Christian Lachel, BRC Imagination Arts (Foto: Maria Vlachou) |
Parece-me que as três palavras mais ouvidas na conferência
de 2015 do MuseumNext foram: emoção, histórias, envolvimento. Palavras que registam claramente a
mudança que tem estado a ocorrer na atitude dos museus, com o objectivo de
estabelecer, com a ajuda de suas colecções, uma relação melhor e mais relevante
e significativa com as pessoas - mais pessoas, pessoas diferentes, pessoas
comuns.
Uma apresentação que foi inteiramente dedicada a este tema foi "Emotionalizing the Museum", de Christian Lachel da BRC Imagination Arts. "A experiência estará a transformar os seus visitantes fazendo-os querer partilhá-la com outros?", perguntou Christian. E esta é, provavelmente, a pergunta certa. Embora a transformação que todos nós tanto desejamos fazer acontecer pode levar algum tempo para ser conscientemente reconhecida pelas pessoas (se chegar a ser reconhecida), o desejo irresistível de compartilhar com os outros é um indicador mais imediato da ocorrência de um encontro significativo. E o ponto de partida é o coração das pessoas, afirmou Christian. O processo de criação de uma experiência envolvente acontece do interior para o exterior e não o inverso. Um processo que tem como objectivo envolver as pessoas através de uma história, procurando, de seguida, as ferramentas certas e a criação de um ambiente físico adequado para esse encontro.
Uma apresentação que foi inteiramente dedicada a este tema foi "Emotionalizing the Museum", de Christian Lachel da BRC Imagination Arts. "A experiência estará a transformar os seus visitantes fazendo-os querer partilhá-la com outros?", perguntou Christian. E esta é, provavelmente, a pergunta certa. Embora a transformação que todos nós tanto desejamos fazer acontecer pode levar algum tempo para ser conscientemente reconhecida pelas pessoas (se chegar a ser reconhecida), o desejo irresistível de compartilhar com os outros é um indicador mais imediato da ocorrência de um encontro significativo. E o ponto de partida é o coração das pessoas, afirmou Christian. O processo de criação de uma experiência envolvente acontece do interior para o exterior e não o inverso. Um processo que tem como objectivo envolver as pessoas através de uma história, procurando, de seguida, as ferramentas certas e a criação de um ambiente físico adequado para esse encontro.
Christian Lachel, BRC Imagination Arts (Foto: Maria Vlachou) |
Outra questão que surgiu repetidamente foi a do digital vs o
físico. Ao mesmo tempo que os museus estão numa corrida para abraçar as novas
ferramentas e plataformas digitais, a fim de criar experiências mais
envolventes e significativas, muitas vezes parecem dar um passo atrás,
re-avaliando as vantagens e os pontos fortes do encontro físico.
Um projecto inspirador do Museu Brooklyn, a Ask Mobile App,
passou por essas fases de pensamento e avaliação (que são abertamente
partilhadas no blog do museu - um grande exemplo de profissionalismo,
generosidade, transparência e accountability que mais museus devem ter a
coragem de aplicar). Como Shelley Bernstein nos explicou, num momento em que o
Museu de Brooklyn está a reavaliar vários pontos de contacto com os seus
visitantes (o seu foyer austero, a recepção confusa, a falta de assentos),
deseja também melhorar a sua experiência, permitindo-lhes fazer, no local e
em tempo real, qualquer pergunta que possam ter a respeito dos objectos ou das
exposições em geral. O projecto está ainda a ser testado nos seus detalhes e
será lançado em Junho.
Shelley Bernstein, Brooklyn Museum (Foto: Maria Vlachou) |
Numa fase anterior, o museu tinha membros do seu pessoal
nas salas e descobriu que os visitantes gostavam muito de conversar com eles.
No entanto, um museu tão grande iria precisar de muitas pessoas para ser capaz
de cobrir todas as salas. A fim de optimizar a ideia do contacto directo e em
tempo real com um membro da equipa, decidiram recorrer à tecnologia. Uma equipa
de seis pessoas está disponível para responder a perguntas de visitantes
enviadas através dos seus telemóveis usando a Ask Mobile App. A avaliação até
agora tem mostrado que as pessoas continuam a considerar este contacto pessoal
e o museu está confiante que esta será mais uma forma de cumprir a sua missão
de ser "um museu dinâmico e atento que promove o diálogo e provoca
conversas". O museu descobriu que as pessoas até passam mais tempo a olhar
para os objectos... à procura de perguntas para fazer!
Existirá, no entanto, algo mais pessoal e físico (e
divertido e inspirador) do que sermos levados para uma visita guiada adaptada
às nossas necessidades e interesses pelo Museum Hack? "Eu odeio
museus!", é assim que Nick Grey começou a sua apresentação. E odiava-os
... no passado. Agora, o que mais quer é partilhar a sua paixão por eles com as
pessoas que ainda os odeiam, com as pessoas que ainda sentem que os museus não
são para elas. Um colega do Museu de Arquitectura e Design de Oslo chamou ao
Museum Hack "nossos aliados naturais". E são, de facto! O objecto
favorito de Nick no Metropolitan Museum é o fragmento do rosto de uma rainha
egípcia. Foi isto que nos disse sobre ela (citando de memória): "Se estes
são os lábios, podem imaginar o resto? Como deve ter sido bela? E, embora não
saibamos quem ela foi e quais as ferramentas que foram usadas para a fazer,
sabemos que ela é feita de jaspe amarelo. O jaspe amarelo era tão caro que o
único outro objecto no Met feito deste material é pequeníssimo. Numa escala de
dureza de 1 a 10, onde o diamante é 10 e o mármore é 3, jaspe é um sólido 6.
Faz o mármore parecer borracha... ". Não são os museus “f *** ing
awesome”?!
Nick Grey, Museum Hack (Fotos: Maria Vlachou) |
A minha visita ao recentemente renovado Museu Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho testou, de alguma forma, todos esses
pensamentos e ideias. É um museu que combina muito bem o físico e o digital,
utilizando a tecnologia de modo a realçar o significado dos objectos, para
partilhar histórias poderosas e para envolver o visitante - tanto emocional
como intelectualmente - na discussão de questões universais e sensíveis. Os
três capítulos principais da história são "A defesa da dignidade
humana", "O restabelecimento de laços familiares" e "A
redução de riscos naturais" e cada espaço / capítulo foi criado por um
arquitecto diferente, propondo ambientes bastante distintos. Um dos momentos
mais tocantes para mim foi na sala onde estão expostos os presentes oferecidos
pelos prisioneiros de diferentes conflitos ao delegado da Cruz Vermelha
encarregue do seu caso. Fizeram-me pensar na beleza, sensibilidade,
criatividade e humanidade que ainda pode emanar depois do horror da barbárie,
breves sinais de uma esperança renovada. Devo dizer, porém, que o momento mais
poderoso foi tocar no ecrã a mão estendida de uma testemunha, um gesto que
iniciaria o seu testemunho. Uma concepção brilhante, que liga o físico ao
digital, criando uma experiência profundamente emocionante e memorável.
Em quase todas as visitas a museus, nas apresentação e
discussões durante a conferência, devo dizer que havia para mim uma questão
subjacente: podem os museus cumprir o seu papel social e educativo, podem ser
relevantes e envolventes, se não assumirem também, e de forma clara, o seu
papel político? Logo no primeiro dia, Gail Dexter Lord introduziu o conceito
de ‘soft power’ como "a capacidade de influenciar o comportamento através
da persuasão, da atracção ou do estabelecimento de uma agenda". Como é que
os museus podem exercer este poder? "Não podemos tomar partido", costumam exclamar alguns colegas. Oh, mas é o que fazemos ... Às vezes com o nosso silêncio ou fingindo sermos neutros; mais frequentemente, com os objectos que optamos por mostrar ou não mostrar, com as histórias que optamos por contar ou não contar.
Mais que tomar partido, porém, assumirmos o nosso papel político é assumirmos que há, na realidade, mais que um lado para cada história e criarmos espaço para estes pontos de vista se tornarem conhecidos, serem discutidos, para que os cidadãos possam ficar melhor informados, ver os seus próprios pontos de vista serem desafiados, conhecer e ouvir o 'outro', desenvolver empatia e compreensão, tomar uma posição. Os museus não são ilhas e, como afirmou Tony Butler (Derby Museums / The Happy Museum Project): "O que se passa lá fora é tão importante como o que se passa cá dentro". Não é urgente, e não faz sentido, que os museus no século XXI assumam o seu papel na promoção da democracia?
Mais que tomar partido, porém, assumirmos o nosso papel político é assumirmos que há, na realidade, mais que um lado para cada história e criarmos espaço para estes pontos de vista se tornarem conhecidos, serem discutidos, para que os cidadãos possam ficar melhor informados, ver os seus próprios pontos de vista serem desafiados, conhecer e ouvir o 'outro', desenvolver empatia e compreensão, tomar uma posição. Os museus não são ilhas e, como afirmou Tony Butler (Derby Museums / The Happy Museum Project): "O que se passa lá fora é tão importante como o que se passa cá dentro". Não é urgente, e não faz sentido, que os museus no século XXI assumam o seu papel na promoção da democracia?
Gail Dexter Lord (Foto: Maria Vlachou) |
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