No post Let´s talk business, de Maio passado, falava do recurso às memórias e da análise das mesmas como uma forma de avaliar o impacto da visita a um museu ou uma exposição ou um espectáculo. Tenho estado a acompanhar com interesse a publicação no blog Museum Audience Insight de alguns dos resultados preliminares de um grande inquérito a frequentadores de museus.
Museum Audience Insight é o blog dos Reach Advisors, uma empresa americana de investigação e estratégia em marketing que trabalha com muitos museus. No início do ano lançaram este inquérito, com o objectivo de recolher dados que pudessem dar respostas a questões como:
- As experiências em museus durante a infância afectam as motivações e as expectativas dos frequentadores adultos dos museus?
- Se alguns tipos de experiências durante a infância são comuns entre os visitantes adultos que mais se envolvem com os museus, os museus hoje poderão oferecer experiências similares às crianças?
- As visitas escolares são cruciais na criação de uma nova geração de frequentadores de museus?
- A curiosidade é importante como motivação?
O inquérito foi lançado através das mailing lists, páginas de Facebook e Twitter de 103 museus em 5 países (EUA, Canadá, Reino Unido, Nova Zelândia, Austrália e Índia), sendo que 97% das pessoas que participaram residiam nos EUA. Foram recebidas mais de 40.000 respostas. A metodologia é explicada aqui e aqui.
Uma das principais linhas do inquérito diz respeito às memórias da infância. Os investigadores procuram, entre outras coisas, perceber quais os factores que tornam a experiência num museu memorável; quais as idades mais impressionáveis; como é que as experiências durante a infância diferem entre os vários segmentos de público. Pediram aos inquiridos para relatarem a sua primeira ou mais forte memória da visita a um museu, para indicarem a idade que tinham na altura e com quem estavam. A seguir, podiam relatar tudo aquilo de que se lembravam da visita.
Em termos gerais, a idade da primeiríssima ou mais forte memória de uma visita a um museu são os 7 anos. Mais de metade dos inquiridos tinha na sua memória a presença da sua mãe. Um pouco menos de metade lembrava-se do seu pai. As visitas escolares são cruciais nos hábitos de visitação dos adultos, sobretudo entre as pessoas cujos pais tinham mais baixas habilitações literárias. As memórias diziam respeito a museus de história e sítios históricos (24%), museus de história natural (21%), museus e centros de ciência (21%), museus de arte (17%).
Nos últimos dois meses, os Reach Advisors têm publicado mais resultados, mais específicos, do inquérito, todos complementados com relatos das pessoas que participaram no mesmo. A 28 de Outubro houve um post totalmente dedicado aos museus de história natural (“When you´re seven, it´s all about the dinos, baby!”). Isto porque a análise dos dados mostrou que as memórias desses museus em particular ficam com as pessoas durante décadas, memórias essas vivas e detalhadas. Os factores determinantes aqui são a escala dos objectos expostos, os dinossauros, os dioramas, mas, surpreendentemente, também as rochas e os minerais. Há também muitas memórias das lojas desses museus.
Seguiu-se um post sobre experiências interactivas (“Hands-on exhibits are very fun!” – Hands-on experiences in childhood memories). Através da análise das respostas, os investigadores concluem que estes são componentes muito importantes das experiências nos museus. No entanto, as memórias das actividades interactivas em si são menos vivas e detalhadas, a não ser que estejam associadas a um objecto específico ou uma exposição.
Um outro elemento que pode marcar profundamente as memórias de uma visita é o edifício em si. No post “A grand and beautiful building with cool things’ to look at” – Architecture in early childhood museums memories” lê-se que em certos casos, mais do que os objectos expostos ou as actividades, são os edifícios que marcam as memórias das pessoas. No entanto, a escala e a grandeza de muitos deles não os torna frios e proibitivos para as crianças, ao contrário do que se poderia esperar. Quase todas as memórias são positivas e certas entre eles dizem respeito a edifícios mais pequenos e modestos.
Nos posts “Museums are awesome!” e “Awesome? Try fascinating!” analisa-se a linguagem utilizada na descrição das memórias. A escala de edifícios e objectos, assim como tudo o que tem brilho, é belo ou exótico, impressiona as crianças e fica na sua memória. Essas experiências são descritas como ‘impressionantes’ (se bem que esta não deve ser a melhor tradução para ‘awesome’, que é algo que ao mesmo tempo impressiona e mete medo). No entanto, quando se trata de experiências que despertaram o interesse num determinado objecto ou o desejo de aprender mais, o adjectivo mais usado é ‘fascinante’.
O último post desta série (seguir-se-ão outros) intitula-se Career choices: how museums sometimes make a difference. Apresenta os casos (poucos, é verdade, mas significativos) de pessoas para as quais a visita a um museu despertou o interesse sobre uma temática específica que determinou a escolha de carreira quando se tornaram adultas.
Eu tinha 8 anos quando visitei pela primeira vez o Louvre. Ia seguindo os meus pais pelas salas e corredores, até que chegámos aos pés de uma grande escadaria. E quando levantei os olhos, vi no topo a Vitória de Samotrácia. Fiquei profundamente impressionada, não conseguia tirar os meus olhos dela. Não sei se foi naquele preciso momento, mas foi durante aquela viagem que disse aos meus pais que queria trabalhar num museu (mudei muitas vezes de ideias nos anos que se seguiram…). E sempre que volto ao Louvre, aproximo-me da escadaria esperando e sabendo que Vitória de Samotrácia irá ter o mesmo impacto em mim, como da primeira vez.
Qual é a vossa primeira ou mais forte memória da visita a um museu?
Museum Audience Insight é o blog dos Reach Advisors, uma empresa americana de investigação e estratégia em marketing que trabalha com muitos museus. No início do ano lançaram este inquérito, com o objectivo de recolher dados que pudessem dar respostas a questões como:
- As experiências em museus durante a infância afectam as motivações e as expectativas dos frequentadores adultos dos museus?
- Se alguns tipos de experiências durante a infância são comuns entre os visitantes adultos que mais se envolvem com os museus, os museus hoje poderão oferecer experiências similares às crianças?
- As visitas escolares são cruciais na criação de uma nova geração de frequentadores de museus?
- A curiosidade é importante como motivação?
O inquérito foi lançado através das mailing lists, páginas de Facebook e Twitter de 103 museus em 5 países (EUA, Canadá, Reino Unido, Nova Zelândia, Austrália e Índia), sendo que 97% das pessoas que participaram residiam nos EUA. Foram recebidas mais de 40.000 respostas. A metodologia é explicada aqui e aqui.
Uma das principais linhas do inquérito diz respeito às memórias da infância. Os investigadores procuram, entre outras coisas, perceber quais os factores que tornam a experiência num museu memorável; quais as idades mais impressionáveis; como é que as experiências durante a infância diferem entre os vários segmentos de público. Pediram aos inquiridos para relatarem a sua primeira ou mais forte memória da visita a um museu, para indicarem a idade que tinham na altura e com quem estavam. A seguir, podiam relatar tudo aquilo de que se lembravam da visita.
Em termos gerais, a idade da primeiríssima ou mais forte memória de uma visita a um museu são os 7 anos. Mais de metade dos inquiridos tinha na sua memória a presença da sua mãe. Um pouco menos de metade lembrava-se do seu pai. As visitas escolares são cruciais nos hábitos de visitação dos adultos, sobretudo entre as pessoas cujos pais tinham mais baixas habilitações literárias. As memórias diziam respeito a museus de história e sítios históricos (24%), museus de história natural (21%), museus e centros de ciência (21%), museus de arte (17%).
Nos últimos dois meses, os Reach Advisors têm publicado mais resultados, mais específicos, do inquérito, todos complementados com relatos das pessoas que participaram no mesmo. A 28 de Outubro houve um post totalmente dedicado aos museus de história natural (“When you´re seven, it´s all about the dinos, baby!”). Isto porque a análise dos dados mostrou que as memórias desses museus em particular ficam com as pessoas durante décadas, memórias essas vivas e detalhadas. Os factores determinantes aqui são a escala dos objectos expostos, os dinossauros, os dioramas, mas, surpreendentemente, também as rochas e os minerais. Há também muitas memórias das lojas desses museus.
Seguiu-se um post sobre experiências interactivas (“Hands-on exhibits are very fun!” – Hands-on experiences in childhood memories). Através da análise das respostas, os investigadores concluem que estes são componentes muito importantes das experiências nos museus. No entanto, as memórias das actividades interactivas em si são menos vivas e detalhadas, a não ser que estejam associadas a um objecto específico ou uma exposição.
Um outro elemento que pode marcar profundamente as memórias de uma visita é o edifício em si. No post “A grand and beautiful building with cool things’ to look at” – Architecture in early childhood museums memories” lê-se que em certos casos, mais do que os objectos expostos ou as actividades, são os edifícios que marcam as memórias das pessoas. No entanto, a escala e a grandeza de muitos deles não os torna frios e proibitivos para as crianças, ao contrário do que se poderia esperar. Quase todas as memórias são positivas e certas entre eles dizem respeito a edifícios mais pequenos e modestos.
Nos posts “Museums are awesome!” e “Awesome? Try fascinating!” analisa-se a linguagem utilizada na descrição das memórias. A escala de edifícios e objectos, assim como tudo o que tem brilho, é belo ou exótico, impressiona as crianças e fica na sua memória. Essas experiências são descritas como ‘impressionantes’ (se bem que esta não deve ser a melhor tradução para ‘awesome’, que é algo que ao mesmo tempo impressiona e mete medo). No entanto, quando se trata de experiências que despertaram o interesse num determinado objecto ou o desejo de aprender mais, o adjectivo mais usado é ‘fascinante’.
O último post desta série (seguir-se-ão outros) intitula-se Career choices: how museums sometimes make a difference. Apresenta os casos (poucos, é verdade, mas significativos) de pessoas para as quais a visita a um museu despertou o interesse sobre uma temática específica que determinou a escolha de carreira quando se tornaram adultas.
Eu tinha 8 anos quando visitei pela primeira vez o Louvre. Ia seguindo os meus pais pelas salas e corredores, até que chegámos aos pés de uma grande escadaria. E quando levantei os olhos, vi no topo a Vitória de Samotrácia. Fiquei profundamente impressionada, não conseguia tirar os meus olhos dela. Não sei se foi naquele preciso momento, mas foi durante aquela viagem que disse aos meus pais que queria trabalhar num museu (mudei muitas vezes de ideias nos anos que se seguiram…). E sempre que volto ao Louvre, aproximo-me da escadaria esperando e sabendo que Vitória de Samotrácia irá ter o mesmo impacto em mim, como da primeira vez.
Qual é a vossa primeira ou mais forte memória da visita a um museu?
2 comments:
museu dos coches, 4 anos de idade, excursão da escola da mãe. :)
Museu Nacional de Arte Antiga, 8 anos, o quadro Inferno de autor não identificado.
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