Monday 29 April 2013

Rede(s) de segurança

Foto retirada de My Firefighter Nation.

Quando em 2006 comecei a trabalhar na área das artes performativas, e como esse era um mundo totalmente novo para mim, uma das primeiras coisas que fiz, para além de comprar livros novos, foi procurar associações, grupos profissionais, conferências e seminários que me permitiriam integrar-me melhor e mais rapidamente, encontrar outros profissionais, arranjar apoio, fazer perguntas, trocar ideias e adquirir novas competências. Mas, além de uma ou duas associações americanas, uma das quais organizava um conferência anual sobre gestão, não encontrei mais nada que me pudesse ajudar.

Desse ponto de vista, vinha de um mundo bastante organizado e colectado, o dos museus, onde se pode encontrar toda a espécie de modelos: associações internacionais, comités nacionais, redes regionais e locais, redes temáticas (gestão, conservação, educação, comunicação, acesso, etc.); existe ainda um grande número de conferências, encontros, seminários, workshops, cursos de formação, onde uma pessoa pode adquirir as capacidades necessárias, encontrar outros profissionais, partilhar informação extensivamente, arranjar apoio, construir projectos, pôr outras pessoas em contacto.

Lembro-me o quanto me senti sozinha e assustada (para além de muitíssimo entusiasmada…) quando comecei a trabalhar para o Teatro São Luiz em Lisboa. Foi graças à ajuda e ao apoio do gestor do teatro, Rui Catarino, que consegui encontrar o meu caminho. Mesmo assim, senti a falta de uma rede profissional mais extensa e organizada – daquele sentimento de comunidade, de família, com preocupações e objectivos comuns – que encontramos quando iniciamos a nossa vida como profissionais de museus.

Mesmo assim, aqui em Lisboa, nós que trabalhamos em Comunicação em diferentes espaços de apresentação de artes performativas, criámos há cerca de três anos um grupo informal de discussão, chamado Sala de Ensaios. O funcionamento do grupo era simples: encontrávamo-nos uma vez por mês, durante duas horas, para discutirmos um tema previamente escolhido e muitas vezes tínhamos um convidado especial, um especialista na área que ia ser discutida. Quando esgotámos os temas “grandes e urgentes”, os nossos encontros, já mais espaçados, serviram como um ponto de encontro, um espaço e um tempo onde pudéssemos debater as nossas preocupações e dificuldades com colegas que sabiam exactamente o que pensávamos e sentíamos, que nos podiam aconselhar, partilhar informações ou simplesmente ouvir…

Lembro-me de uma vez que o tema da reunião era a publicidade. A nossa convidada era especialista nessa área. Ficou surpreendida ao ver que, ao contrário do que sucede noutros sectores (onde concorrência significa que quase tudo é top secret e é impensável que haja qualquer tipo de partilha), nós estávamos reunidos sobretudo para partilhar informações, para debater e para nos ajudarmos mutuamente. E esta é, na verdade, uma das especificidades do sector cultural, tanto nos museus como nas artes performativas. Não quero com isto dizer que não estamos a competir uns com os outros, estamos. Mas existe tanta concorrência que vem de fora que, naquilo que diz respeito aos nossos públicos ‘primários’ (e estou a referir-me àquelas pessoas que assistem a eventos culturais, que estão interessadas e que gostam de estar informadas), tornamo-nos mais fortes quando partilhamos informação e desenvolvemos estratégias comuns do que quando viramos as costas uns aos outros.

Acredito fortemente nas redes e já mencionei algumas das razões: podem ajudar-nos a ser melhores profissionais fornecendo um espaço (tanto real como virtual) de encontro, um espaço para se fazer perguntas, trocar ideias, adquirir novas competências, arranjar apoio. É isso que as redes sempre foram para mim. Mas agora vejo nelas mais benefícios.

Em primeiro lugar, pode ser uma plataforma de uma escala mais adequada para os mais novos se exprimirem. Mais do que uma vez nas últimas semanas ouvi colegas mais novos a falar da sua reticência/receio ou desconforto em exprimir as suas ideias ou até fazer perguntas nos grandes fóruns (como as conferências e os seminários), onde participam os especialistas “estabelecidos” e respeitados na nossa área. Diria que é normal. Redes de especialistas mais pequenas e grupos de trabalho podem ser do tamanho certo para eles se sentirem à vontade para discutir informalmente as suas preocupações e ideias. E precisamos dessas ideias.

Podem ainda ser os meios mais apropriados para pessoas que partilham uma determinada mentalidade e têm convicções relativamente a certos assuntos poderem empurrar a sua causa para a frente, independentemente de hierarquias formais e rígidas ou, atrevo-me a dizer, apesar delas. Trabalho em rede significa um lobby mais forte e decisivo, independentemente da posição dos indivíduos na pirâmide hierárquica de uma determinada estrutura. Trabalho em rede significa uma liderança colectiva mais forte.

Na vida, há certas coisas que simplesmente não podemos fazer sozinhos. Ou porque não somos suficientemente fortes; ou porque não temos preparação, conhecimentos, experiência ou auto-confiança suficiente; ou porque não temos uma voz suficientemente forte. As redes profissionais podem ser o canhão que nos projecta alto e longe; e são, sem dúvida, a nossa rede de segurança. As artes performativas têm, por isso, muito a aprender com os museus, e não só em Portugal.  Gestão, comunicação, educação, acesso, são todas áreas que precisam de ser melhor trabalhadas, no sentido de promover a reflexão crítica e as boas práticas, apoiar os novos profissionais do sector, criar as condições para maior profissionalismo em áreas que são todas técnicas e construir um discurso mais firme.

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