Foto: Thomas Struth |
A
primeira vez que levei o meu filho a Paris, ele tinha 7 anos. Tínhamos
combinado que não íamos visitar mais que um museu por dia (as memórias do meu
irmão de 5 anos a fazer birra e a queixar-se constantemente que estava cansado
ou que tinha fome, até declarar aos nossos pais “Não mais museus!”, fizeram de
mim uma mãe mais ‘calculista’…). Quando chegou o dia de irmos ao Louvre, o
acordo tornou-se ainda mais específico: íamos ficar uma hora e íamos ver três
peças gregas que eu tinha escolhido para ele e a Mona Lisa, escolha dele, uma
vez que tinham falado nela na escola.
Estava
a falar dessa visita durante uma aula na semana passada, quando estávamos a
discutir se é uma coisa boa ou má que algumas pessoas queiram só dar uma volta
num museu. E estarão todas as pessoas que aparentemente estão a dar uma volta a
fazer precisamente isso? Se alguém nos tivesse observado no Louvre, teria visto
uma mãe a apressar o seu filho de uma sala para a outra, sem prestar atenção à
riqueza e à beleza à sua volta. A verdade é que tínhamos um plano, um plano
muito pessoal e específico. E quando saímos do museu, estávamos contentes
porque tínhamos feito o que tínhamos planeado.
Esta
é uma questão recorrente neste blog:
a qualidade da visita ao museu, tal como a desejam os curadores e as próprias
pessoas. Quando o John Holden definiu os três tipos de guardião no seu ensaio Culture and Class, escreveu sobre os snobs culturais, os neo-mandarins e os
neo-cosmopolitas. Definiu os neo-mandarins como aqueles profissionais da
cultura que defendem o acesso, mas que querem ser eles a decidir a que é que
vale a pena ter acesso. Penso que a maioria de nós pertence a essa categoria.
Desejamos o melhor para os visitantes, mas não estamos preparados para admitir
que os visitantes também sabem o que é melhor para eles. Queremos impor uma
agenda, mas os visitantes têm a sua própria, uma agenda que nem sempre aceitamos
como válida ou significativa, a não ser que corresponda de alguma forma aos
nossos próprios padrões.
Desejar
o melhor para os visitantes e fazer o nosso melhor para o fornecer é a razão
porque estamos aqui. Mas há duas maneiras diferentes de o fazer e de o
exprimir. Existe a versão neo-mandarim e a versão neo-cosmopolita. Foi no
decorrer da aula que referi que me ocorreram dois exemplos concretos.
No
início deste ano, pouco depois de assumir a posição de subdirector do Museu
Reina Sofia, João Fernandes foi entrevistado pelo jornal espanhol ABC. Houve uma afirmação que
chamou a minha atenção: “Queremos que o espectador seja mais lúcido e crítico
quando se confronta com a obra de arte, que possa pensar e que não sirva apenas
para dizer que esteve lá.”
Percebi,
claro, o que quis dizer, mas não gostei da forma como o disse. Não gostei do
uso das expressões “queremos que” e “espectador”, senti o desejo do
neo-mandarim de ditar, de impor.
Dois
meses depois, estava a ler Civilizing the
Museum de Elaine Heumann Gurian. E encontrei isto: “ Não somos mais pregadores
para os não-iniciados; estamos unidos como parceiros com os nossos públicos e
as suas famílias. Devemos ajudar o nosso público, que acredita e confia em nós
de uma forma comovente, a tornar-se mais céptico e exigente.”
Parece-me
que o desejo é o mesmo expresso por João Fernandes. As palavras, e
eventualmente a forma de fazer, são bastante diferentes. Heumann Gurian fala de
uma parceria; assume o papel do facilitador e descarta aquele do pregador;
sente a responsabilidade que advém da confiança depositada pelas pessoas nos
profissionais dos museus.
No
que diz respeito à relação entre museus e pessoas, não é como se existisse uma
lista de controlo e que os visitantes tenham que fazer e aprender uma série de
coisas antes que a sua visita possa ser validada por uma autoridade superior.
Mesmo quando os curadores tentam fazer isso, não têm sucesso, simplesmente
mantém muitas pessoas afastadas porque não se sentem confortáveis e bem-vindas.
O museu é um espaço onde as pessoas vêm para aprender, para se inspirarem, para
serem surpreendidas, para serem tocadas, para se divertirem. O pessoal do museu
trabalha para garantir as condições para que isto aconteça. Pode ser que tudo isto aconteça de uma vez ou em parte
ou que não aconteça de todo e que não aconteça da forma como tinha sido
planeado pelo museu. No entanto, penso que a avaliação final só poderá ser
feita envolvendo o próprio visitante e considerando igualmente as suas
necessidades e expectativas e não apenas aquelas do curador. O museu é um espaço
partilhado.
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