Monday, 4 July 2011

Da liderança - Primeira semana no Kennedy Center


Bololô, por Henrique Oliveira, no National Museum of African Art.
Na teoria, aprendemos que uma instituição atinge os seus objectivos, eficiente e eficazmente, quando toda a equipa conhece, abraça e trabalha no sentido de cumprir a missão. Esta missão, diz a teoria, deve estar escrita; deve explicar quem, o quê e onde; deve ser clara e concisa. Porque a missão é a base para o planeamento estratégico. Parece óbvio. Faz sentido. Mas a verdade é que, até agora, nunca tinha visto esta teoria ser posta em prática, mesmo em instituições pequenas.

Até chegar ao Kennedy Center. Durante a semana que passou ouvimos o Presidente, três Vice-Presidentes [marketing, development (fundraising) e educação], dois Directores (development) e três Managers (marketing). E todos, sem excepção, falam a mesma língua; todos têm conhecimento da missão do Kennedy Center; todos sabem com que objectivos trabalham, qual o papel de cada um, o que é esperado deles. E é óbvio que isto lhes permite planearem melhor as suas acções, estarem mais concentrados naquilo que fazem, tomarem decisões rapidamente e sem grandes hesitações, estarem coordenados. Resultado: uma instituição enorme, que poderia ser caótica, mas que parece funcionar como um relógio. Não resisti em perguntar a Michael Kaiser, Presidente do Kennedy Center, como é que isto se torna possível. Se é ele próprio que explica a missão e objectivos a cada funcionário (o que me parecia improvável) ou se ele fala com os Vice-Presidentes, eles com os Directores, estes com os Managers, etc., passando a palavra até chegar à base da pirâmide (correndo o risco de perder a mensagem no processo). Como é que é possível que toda esta gente fale exactamente a mesma língua? “Conversamos muito”, respondeu-me, “a todos os níveis”.

Seminário com Michael Kaiser (Foto: Consuelo Hidalgo)
As respostas de Michael Kaiser são normalmente simples. Parecem afirmar o óbvio. No entanto, aquilo que ele não disse, mas que é igualmente óbvio para mim, é que a liderança faz toda a diferença. Quando quem está no topo sabe o que quer, está concentrado e determinado, passa das palavras para as acções, não se desvia, junta à sua volta pessoas com experiência e capacidade (aliás, procura os melhores), promove o diálogo e a reflexão e não tem medo de tomar decisões (mesmo as difíceis) e de assumir responsabilidade, então sim, juntando a estes atributos muita conversa, a todos os níveis, podemos ver uma equipa a funcionar sabendo o que faz, como e porquê. E podemos ver e sentir os resultados do seu trabalho. Michael Kaiser é, sem dúvida alguma, um líder. Tem sido um privilégio ver esta equipa a trabalhar e nas próximas semanas teremos a oportunidade de a acompanhar de mais perto.

O Summer International Fellowship Program junta este ano 36 profissionais de 32 países. O dia no Kennedy Center começa e acaba com a apresentação de projectos em que os fellows estão envolvidos. Este é um dos melhores momentos do dia. Cada pessoa faz uma breve apresentação da missão e objectivos do projecto/instituição, partilha os desafios que enfrenta presentemente e a seguir discutimo-los em grupo. Esta semana tivemos a oportunidade de conhecer um pouco melhor os seguintes projectos:

Esplanade (Singapura)
Dejvické Theatre (República Checa)

Na semana que passou tivemos também a oportunidade de assistir ao concerto de apresentação da temporada 2011-2012 da National Symphony Orchestra, residente no Kennedy Center. Um concerto com entrada livre, de aproximadamente uma hora, que tem como objectivo apresentar alguns dos destaques da próxima temporada para dar a conhecer o trabalho da orquestra e incentivar a compra antecipada de assinaturas. Excertos de peças muito cuidadosamente escolhidos, apresentados brevemente e com muito entusiasmo, paixão, sensibilidade e sentido de humor pelo maestro Ankush Kumar Bahl. Uma pessoa fica a sentir que não pode mesmo perder o que aí vem. Ontem, o público pôde assistir ao ensaio geral da National Symphony Orchestra para o concerto de celebração do Dia da Independência, que tem hoje lugar nos jardins do Capitólio.

Fora do Kennedy Centre, tive finalmente a oportunidade de visitar o National Museum of the American Indian e de participar numa visita guiada por uma funcionária do serviço educativo, originária da nação Lakota, que tem o título de cultural interpreter. Esta experiência cultural concluiu-se no restaurante do museu, o Mitsitam Native Foods Café, que apresenta uma vasta gama de pratos índios de todo o continente americano (‘mitsitam’ significa ‘vamos comer’ e o livro de receitas está disponível no café e na loja do museu).

Cartaz da exposição Indivisible no National Museum of American Indian.
Foi-me também altamente recomendado visitar a exposição Artists in Dialogue no National Museum of African Art, que junta o artista sul-africano Sandile Zulu e o brasileiro Henrique Oliveira. Esta é a segunda de uma série de exposições em que o museu convida dois artistas a criar novas obras em diálogo um com o outro. Neste mesmo museu visitei ainda a exposição temporária African Mosaic: a decade of collecting, que apresenta peças que foram adquiridas ou doadas ao museu na última década. Grande parte do público presente na altura da minha visita estava reunido na zona onde se podia ver o vídeo do artista senegalês Ousmane Sow a criar as suas esculturas.

Hoje celebraremos todos o Dia da Independência numa festa especial, organizada no terraço do Kennedy Center. É um privilégio poder estar aqui para o celebrar com os Americanos e com colegas que vêm de todo o mundo, alguns dos quais sonham que este dia não tarde a chegar também para eles.

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