Monday, 19 September 2011

A longa distância entre Califórnia e Jerusalém

Um dos desenhos da exposição cancelada pelo MOCHA.

MOCHA (Museum of Children´s Art) é um museu em Oakland, Califórnia. Aberto desde 1989, a sua missão é assegurar que as artes sejam uma parte fundamental na vida de todas as crianças através de experiências artísticas, formação artística para educadores e advocacia pelas artes. No dia 12 de Setembro, o portal Hyperallergic noticiou (ler aqui) que o museu, sob pressão de grupos judaicos, tinha decidido cancelar a exposição A Child´s View from Gaza, que reunia desenhos de crianças palestinianas criados durante sessões de arte-terapia (alguns deles podem ser vistos aqui). O presidente do Board of Directors, numa carta aberta publicada no site do MOCHA (ler aqui), esclarecia que o museu tomou esta decisão sensibilizado pelas preocupações expressas por pais e educadores que não queriam que as suas crianças fossem confrontadas durante a sua visita com trabalhos graficamente violentos e sensíveis. O que é que o museu esperava que crianças que viveram os bombardeamentos israelitas de 2008 e 2009 desenhassem? As cenas de violência terão sido uma surpresa? No Hyperallergic comentava-se que não seria a primeira vez que o museu iria exibir desenhos de crianças com cenas de violência. O facto também de a decisão ter sido tomada menos de duas semanas antes de inauguração da exposição, faz acreditar que a razão não foi uma descoberta repentina por parte dos responsáveis que deviam rever a política de exposições no que diz respeito à representação de violência, mas sim, outro género de pressões.

Eyad Baba, Gaza, Palestine, 2009 (fotografia da exposição HomeLessHome no Museum on the Seam)
O Museum on the Seam (Museu na Costura) é um museu em Jerusalém. Está localizado na rua que separa o sector judeu na parte oeste da cidade dos bairros árabes no sector leste. Fundado em 1999, define-se como um museu sócio-político de arte contemporânea que, à sua maneira, apresenta a arte como uma linguagem sem fronteiras a fim de levantar questões sociais controversas. No centro das suas exposições temporárias encontram-se as ‘costuras’ nacionais, étnicas e económicas, no seu contexto local e nacional. Na sua declaração de missão, o museu diz ainda que está empenhado em examinar a realidade social dentro do conflito que se vive na região, em promover o diálogo em face da discórdia e em estimular a responsabilidade social baseada no que se tem em comum e não no que separa. A exposição patente neste momento, West End, explora o conflito entre Islão e o mundo ocidental e é o resultado de anos de esforços intensos para convencer artistas do Médio Oriente a expor nas suas galerias. Dos 28 artistas muçulmanos envolvidos, 7 são originários do Médio Oriente, alguns de países que proíbem qualquer relação com Israel (ler notícia aqui). No passado, o museu tinha apresentado exposições como The Right to Protest, Bare Life ou HomeLessHome, entre outras. Quaisquer que sejam as pressões que este museu possa estar a sofrer (e não devem ser poucas), não parece estar a fazer-lhes face cancelando exposições.

Gosto de pensar nos museus como espaços de confronto de ideias; espaços que nos fazem sair da nossa zona de conforto; espaços que nos confrontam com realidades que desconhecemos; e, também, espaços que geram alguma controvérsia. Não me estou a referir à controvérsia ‘barata’; nem àquela gerada pela cobardia, o silêncio ou um suposto ‘apoliticismo’. Estou-me a referir à controvérsia gerada, com inteligência e honestidade, pela expressão de opinião, pela tomada de posição, pela vontade genuína do museu em constituir um espaço de encontro.

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