O novo Museu de Acrópolis parece um enorme meteorito que caiu no meio de uma área densamente construída. Não é fácil apreciar o edifício do exterior, falta-lhe uma zona de ‘respiração’ à volta. À medida que nos aproximamos, obtendo vistas diferentes dos diversos volumes que o compõem, poderíamos até dizer que se trata de um objecto estranho e feio, que se impõe de forma arrogante no espaço onde se insere.
No entanto, a obra do arquitecto suiço Bernard Tschumi, em colaboração com o arquitecto grego Michael Photiadis, conquista-nos incondicionalmente a partir do momento que nos encontramos no seu interior. Este não é um edifício que se sobrepõe aos objectos que é suposto exibir. Antes, parece que cada espaço foi concebido a pensar concretamente nas peças que iria albergar. As vistas sobre a excavação subterrânea (através do chão de vidro) assustam – devido à altura - e impressionam. O corredor principal que dá acesso à área expositiva – chamado “as enconstas de Acrópolis” – dá-nos a sensação que fazemos mesmo parte da procissão que está a subir para entregar as oferendas ao templo da deusa Atena. Na sala do período arcáico entramos num jardim de estátuas, solenes, sorridentes, algo tristes. Bonitas.
Foto: Aris Messinis (Agence France-Presse)
No entanto, a obra do arquitecto suiço Bernard Tschumi, em colaboração com o arquitecto grego Michael Photiadis, conquista-nos incondicionalmente a partir do momento que nos encontramos no seu interior. Este não é um edifício que se sobrepõe aos objectos que é suposto exibir. Antes, parece que cada espaço foi concebido a pensar concretamente nas peças que iria albergar. As vistas sobre a excavação subterrânea (através do chão de vidro) assustam – devido à altura - e impressionam. O corredor principal que dá acesso à área expositiva – chamado “as enconstas de Acrópolis” – dá-nos a sensação que fazemos mesmo parte da procissão que está a subir para entregar as oferendas ao templo da deusa Atena. Na sala do período arcáico entramos num jardim de estátuas, solenes, sorridentes, algo tristes. Bonitas.
Foto: Aris Messinis (Agence France-Presse)
Todo o terceiro e último piso do museu é dedicado ao Partenon. Luminoso, airoso, com uma vista directa e deslumbrante sobre a Acrópolis e o Partenon, tem as dimensões exactas do templo de Atena. A maioria dos objectos aqui expostos são cópias de gesso do friso e das métopas originais, que se encontram no British Museum, em Londres.
Foto: http://greatfi.com
A batalha para a devolução dos originais à Grécia insere-se numa discussão maior, a nível internacional, sobre a restituição de antiguidades aos seus países de origem (se bem que a utilização do termo ‘países’ neste contexto poderá não ser a mais precisa). Para além da Grécia, países como Itália, Egipto, Perú, Nigéria, Etiópia e outros, reclamam junto de museus americanos, britânicos, franceses, alemães, a devolução de peças que consideram fazer parte do seu património cultural, chegando às vezes a promovê-los como símbolos nacionais, objectos de orgulho nacional.
Esta parece ser uma batalha entre estados nacionalistas e museus universais. Em Dezembro de 2002, dezoito museus (todos eles norteamericanos e europeus) assinaram a Declaração sobre a Importância e Valor dos Museus Universais. Condenando o tráfego ilegal de objectos arqueológicos, artísticos e étnicos, consideram, no entanto, que objectos adquiridos há mais tempo (não especificam quanto) deverão ser vistos à luz de sensibilidades e valores diferentes, próprios daquela época. Esses objectos, lê-se na declaração, fazem hoje em dia parte dos museus que cuidaram deles e que os tornaram acessíveis a um público internacional. Não pertencem aos cidadãos de uma nação, mas a pessoas de todas as nações. Em 2008, o polémico livro de James Cuno Who owns antiquity? Museums and the battle over our ancient heritage veio apoiar a posição dos museus universais. Cuno afirma que esses deveriam ter a liberdade de adquirir antiguidades mesmo quando a sua origem é incerta, para evitar que as mesmas ‘se percam’ em colecções privadas, não permitindo aos grandes museus cumprir a sua missão de educar o público sobre várias culturas, exibindo objectos de todos os períodos e continentes.
Duas das críticas mais equilibradas ao livro de James Cuno foram escritas por Tom Flynn e pelo arqueólogo Colin Renfrew. Flynn critica aquela que considera uma visão paternalista e colonialista dos museus universais. Aponta para o facto de todas as pessoas que contribuiram com textos serem directores de museus norteamericanos (com a excepção de Neil McGregor, director do British Museum) e para a falta de referência à relação que América e Europa deveriam procurar estabelecer com outros países, cujos museus não são de todo mencionados no livro (ler artigo completo aqui). Renfrew, por seu lado, critica Cuno por reclamar para os museus universais uma liberdade sem regulação, sem nenhuma diligência, na aquisição de antiguidades e defende a necessidade de serem elaborados códigos e políticas claras de aquisição a nível internacional (ler artigo completo aqui).
Esta é uma discussão muito mais vasta e complexa, que ultrapassa os limites do resumo que se faz aqui. Os argumentos de ambas as partes merecem ser analisados com atenção e objectividade. No entanto, e não querendo simplificar demasiado uma questão bastante complexa, diria que não receio que as solicitações para a repatriação de certos objectos esvaziem os chamados museus universais e os impeçam de proceder e cumprir a sua missão, como temem os seus defensores. Os pedidos são muito específicos, muito concretos, não dizem respeito a todo e qualquer objecto que se encontre nas colecções desses museus, e de outros.
Quando olho para o Partenon, vejo um monumento amputado. Acho que os originais do friso e das métopas deveriam ser devolvidos, uma vez que existem as condições. Devolvidos não à Grécia e aos Gregos, mas ao seu contexto natural, histórico e cultural, para serem apreciados por cidadãos do mundo inteiro, aos quais pertencem.
Outras referências
Elginism
The Committee for the Reunification of the Parthenon MarblesLista de artigos de Kwame Opoku no portal Modern Ghana
Esta parece ser uma batalha entre estados nacionalistas e museus universais. Em Dezembro de 2002, dezoito museus (todos eles norteamericanos e europeus) assinaram a Declaração sobre a Importância e Valor dos Museus Universais. Condenando o tráfego ilegal de objectos arqueológicos, artísticos e étnicos, consideram, no entanto, que objectos adquiridos há mais tempo (não especificam quanto) deverão ser vistos à luz de sensibilidades e valores diferentes, próprios daquela época. Esses objectos, lê-se na declaração, fazem hoje em dia parte dos museus que cuidaram deles e que os tornaram acessíveis a um público internacional. Não pertencem aos cidadãos de uma nação, mas a pessoas de todas as nações. Em 2008, o polémico livro de James Cuno Who owns antiquity? Museums and the battle over our ancient heritage veio apoiar a posição dos museus universais. Cuno afirma que esses deveriam ter a liberdade de adquirir antiguidades mesmo quando a sua origem é incerta, para evitar que as mesmas ‘se percam’ em colecções privadas, não permitindo aos grandes museus cumprir a sua missão de educar o público sobre várias culturas, exibindo objectos de todos os períodos e continentes.
Duas das críticas mais equilibradas ao livro de James Cuno foram escritas por Tom Flynn e pelo arqueólogo Colin Renfrew. Flynn critica aquela que considera uma visão paternalista e colonialista dos museus universais. Aponta para o facto de todas as pessoas que contribuiram com textos serem directores de museus norteamericanos (com a excepção de Neil McGregor, director do British Museum) e para a falta de referência à relação que América e Europa deveriam procurar estabelecer com outros países, cujos museus não são de todo mencionados no livro (ler artigo completo aqui). Renfrew, por seu lado, critica Cuno por reclamar para os museus universais uma liberdade sem regulação, sem nenhuma diligência, na aquisição de antiguidades e defende a necessidade de serem elaborados códigos e políticas claras de aquisição a nível internacional (ler artigo completo aqui).
Esta é uma discussão muito mais vasta e complexa, que ultrapassa os limites do resumo que se faz aqui. Os argumentos de ambas as partes merecem ser analisados com atenção e objectividade. No entanto, e não querendo simplificar demasiado uma questão bastante complexa, diria que não receio que as solicitações para a repatriação de certos objectos esvaziem os chamados museus universais e os impeçam de proceder e cumprir a sua missão, como temem os seus defensores. Os pedidos são muito específicos, muito concretos, não dizem respeito a todo e qualquer objecto que se encontre nas colecções desses museus, e de outros.
Quando olho para o Partenon, vejo um monumento amputado. Acho que os originais do friso e das métopas deveriam ser devolvidos, uma vez que existem as condições. Devolvidos não à Grécia e aos Gregos, mas ao seu contexto natural, histórico e cultural, para serem apreciados por cidadãos do mundo inteiro, aos quais pertencem.
Outras referências
Elginism
Who draws the borders of culture? (Artigo de Michael Kimmelman no New York Times de 5 de Maio de 2010)
The Medici conspiracy: The illicit journey of looted antiquities - From Italy´s tomb raiders to the world´s greatest museums (Livro de Peter Watson e Cecilia Todeschini)
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