Não há nada mais inspirador do que ouvir a Karen O’Neill
falar dos programas para o envolvimento da comunidade do Laurence Batley
Theatre, onde é a Gestora. Sobretudo porque sentimos o quanto as intenções são
focadas, sérias, honestas e sinceras. Tudo isto é muito mais que palavras;
estas são as acções concretas de uma instituição cultural que não tem dúvidas
quanto ao seu papel na comunidade em que se insere. Tudo isto é muito mais que
defender o acesso e a construção de relações; é, realmente, fazê-lo acontecer.
É a riqueza destas experiência que a Karen partilha connosco. mv
Todos a sentimos, aquela sensação estranha no estômago,
uma mistura de excitação e nervosismo. A sensação que algo novo, algo grande
está prestes a começar. É assim mesmo que nos sentimos neste momento no
Laurence Batley Theatre (LBT) porque
encontrámos a nossa cara metade. Sim, criámos uma parceria com uma comunidade
nova!
Para uma instituição cultural, envolver-se com uma
comunidade nova é como começar um novo romance. As fases são as mesmas:
conhecer um ao outro, o maravilhoso período de lua-de-mel, crescer juntos e,
claro, a inevitável ruptura.
Conhecer o
outro
No LBT temos trabalhado nos últimos 5 anos no
desenvolvimento de um programa e estratégia de envolvimento das comunidades
que, tal como um verdadeiro gentleman, coloca as comunidades no centro,
procurando encorajá-las a liderar e inspirar o seu trabalho. Trabalhamos com
elas no sentido de criar caminhos através dos quais as pessoas possam explorar
a sua própria criatividade e de as equipar para navegarem as artes. Aprendemos
o quanto é importante as comunidades sentirem-se confiantes em relação ao seu envolvimento.
Temos que ser pacientes e compreensivos, permitindo-lhes andar ao seu próprio
ritmo. Damos resposta às vontades e desejos da comunidade com a qual criamos
uma parceria, passando algum tempo a conversar e a descobrir em conjunto. O que
se aprende durante esse tempo é vital para formar o envolvimento e construir
uma boa base sobre a qual a relação possa florescer.
Iniciação ao teatro para adultos. (Foto: Peter Boyd) |
Lua-de-mel
Sem dúvida, o melhor momento em qualquer relação, quando
as coisas andam lindamente e, francamente, não podemos viver um sem o outro. O
LBT oferece neste momento uma série de workshops, programas e projectos em
resposta a tudo o que aprendemos sobre essa comunidade, as suas necessidades,
pontos fortes, esperanças e pontos fracos. Através de um gestor de projecto que
se dedica a esta parceria, o LBT procura criar fortes ligações com a comunidade
e usar a criatividade como uma ferramenta para a mudança. Através de uma série
de iniciativas, desde workshops de jogos criativos para jovens pais a projectos
de teatro intergeracionais, o LBT usa a criatividade para gerar aspirações e
promover a coesão.
The Courtyard Circus - evento de celebração produzido por jovens da comunidade (Foto: LBT) |
Crescer
juntos
Quando a novidade se desgasta, é importante que ambas as
partes dedicam algum tempo e energia para olharem para o futuro e enfrentar os
obstáculos que possam prejudicar a relação. Como muitos especialistas em
relacionamentos vos dirão, este pode ser o momento de avanço ou ruptura. Repetidamente,
as instituições culturais caem de pára-quedas nas comunidades e não pensam para
além da oferta inicial. É vital desenvolver um caminho entre a participação e a
performance.
No que diz respeito a um envolvimento sustentável, as
instituições culturais devem trabalhar com as comunidades no sentido de
identificarem e ultrapassarem as barreiras existentes. Da minha experiência em
trabalhar com comunidades, sei que essas barreiras podem muitas vezes ser
complexas e emotivas, podem estar relacionadas com o transporte, a confiança, o
acesso, questões económicas, etc., etc. Apenas ultrapassando estas barreiras
podem as comunidades passar de um compromisso de envolvimento a curto prazo
(actividades gratuitas na sua área) para um compromisso de envolvimento
(comprar bilhetes para um espectáculo) ou para um envolvimento alargado
(participar num programa de teatro para jovens). É importante que as
instituições culturais trabalhem com as suas comunidades no sentido de passar
por estas etapas de envolvimento. Apenas porque alguém vem a um workshop de
teatro no seu centro local não significa que automaticamente irá adquirir
bilhetes para a temporada de teatro no seu teatro local. No LBT procuramos
ultrapassar as barreiras usando várias tácticas, desde idas organizadas ao
teatro, visitas guiadas e conversas com os funcionários do teatro, juntando
diferentes grupos de teatro de jovens da comunidade, pensando em políticas de
preços estruturadas, propondo visitas aos bastidores, etc. A nossa experiência
ensinou-nos que esta etapa no envolvimento da comunidade é um factor chave para
termos sucesso. A compreensão do papel importante que o envolvimento da
comunidade tem no desenvolvimento de públicos ajuda o LBT a desenvolver
públicos para hoje e para o futuro.
A separação é
difícil
Todas as coisas boas têm um fim e, infelizmente, chega
sempre o momento em que temos que nos afastar. O LBT compromete-se sempre a
desenvolver um projecto de um mínimo de 3 anos com qualquer comunidade.
Poderiam perguntar porque é que não ficamos mais tempo, mas a verdade é que as
necessidades são muitas e os recursos poucos. Acreditamos que concentrando o
nosso trabalho numa comunidade durante um período de tempo sustentável traz os
melhores resultados para a comunidade envolvida e para o LBT. O LBT pensa na
sustentabilidade de qualquer programa desde o primeiro momento, procurando
promover projectos de capacitação paralelamente ao programa criativo.
Entendemos que em parte o nosso papel é equipar as comunidades com capacidades
e ferramentas que irão precisar para sustentar a prática criativa depois de nos
irmos embora. Trabalhamos com a comunidade no desenvolvimento de uma estratégia
de saída adaptada às suas ambições e planos para o futuro.
Podemos ainda
ser amigos?
Claro que sim! Uma função fundamental de qualquer
programa de envolvimento da comunidade é que serve como ferramenta para o
desenvolvimento de públicos. O envolvimento da comunidade constrói um público
forte e activo, extremamente envolvido com a instituição e que compreende os
seus valores e também o seu valor como organização. Através das ligações
profundas criadas com as comunidades através do envolvimento sustentável, o LBT
tem criado públicos que estão apaixonados pelas artes e que compreendem o valor
da prática criativa; um público que defende o LBT em fóruns e debates onde nós
próprios nunca teríamos acesso.
Perante os cortes no financiamento, as autarquias começam
a reduzir a sua oferta. É por isso vital que as instituições culturais abracem
as suas comunidades e criem parcerias com elas. Através de programas de
envolvimento sustentados e bem pensados, as instituições culturais podem criar
uma base de públicos entusiasta e envolvida, já convencida que as artes e a
cultura não são um luxo, mas, como as relações, uma parte essencial da vida.
Karen O’Neill é a Gestora do Lawrence
Batley Theatre (LBT) em
Huddersfield West Yorkshire no Reino Unido. O LBT apresenta os melhores espectáculos ao
vivo e trabalha de perto com a comunidade local. A Karen é responsável pelo
desenvolvimento estratégico do teatro, desde garantir o futuro financeiro da
organização através da angariação de fundos e criação de receitas à criação de
um espaço onde a criatividade possa florescer. Começou a sua carreira como
gestora de teatros comunitários, trabalhando tanto em projectos de envolvimento
da comunidade como na estabilidade financeira das organizações. A seguir passou
para as instituições de grande escala no sector do teatro comercial. Neste momento, é fellow no DeVos
Institute of Arts Management no Kennedy Centre em Washington D.C., onde se
junta a gestores culturais de todo o mundo que procuram aprender, criar,
capacitar-se e inspirar-se mutuamente.
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