Mais uma vez peço de empréstimo o Musing on Culture. Podia criar o meu blogue, podia, claro que podia, mas não era a mesma coisa... e, na verdade, estaria apenas a colaborar com a pulverização das opiniões e dos debates do sector que é, acredito, contraproducente. Assim, mantenhamo-nos concentrados aqui e enquanto a Maria Vlachou o estimular.
Na coluna de opinião de Jorge Marmelo, no passado dia 15 de Fevereiro no P2 do Público, reflectia-se sobre a lusofonia e, a certa altura, atribuía-se o uso da expressão na cultura, e de forma irónica, aos “marketeiros da cultura”. A mim, ‘marketeira da cultura’ por vocação, escolha e formação, a referência tocou-me num ponto sensível, melhor dizendo, em dois; ambos relacionados com as vozes do sector e com quem faz o sector.
Ora, comecemos pelo marketing e pelo que fazem os ‘marketeiros culturais’ ou não. Correndo o risco de soar defensiva, começo por dizer que o marketing não é bom, nem mau. O marketing é só um instrumento, uma ferramenta de gestão, que, se bem utilizada, cria valor para ambas as partes, valor esse essencialmente decorrente de acções que promovem a eficiência, a eficácia e a relação duradoura com os consumidores (públicos, quando no contexto cultural). Houve um tempo em que o marketing era ‘duro’, daí a imagem dos senhores a venderem aspiradores a quem não tinha electricidade; depois, veio o tempo em que se procuravam as casas com electricidade para se venderem aspiradores; agora, bate-se à porta, pede-se para entrar, pergunta-se o que se quer, vê-se o que se tem e começamos a falar com o olhar posto no longo prazo. Chamamos-lhe ‘marketing relacional’. Assim contado até parece bonito e talvez nem se acredite, mas como outras expressões blockbuster, nomeadamente a lusofonia, o marketing entrou no léxico cultural e se há muitos marketeiros culturais, há pouca gente a fazer marketing cultural.
Mais, o marketing não começa do zero nem inventa nada, sobretudo na cultura. Tem de partir de uma visão, de uma missão e operacionalizá-las, fazê-las acontecer. Pode usar a lusofonia, mas esta só deixará de ser ‘cliché de marketeiro’ se apoiada na acção e no mind-set efectivos da organização ou agente culturais que a querem efectivar.
A referência aos marketeiros conduz-me até à segunda questão, questão essa que ando a remoer desde há algum tempo: quem faz o sector e quem, no sector cultural, tem voz.
Começo por quem tem voz: por razões que relaciono com a tradição e com a prática, mas sobretudo com o imaginário e a simbólica do sector, são, grosso modo, os criadores quem fala e são os criadores quem é ouvido (excepção feita para alguns pensadores e programadores de notoriedade firmada e espaço de expressão conquistado*). São os criadores que representam o sector cultural e veiculam as suas preocupações e se posicionam na construção de um discurso público sobre o ‘estado da arte’. Vislumbrando a variedade com que este sector se constrói, ao nível dos papéis e ao nível das áreas e experiências, parece-me pouco, parece-me muito pouco.
Falemos do sector: incluem-se as artes de palco e o cinema, os museus e o artesanato, as artes plásticas, o design, a arquitectura, o património, etc., nas versões institucionais, independentes e comerciais, nacional, regional e municipal, urbana e rural. Estou em crer que cada um destes sub-sectores e cada uma destas combinações tem muito a dizer. Depois, falemos das pessoas: dos produtores, dos gestores, dos administradores, dos técnicos, dos marketeiros (sim, também), todos eles com experiências e olhares diversos sobre o sector. Também aqui é preciso que se reflicta e se assumam posições, é preciso que se consciencializem de que são parte necessária e construtiva do sector.
É preciso que reclamemos vozes, é preciso que as deixemos soar, é preciso construir raciocínios, pensamento e reflectir sobre o estado das coisas e concertar discursos. É preciso também fazer lobby e manter o fluxo de afirmação junto dos media e junto da opinião pública (aquela mesma opinião pública que acha que o sector é feito de subsidio-dependentes e estrelas de TV). É preciso mostrar o que fazemos, o que queremos; mas primeiro é preciso que o sector se reconheça múltiplo, variado e abra espaço não-hierarquizado às diversas vozes internas.
Na coluna de opinião de Jorge Marmelo, no passado dia 15 de Fevereiro no P2 do Público, reflectia-se sobre a lusofonia e, a certa altura, atribuía-se o uso da expressão na cultura, e de forma irónica, aos “marketeiros da cultura”. A mim, ‘marketeira da cultura’ por vocação, escolha e formação, a referência tocou-me num ponto sensível, melhor dizendo, em dois; ambos relacionados com as vozes do sector e com quem faz o sector.
Ora, comecemos pelo marketing e pelo que fazem os ‘marketeiros culturais’ ou não. Correndo o risco de soar defensiva, começo por dizer que o marketing não é bom, nem mau. O marketing é só um instrumento, uma ferramenta de gestão, que, se bem utilizada, cria valor para ambas as partes, valor esse essencialmente decorrente de acções que promovem a eficiência, a eficácia e a relação duradoura com os consumidores (públicos, quando no contexto cultural). Houve um tempo em que o marketing era ‘duro’, daí a imagem dos senhores a venderem aspiradores a quem não tinha electricidade; depois, veio o tempo em que se procuravam as casas com electricidade para se venderem aspiradores; agora, bate-se à porta, pede-se para entrar, pergunta-se o que se quer, vê-se o que se tem e começamos a falar com o olhar posto no longo prazo. Chamamos-lhe ‘marketing relacional’. Assim contado até parece bonito e talvez nem se acredite, mas como outras expressões blockbuster, nomeadamente a lusofonia, o marketing entrou no léxico cultural e se há muitos marketeiros culturais, há pouca gente a fazer marketing cultural.
Mais, o marketing não começa do zero nem inventa nada, sobretudo na cultura. Tem de partir de uma visão, de uma missão e operacionalizá-las, fazê-las acontecer. Pode usar a lusofonia, mas esta só deixará de ser ‘cliché de marketeiro’ se apoiada na acção e no mind-set efectivos da organização ou agente culturais que a querem efectivar.
A referência aos marketeiros conduz-me até à segunda questão, questão essa que ando a remoer desde há algum tempo: quem faz o sector e quem, no sector cultural, tem voz.
Começo por quem tem voz: por razões que relaciono com a tradição e com a prática, mas sobretudo com o imaginário e a simbólica do sector, são, grosso modo, os criadores quem fala e são os criadores quem é ouvido (excepção feita para alguns pensadores e programadores de notoriedade firmada e espaço de expressão conquistado*). São os criadores que representam o sector cultural e veiculam as suas preocupações e se posicionam na construção de um discurso público sobre o ‘estado da arte’. Vislumbrando a variedade com que este sector se constrói, ao nível dos papéis e ao nível das áreas e experiências, parece-me pouco, parece-me muito pouco.
Falemos do sector: incluem-se as artes de palco e o cinema, os museus e o artesanato, as artes plásticas, o design, a arquitectura, o património, etc., nas versões institucionais, independentes e comerciais, nacional, regional e municipal, urbana e rural. Estou em crer que cada um destes sub-sectores e cada uma destas combinações tem muito a dizer. Depois, falemos das pessoas: dos produtores, dos gestores, dos administradores, dos técnicos, dos marketeiros (sim, também), todos eles com experiências e olhares diversos sobre o sector. Também aqui é preciso que se reflicta e se assumam posições, é preciso que se consciencializem de que são parte necessária e construtiva do sector.
É preciso que reclamemos vozes, é preciso que as deixemos soar, é preciso construir raciocínios, pensamento e reflectir sobre o estado das coisas e concertar discursos. É preciso também fazer lobby e manter o fluxo de afirmação junto dos media e junto da opinião pública (aquela mesma opinião pública que acha que o sector é feito de subsidio-dependentes e estrelas de TV). É preciso mostrar o que fazemos, o que queremos; mas primeiro é preciso que o sector se reconheça múltiplo, variado e abra espaço não-hierarquizado às diversas vozes internas.
* Cabe aqui dizer que estas vozes, as de pensadores e programadores com espaço de expressão conquistado, têm sido permanentemente o garante de uma perspectiva mais alargada sobre o sector. E precisamos delas. Muito.
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