Tuesday, 2 June 2020

Não consigo respirar

Joe Raedle / Getty Images, retirado de NPR

O ano de 2014 foi marcado nos EUA pela morte de negros desarmados nas mãos de polícias nas cidades de Ferguson, Cleveland e Nova Iorque. Foi o ano em que Eric Garner morreu, repetindo "Não consigo respirar" ...

Nesse mesmo ano, na sua declaração conjunta sobre Ferguson e eventos relacionados (que ficou conhecida como “Museums Respond to Ferguson”), profissionais dos museus posicionaram-se sobre o papel dos museus perante essas mortes trágicas. Há três pontos dessa declaração que destaquei num post que escrevi na altura.

Primeiro, os signatários lembraram a todos que “Novas leis e políticas irão ajudar, mas qualquer movimento em direcção a uma maior compreensão e comunicação cultural e racial deve ser apoiado pela infra-estrutura cultural e educativa do nosso país. Os museus fazem parte desta rede educativa e cultural.”

Segundo, que "Como mediadores culturais, todos os museus devem comprometer-se em identificar de que forma podem relacionar-se com questões contemporâneas relevantes", independentemente de suas colecções.

Em terceiro lugar, e mais importante no momento pelo qual os EUA estão a passar agora, eles declararam o seguinte: “Até agora, apenas a Association of African American Museums emitiu uma declaração formal sobre as questões mais amplas relacionadas com Ferguson, Cleveland e Staten Island. Acreditamos que o silêncio de outros museus envia uma mensagem de que estas questões são uma preocupação apenas para os afro-americanos e os museus afro-americanos. Sabemos que este não é o caso."

Sabíamo-lo então e sabemo-lo agora. Com a morte, na semana passada, de mais um homem negro desarmado, George Floyd, sob o joelho de um polícia, repetindo "Não consigo respirar" - a mais recente de uma série de mortes de negros desarmados nas mãos da polícia este ano -, o cenário no mundo dos museus americanos parece bastante diferente. Quase seis anos após a declaração “Museum Respond to Ferguson”, parece haver uma maior consciência entre os museus em relação às suas responsabilidades perante as comunidades - membros da sua equipa, artistas, vizinhos, visitantes, doadores e apoiantes

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Oakland Museum of California no Facebook
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Portanto, talvez neste momento a pergunta a ser feita seja "Essas questões são uma preocupação apenas para os museus americanos?". Com certeza que não, e não importa o quanto tentemos convencer-nos a nós próprios – que "não somos racistas, mas..." - do contrário. O progresso verificado nos EUA - talvez também porque a actual presidência tenha tornado algumas organizações culturais mais conscientes de seu papel e responsabilidades na sociedade, bem como dos seus fracassos no passado ​​- é significativo, traz esperança. Esperança que, por exemplo, um dia, a maioria das pessoas em Portugal reconheça instantaneamente os nomes Cláudia Simões ou Flávio Almada e que isso se deva também aos museus e outras organizações culturais do país. Isto tem a ver com as nossas relações culturais, com o vivermos juntos em sociedade, com a política no melhor dos sentidos. Isso acontecerá quando os museus assumirem o seu papel político. Mas também quando os cidadãos exigirem que o façam.


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