Thursday 26 May 2011

Blogger convidado: 0,4% de ideias, por Cecília Folgado

Portugal vai a banhos, de Joana Vasconcelos
Em tempo de eleições há que ouvir, pensar, pesar. Uns pesam a dívida, outros os benefícios sociais, eu peso a Cultura. É esse o meu mundo. Assim, resolvi debruçar-me sobre as propostas dos 5 ‘grandes’ partidos, procurando saber o que cada um destes perspectivava para a Cultura em Portugal nos próximos anos.

Para lá do saber se a Cultura se manteria em versão ministerial ou não (aspecto interessantemente debatido por Guta Moura Guedes no Público de 24 de Maio), o que procurava era saber a Cultura que nos espera e a Cultura que podemos esperar. A resposta é curta e taciturna, o futuro pouco iluminado. Nos programas do BE, CDU, PS, PSD e CDS o peso e a importância relativa da questão é equivalente aos 0,4% de OE que lhe cabe. No caso do BE é ainda menos que isso, é 0%. Nos restantes, a Cultura vale entre um parágrafo e pouco mais que uma página A4.

E dir-me-ão que a Cultura não se mede a palmo. Pois não, não mede, mas neste caso os conteúdos coincidem com os palmos medidos, são curtos.

Na acima referida coluna de opinião de Guta Moura Guedes, reclama-se visão de quem nos governe, ministro ou primeiro-ministro. Reclamo o mesmo: visão. Depois, reclamo seriedade. Seriedade para olhar o sector de frente, listar o que está mal e o que está bem e desenhar uma política que nos permita (ao sector e ao país) ser inteiros e que o Ministério da Cultura não seja uma conquista meramente simbólica e sim efectiva*.

Do que li e das ideias arrumadas, não me parece importante falar, são essencialmente vagas (umas) e repetidas (as outras). Importante parece-me regressar a esta lista de 2009, construída no âmbito das legislativas de então pelos colaboradores da OBSCENA. É isto, só isto. Duas páginas A4 (aqui com palmos de conteúdo bem largos).

Nos tempos que vivemos, percebo a importância relativa que a Cultura pode ter. E estar neste sector tem algo de fé e de militância que por vezes, em tempos assim, se quebra; pessoalmente, nestes momentos de quebra, reencontro o sentido da arte e da cultura numa frase de António Pinto Ribeiro: “A arte e a cultura - não necessariamente da mesma maneira, nem com as mesmas possibilidades – servem para que, na vida de cada um de nós , o futuro esteja presente e o tédio ausente, a ludicidade aconteça e a barbárie se afaste.”

Não nos podemos entregar à barbárie.

*No Público de hoje reflecte-se sobre as legislativas sob a perspectiva do sector cultural; vale (muito) a pena ler. Vale também a pena ler no P2 a reportagem sobre os 100 anos do Museu do Chiado onde, como assinala Raquel Henriques da Silva, “O que envergonha em todo este processo é a falta de uma Política de Estado.”

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