Museu do Brinquedo, Sintra |
Há um ano e meio, a minha colega australiana Rebecca Lamoin
escreveu neste blog sobre os esforços do Queensland Performing Arts Centre para perceber qual o valor
público da instituição. Foram colocadas questões cruciais: Qual é a coisa mais
importante que a instituição dá à sua comunidade? Porque é que a
comunidade gosta da instituição? De que é que as pessoas na cidade
sentiriam falta se a instituição deixasse de existir?
Há uma série de instituições culturais em vários países que coleccionam
dados (além de quantitativos) que as podem ajudar a definir e a provar a sua
importância na vida das pessoas. Porquê? Porque poderá não ser óbvio para
todos, sobretudo para os contribuintes e para os decisores políticos. Mas faria
sentido recolher esta informação nem que fosse apenas um exercício mental interno. Vale a pena fazer uma
pausa de vez em quando e avaliar os factores de sucesso dos nossos projectos e
a relevância da nossa oferta para as pessoas que procuramos ou que deveríamos
estar a servir.
Estes pensamentos voltam a surgir em face da notícia do eventual encerramento do Museu do Brinquedo em Sintra. Parece que o
museu já não é sustentável, devido aos cortes do Estado e a um significativo
decréscimo das visitas escolares e de famílias. Os profissionais da cultura
foram rápidos a reagir: “É uma vergonha”; É triste”; “É uma tragédia”; “É uma
miséria”; “O meu museu favorito”. E de todas as vezes que lia uma afirmação
destas, pensava: “Porquê?”. Porque é que é uma vergonha? Porque é que é triste?
Porque é que é uma tragédia? Porque é que este é o museu favorito de uma
pessoa? O que está por trás deste género de afirmações? Qual a sua substância?
Quem sabe? O museu e a fundação que o gere saberão?
Mas estas não são as únicas questões na minha cabeça. Gostaria também de saber o que é que os visitantes normais – não os profissionais da
cultura – pensam sobre o eventual encerramento do museu. Quantas vezes o
visitaram? Porque é que o valorizam? De que é que vão sentir falta se acabar
por fechar? E para além dos visitantes do museu, o que é que a população de
Sintra pensa e sente relativamente ao encerramento de um museu no centro da
vila? Está preocupada? Está chateada? Está preparada para
lutar por ele e exigir apoio ao município e ao Estado?
Tenho ainda algumas questões relativamente à gestão do museu. Há quanto
tempo que a situação tem estado a piorar? Terá sido tomado em consideração
pela Fundação que gere o museu o contexto – algo hostil - político e económico
em que está a operar? Que medidas foram tomadas até agora? Qual o seu plano B?
Não encontrei até agora respostas a estas questões em fóruns públicos.
Sei apenas que existe uma petição pública numa plataforma
online, a qual, na altura que escrevo estas linhas, tem aproximadamente 2600
assinaturas. O texto da petição concentra-se na colecção e cita apenas o
coleccionador, para quem, como é natural, os objectos têm grande importância.
Na verdade, trata-se de uma afirmação na primeira pessoa do singular. A foto
que ilustra a petição mostra um museu vazio, com uma série de objectos atrás do
vidro a chegar até ao tecto. Fiquei a pensar como é que alguém pode ter pensado
que esta abordagem – citar exclusivamente
o coleccionador e mostrar um museu vazio - seria a abordagem certa num momento tão difícil. Uma abordagem que
possa convencer os que conhecem e, sobretudo, os que não conhecem o museu do
seu valor e importância.
O Museu do Brinquedo não é um caso isolado,
infelizmente, num país cujo governo não considera a cultura como sendo uma
prioridade. Há um par de anos, o caso do Museu da Cortiça em Silves foi gerido
da mesma forma. Um museu vencedor do Prémio Micheletti do European Museum Forum
(um prémio para museus inovadores na área da indústria, da ciência e da
técnica), acabou por fechar e não sei qual o destino da sua colecção. Outros
projectos, também no sector das artes performativas, estão a lutar pela
sobrevivência ou a desaparecer mesmo. Suponho que a minha verdadeira questão é
“O que é que os gestores culturais deste país estão a fazer?”. Deve haver mais
do que afirmações como “Que vergonha” e “Que pena”, deve haver mais do que
petições. Isto simplesmente não é suficiente, as nossas instituições merecem
mais de nós. As pessoas deste país merecem mais de nós.
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