Monday 2 February 2015

O que sabemos e o que não fazemos


Nas últimas semanas, tive a oportunidade de conversar com alguns colegas em relação a certas questões de acessibilidade nas suas exposições. Coisas como legendas mal iluminadas, mau contraste entre letras e fundo, legendas colocadas demasiado baixo, objectos expostos a um nível elevado e sem inclinação, textos longos e complicados. Acredito que estas são questões que podem ser facilmente resolvidas, sem qualquer investimento adicional, apenas com um algum planeamento prévio e a preocupação de não excluir. Na verdade, quando as exposições são projectadas para ser inclusivas, não só não custam mais, como podem, realmente, trazer mais receita, uma vez que mais pessoas terão acesso às mesmas.

Senti-me um pouco confusa quando as pessoas que abordei me disseram que sabiam tudo sobre as questões que levantei. Porque é que as coisas aconteceram dessa maneira, então? É possível que nós estejamos a criar conscientemente barreiras ao conteúdo das nossas exposições? Porque é que as fazemos, então, se não para as pessoas as poderem apreciar?

Sinto a mesma perplexidade em conferências ou cursos de formação, quando discutimos questões de gestão, comunicação, marketing, serviços ao visitante, educação, etc. Às vezes, alguns colegas aproximam-se e dizem: "Temos estado a dizer aos nossos superiores o que acabaste de dizer há anos e anos. "

Assim, parece que não faltam profissionais de museus (incluindo os vigilantes) que estão conscientes de uma série de pequenos e grandes problemas de gestão ou de comunicação. Temos ainda feedback dos próprios visitantes, através de livros de visitas, cartões de comentários, estudos de público, etc. Por fim, existe ainda o contributo de académicos, pensadores, bloggers, como Maria Isabel Roque - que recentemente nos lembrou algumas das coisas que ainda estão por acontecer, no seu post Acerca do que (ainda) falta ao património - ou Luís Raposo - um dos poucos profissionais de museus em Portugal que partilha regularmente e publicamente as suas opiniões, sendo o seu mais recente artigo de opinião sobre a abertura do novo Museu dos Coches e os planos para o eixo Belém - Ajuda em Lisboa.

Assim, não podemos reclamar que não temos já feedback realmente valioso - tanto de “insiders” como de “outsiders” - que pode ajudar a construir estratégias, corrigir erros, tomar decisões, registar tendências, compreender mudanças e desenvolvimentos. Porque é que os decisores e os responsáveis directos pela gestão dos museus não agem sobre isso? O que é que nos impede de avançar, com que tipo de barreiras estamos a lidar? Porque é que procuramos mais estudos, estudos novos, se não fizemos nada ainda sobre as coisas que já sabemos? Porque é que o conhecimento existente parece não ter qualquer impacto sobre práticas de gestão?

Aqui está a minha tentativa de identificar algumas razões:

Talvez seja porque, apesar das declarações politicamente correctas que os museus estão ao serviço da sociedade, eles estão sobretudo ao serviço de quem as gere. As pessoas - aquelas que vêm e as que não vêm - e os seus interesses e necessidades não são, na verdade, a nossa principal preocupação. Os objectos é que o são e basta que fiquem bonitos para aqueles que sabem apreciá-los.

Talvez seja porque neste sector trabalhamos com planos de curto prazo, que seguem os ciclos eleitorais e que podem facilmente ser abandonados, sem explicações de maior e sem assumir responsabilidades. Assim, grandes e pequenas questões permanecem e a sua discussão perpetua-se, sem trazer desenvolvimentos.

Por fim, talvez seja porque temos a tendência de ficar pelo que é “bom o suficiente”. Sabemos quais são os problemas, mas chega um momento em que não podemos insistir mais: ou porque não conseguimos convencer com os nossos argumentos ou porque sentimos que não podemos esperar ou exigir mais dos outros. Só que “bom o suficiente” não é bom o suficiente e o argumento “um passo de cada vez” não nos leva tão longe quanto devia. Na verdade, muito frequentemente nos mantém no mesmo lugar.


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