“O que é qualidade num teatro nacional?” foi o título de um artigo de opinião de Christoph Dammann, ex-director artístico do Teatro São Carlos, publicado no Público no dia 3 de Maio. Achei o artigo muito interessante. Por um lado, porque Dammann apresentava uma série de indicadores que podem servir para avaliar o seu desempenho à frente do teatro nacional de ópera nos últimos três anos. Entre eles, o valor investido pelo estado em cada espectador, algo raramente discutido entre nós e por isso também raramente considerado como um indicador de desempenho nas avaliações que fazemos. Mas também, o aumento no número de espectadores, as actuações de cantores portugueses, o número de co-produções com outros países. Por outro lado, porque nesse artigo Dammann levantava a questão dos objectivos, que devem ser traçados pela tutela juntamente com os directores dos equipamentos culturais. “O proprietário do Teatro – o Estado – tem de discutir as seguintes questões com a direcção: quantas produções deviam ser apresentadas numa temporada, com quantas récitas, com que custos para o Estado por cada bilhete vendido? Quantos espectáculos, concertos, ensaios deviam ser feitos por cada elemento da orquestra e do coro?”. Os números apresentados pelo ex-director artístico do São Carlos parecem válidos. Falta saber o que é que lhe tinha sido pedido pela tutela aquando do convite para dirigir o teatro. Na verdade, só assim saberemos se conseguiu cumprir ou não. Antes de chegarmos à avaliação, devemos saber quais os objectivos iniciais.

Há uns meses atrás, soube do caso de um director de museu que foi de repente confrontado com um aviso da sua tutela de que o número de visitantes estava aquém das expectativas. O que é que se faz quando se é surpreendido com uma aviso desses? Fácil: aceita-se mais marcações de escolas e os números melhoram rapidamente. Mas a qualidade da visita será a mesma? O serviço educativo irá receber com a mesma eficiência e atenção os numerosos alunos?
Não é difícil arranjar números quando necessário. No entanto, se a questão da avaliação é para ser levada a sério, é óbvio que para haver avaliação é preciso haver objectivos. Objectivos esses que deverão ser discutidos pela tutela e pelos directores das várias instituições, assumidos por ambas as partes e, a seguir, comunicados às equipas. Desta forma, fica toda a gente esclarecida sobre os fins a que se pretende chegar e o papel de cada um neste esforço que se quer colectivo. O passo seguinte será definir os indicadores de desempenho para a avaliação final. E assim, poderemos dizer que estamos todos a falar a mesma língua.
Existem dois documentos muito úteis para a reflexão sobre esta temática, ambos publicados pelo Department for Culture, Media and Sports (DCMS, o equivalente do Ministério da Cultura no Reino Unido). O primeiro data de 2006 e intitula-se Understanding the Future: Priorities for England´s Museums (disponível aqui) O segundo é o Balancing the Scorecard: a review of DCMS Performance Indicator Framework (disponível aqui). Um outro elemento interessante é que no Reino Unido existem acordos de financiamento entre o Estado e, por exemplo, os Museus Nacionais, disponíveis no site do DCMS (ver como exemplo o do British Museum) Neste documento, ficam claramente definidos os objectivos traçados pelo museu para o triénio referente ao acordo de financiamento e a forma como se propõe monitorizar o seu desempenho em relação a esses objectivos. E estão disponíveis, para quem quiser consultá-los.

Há uns meses atrás, soube do caso de um director de museu que foi de repente confrontado com um aviso da sua tutela de que o número de visitantes estava aquém das expectativas. O que é que se faz quando se é surpreendido com uma aviso desses? Fácil: aceita-se mais marcações de escolas e os números melhoram rapidamente. Mas a qualidade da visita será a mesma? O serviço educativo irá receber com a mesma eficiência e atenção os numerosos alunos?
Não é difícil arranjar números quando necessário. No entanto, se a questão da avaliação é para ser levada a sério, é óbvio que para haver avaliação é preciso haver objectivos. Objectivos esses que deverão ser discutidos pela tutela e pelos directores das várias instituições, assumidos por ambas as partes e, a seguir, comunicados às equipas. Desta forma, fica toda a gente esclarecida sobre os fins a que se pretende chegar e o papel de cada um neste esforço que se quer colectivo. O passo seguinte será definir os indicadores de desempenho para a avaliação final. E assim, poderemos dizer que estamos todos a falar a mesma língua.
Existem dois documentos muito úteis para a reflexão sobre esta temática, ambos publicados pelo Department for Culture, Media and Sports (DCMS, o equivalente do Ministério da Cultura no Reino Unido). O primeiro data de 2006 e intitula-se Understanding the Future: Priorities for England´s Museums (disponível aqui) O segundo é o Balancing the Scorecard: a review of DCMS Performance Indicator Framework (disponível aqui). Um outro elemento interessante é que no Reino Unido existem acordos de financiamento entre o Estado e, por exemplo, os Museus Nacionais, disponíveis no site do DCMS (ver como exemplo o do British Museum) Neste documento, ficam claramente definidos os objectivos traçados pelo museu para o triénio referente ao acordo de financiamento e a forma como se propõe monitorizar o seu desempenho em relação a esses objectivos. E estão disponíveis, para quem quiser consultá-los.
1 comment:
O meio cultural (e não só) português é totalmente avesso a avaliações, objectivos e números, em geral. Sente-os quase como uma afronta à sua 'dignidade' humanístico-criativa. Por ventura, será esta a razão da ausência de comentários ao actual post e ao anterior.
O que a Maria propõe e que parece óbvio, de tão sensato e pouco inovador que é, deveria ser priotário para a tutela e não apenas a da cultura. É sintomático o facto de só muito recentemente a função pública ter passado a ser avaliada de acordo com objectivos claros(?), fixados pela chefia. A resistência mostra-se estrutural, na sociedade portuguesa, embora a realidade esteja a mudar.
Por enquanto, a 'máquina' continua cheia de vícios. Sobretudo, não está com vontade de se comprometer. E como é comprometedor, estabelecer objectivos!
Post a Comment