arrancar’ fundos a patrocinadores. Este cenário teve como resultado a intervenção do National Arts Council, que iniciou uma consulta com o sector, criando algumas directivas gerais para todos os festivais que tinham lugar no país. As directivas tinham como objectivo assegurar que todos os festivais de artes seriam realizados de acordo com as aspirações do país no que diz respeito ao desenvolvimento das indústrias criativas.

Harare International Festival for the Arts (Foto retirada de www.hifa.co.zw)
Sucessos

Os festivais são, em geral, uma plataforma enorme criada para o estabelecimento de uma transacção entre públicos e organizadores, que envolve a comercialização de um produto artístico. Em primeiro lugar, todos os festivais têm registado um aumento sustentado de afluência todos os anos. Existe um mercado crescente e uma nova relação entre este mercado e o sector criativo. As pessoas começam a trocar o seu tempo e recursos financeiros por ‘boa arte’.   

Em segundo lugar, os criadores consideram importante e necessário criar ‘boa arte’, nova e excitante, enquanto os produtores, directores e artistas têm estado a subir a fasquia, devido à natureza competitiva da indústria criativa. Os organizadores de festivais contratam novas produções, sobretudo a produtores respeitados, uma vez que estes conseguem atrair mais pessoas a produções específicas.

Harare International Festival for the Arts (Foto retirada de www.hifa.co.zw)
Desafios

As indústrias criativas têm tido bastantes desafios no mercado. No topo da lista está a incapacidade de atrair importantes parcerias que ou trariam apoios financeiros para o festival ou suportariam algumas das suas componentes, mesmo em género. Alguns organizadores não têm a capacidade de estabelecer estas parcerias, sendo impossível marcarem com regularidade datas no calendário. Assim, vemos certos festivais serem obrigados a cancelar datas com as quais poderiam ter avançado apenas se aparecesse um parceiro da última hora.

Os patrocinadores, especialmente aqueles do sector empresarial, não se têm mostrado disponíveis para apoiar as artes. E os festivais não são excepção. Alguns, como o Harare International Festival for the Arts, têm criado sinergias de negócios com empresas. Poderíamos dizer que os desafios económicos que o Zimbabwe enfrenta como nação têm o seu impacto na circulação do dinheiro na área do entretenimento. Os rendimentos dos trabalhadores do Zimbabwe estão abaixo da linha da pobreza e, por isso, este facto por si tem um efeito global nos hábitos de compra das pessoas e na forma como gastam o seu dinheiro.

Intwasa Arts Festival (Foto retirada de www.intwasa.org)
Em conclusão, os festivais no Zimbabwe são necessários para o desenvolvimento das indústrias criativas do país. Com os diferentes impulsos dados por diferentes festivais, é evidente que estes são cuidadosamente preparados no sentido de atrair consumidores específicos a produtos artísticos específicos. No entanto, terão que ser redesenhados como empreendimentos de negócio para os produtos criativos. O crescimento dos festivais irá igualmente garantir que as artes sejam vistas como um contribuinte decisivo para o PIB do país.


Nicholas Moyo é neste momento Director-Adjunto do National Arts Council do Zimbabwe. Tem mais de 20 anos de experiência em gestão cultural – como director, produtor e administrador. Tem participado em várias acções de formação e pequenos cursos, sobre gestão cultural, liderança, e fundraising, entre outros. Fundou o segundo maior festival multi-disciplinar do Zimbabwe, Intwasa Arts Festival koBulawayo, e é neste momento membro do Conselho Consultivo. É igualmente membro do Conselho Consultivo de Tusanani Cover Trust, uma organização que apoia crianças desfavorecidas. Nicholas Moyo foi um dos consultores do primeiro festival de artes e cultura da Zâmbia, o AMAKA Arts Festival, que teve lugar nos dias 8 a 14 de Outubro.

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