A semana passada li na revista Intelligent Life um artigo da série Authors on Museums (Escritores sobre Museus). Tratava-se de um texto do escritor mexicano Carlos Fuentes sobre o Museu de Antropologia de Xalapa no México, intitulado Moving in Time and Space. Começava assim:
“Sempre tentei visitar os museus que gosto como se fosse a primeira vez. Às vezes a tentativa tem sucesso, outras vezes não. Quando o museu revisitado me faz sentir como se estivesse apenas a repetir uma experiência, fujo para o café mais próximo. Os museus, como os amantes, podem perder o seu charme. Mas a próxima vez pode sempre ser a primeira vez.”
Achei a introdução maravilhosa, esta forma de se falar da relação com um museu. Li o resto do artigo, um lindo relato sobre as terras por onde o escritor passou até chegar a Xalapa, na companhia de dois escritores sul-americanos, e depois sobre o reencontro com o museu. A seguir, não resisti e li os restantes textos da série Authors on Museums, que se iniciou em Setembro de 2008.
A escritora e jornalista britânica Allison Pearson faz a seguinte introdução no seu artigo sobre o Museu Rodin, intitulado Rodin´s sonnets in stone:
“Nunca se esquece o primeiro beijo. O meu aconteceu numa viagem com a escola a Paris há mais de 30 anos e foi ou uma feliz coincidência ou uma piada divina que, nessa mesma Páscoa, encontrei um outro Beijo inesquecível. (…) O outro Beijo – por Auguste Rodin – deu início a uma ligação amorosa com um pequeno museu na Margem Esquerda no qual “Le Baiser” está entre as obras sublimes do escultor e várias peças bonitas criadas pela sua amante, Camille Claudel. Os beijos dados pela arte, ao contrário dos dos homens, ficam cravados na pedra. Foi no Museu Rodin que me apercebi pela primeira vez de que é que a Arte era capaz.”
Outro texto interessante foi o do escritor britânico William Boyd sobre o seu museu favorito, o Leopold Museum em Viena, intitulado William Boyd´s debt to Rudolph Lepold:
“...Isto explica porque é que o Lepolod Museum é a minha galeria de arte favorita: não só detém a colecção mais notável do mundo de obras de Schiele – com muitas obras primas nas suas paredes – como também é, acidentalmente e totalmente inadvertidamente, um depósito das minhas próprias ambições juvenis de viver a vida de um artista. Ver as obras de Schiele funcionou para mim como um infalível gatilho proustiano, providenciando um rápido rebobinar para a minha adolescência e os seus sonhos fervorosos. Sempre que estou em Viena visito-o, nem que seja por dez minutos, e consegue sempre extasiar-me, deliciar-me, e, porque a apresentação da colecção de Rudolf Leopold está sempre a mudar subtilmente, há sempre uma nova revelação”.
Que relatos apaixonantes, envolventes, profundamente humanos da relação dessas pessoas com os museus. Como é bonito ver a forma como estes nos podem marcar para sempre e como a eles voltamos procurando abrigo, conforto, sentimentos passados mas não esquecidos, surpresas, novas descobertas. Um dos aumentos mais significativos do número de visitantes nos museus de Nova Iorque foi registado a seguir ao 11 de Setembro. E não se tratava de turistas.
Mas, voltando aos escritores e aos museus, ao ler os artigos da revista Intelligent Life lembrei-me de um projecto da National Portrait Gallery de Londres. Em Março, tinha lido no jornal Guardian que a galeria tinha convidado sete escritores conhecidos a imaginar as vidas escondidas nos retratos de pessoas desconhecidas que faziam parte da colecção (ler o artigo aqui). Durante mais de 50 anos, esses retratos do século XVI e XVII encontravam-se nas reservas do museu e não eram vistos por ninguém. A iniciativa deu origem à uma exposição intitulada Imagined Lives: Mystery Portraits. Alguns desses retratos podem ser vistos aqui. Entre os autores convidados, encontravam-se John Banville, vencedor do prémio Booker, a popular Joanna Trollope e Tracy Chevallier, autora do livro “Rapariga com brinco de pérola”.
Confesso, gosto de museus com imaginação e com ideias originais. Que pensam constantemente as suas colecções e encontram novos ‘pretextos’ para as expor novamente, para as agrupar de uma maneira diferente, à procura de novas narrativas. Narrativas essas que não têm que ser necessariamente as dos conservadores.
Os nomes dos escritores convidados pela National Portrait Gallery devem ter ajudado bastante na promoção da exposição. No entanto, na altura que li a notícia lembro-me de ter pensado que esta poderia ter sido uma excelente oportunidade para envolver as pessoas. Algumas das legendas na exposição permanente da Tate Britain são escritas pelo próprio público. Trazem um olhar diferente, mas igualmente interessante e, às vezes, surpreendente sobre as obras expostas. Pensei, então, que, no caso dos retratos, a National Portrait Gallery poderia ter promovido um concurso de escrita aberto ao público em geral. Escritores (ainda) anónimos sobre a vida dos retratados anónimos. À descoberta de novos talentos.
“Sempre tentei visitar os museus que gosto como se fosse a primeira vez. Às vezes a tentativa tem sucesso, outras vezes não. Quando o museu revisitado me faz sentir como se estivesse apenas a repetir uma experiência, fujo para o café mais próximo. Os museus, como os amantes, podem perder o seu charme. Mas a próxima vez pode sempre ser a primeira vez.”
Achei a introdução maravilhosa, esta forma de se falar da relação com um museu. Li o resto do artigo, um lindo relato sobre as terras por onde o escritor passou até chegar a Xalapa, na companhia de dois escritores sul-americanos, e depois sobre o reencontro com o museu. A seguir, não resisti e li os restantes textos da série Authors on Museums, que se iniciou em Setembro de 2008.
A escritora e jornalista britânica Allison Pearson faz a seguinte introdução no seu artigo sobre o Museu Rodin, intitulado Rodin´s sonnets in stone:
“Nunca se esquece o primeiro beijo. O meu aconteceu numa viagem com a escola a Paris há mais de 30 anos e foi ou uma feliz coincidência ou uma piada divina que, nessa mesma Páscoa, encontrei um outro Beijo inesquecível. (…) O outro Beijo – por Auguste Rodin – deu início a uma ligação amorosa com um pequeno museu na Margem Esquerda no qual “Le Baiser” está entre as obras sublimes do escultor e várias peças bonitas criadas pela sua amante, Camille Claudel. Os beijos dados pela arte, ao contrário dos dos homens, ficam cravados na pedra. Foi no Museu Rodin que me apercebi pela primeira vez de que é que a Arte era capaz.”
Outro texto interessante foi o do escritor britânico William Boyd sobre o seu museu favorito, o Leopold Museum em Viena, intitulado William Boyd´s debt to Rudolph Lepold:
“...Isto explica porque é que o Lepolod Museum é a minha galeria de arte favorita: não só detém a colecção mais notável do mundo de obras de Schiele – com muitas obras primas nas suas paredes – como também é, acidentalmente e totalmente inadvertidamente, um depósito das minhas próprias ambições juvenis de viver a vida de um artista. Ver as obras de Schiele funcionou para mim como um infalível gatilho proustiano, providenciando um rápido rebobinar para a minha adolescência e os seus sonhos fervorosos. Sempre que estou em Viena visito-o, nem que seja por dez minutos, e consegue sempre extasiar-me, deliciar-me, e, porque a apresentação da colecção de Rudolf Leopold está sempre a mudar subtilmente, há sempre uma nova revelação”.
Que relatos apaixonantes, envolventes, profundamente humanos da relação dessas pessoas com os museus. Como é bonito ver a forma como estes nos podem marcar para sempre e como a eles voltamos procurando abrigo, conforto, sentimentos passados mas não esquecidos, surpresas, novas descobertas. Um dos aumentos mais significativos do número de visitantes nos museus de Nova Iorque foi registado a seguir ao 11 de Setembro. E não se tratava de turistas.
Mas, voltando aos escritores e aos museus, ao ler os artigos da revista Intelligent Life lembrei-me de um projecto da National Portrait Gallery de Londres. Em Março, tinha lido no jornal Guardian que a galeria tinha convidado sete escritores conhecidos a imaginar as vidas escondidas nos retratos de pessoas desconhecidas que faziam parte da colecção (ler o artigo aqui). Durante mais de 50 anos, esses retratos do século XVI e XVII encontravam-se nas reservas do museu e não eram vistos por ninguém. A iniciativa deu origem à uma exposição intitulada Imagined Lives: Mystery Portraits. Alguns desses retratos podem ser vistos aqui. Entre os autores convidados, encontravam-se John Banville, vencedor do prémio Booker, a popular Joanna Trollope e Tracy Chevallier, autora do livro “Rapariga com brinco de pérola”.
Confesso, gosto de museus com imaginação e com ideias originais. Que pensam constantemente as suas colecções e encontram novos ‘pretextos’ para as expor novamente, para as agrupar de uma maneira diferente, à procura de novas narrativas. Narrativas essas que não têm que ser necessariamente as dos conservadores.
Os nomes dos escritores convidados pela National Portrait Gallery devem ter ajudado bastante na promoção da exposição. No entanto, na altura que li a notícia lembro-me de ter pensado que esta poderia ter sido uma excelente oportunidade para envolver as pessoas. Algumas das legendas na exposição permanente da Tate Britain são escritas pelo próprio público. Trazem um olhar diferente, mas igualmente interessante e, às vezes, surpreendente sobre as obras expostas. Pensei, então, que, no caso dos retratos, a National Portrait Gallery poderia ter promovido um concurso de escrita aberto ao público em geral. Escritores (ainda) anónimos sobre a vida dos retratados anónimos. À descoberta de novos talentos.
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