Na semana passada fui convidada para dar uma pequena palestra sobre públicos a alunos da Escola Superior de Teatro e Cinema. Comecei questionando: Porque é que falamos dos públicos? Porque é que nos preocupamos com eles? Porque são eles que dão sentido ao nosso trabalho. Pelo menos ao meu. Sem públicos não há museus. Sem públicos não há teatros. Praticamos, assistimos ou participamos em actividades culturais porque queremos todos comunicar, partilhar, descobrir, descontrair: profissionais de museus, profissionais do espectáculo, públicos. Esta comunicação e partilha não aconteceria se faltasse um dos elos.
Para quem trabalha na área da Comunicação, a relação com os públicos é fundamental. Conhecê-los bem, criar aos poucos relações pessoais, de amizade até, são formas de chegar cada vez mais longe nesta relação e conseguir alargá-la, aos poucos, aos não-públicos. Nos últimos 10 anos trabalhei em duas instituições relativamente grandes. ‘Grandes’ também considerado o volume de trabalho que se deseja desenvolver e os poucos recursos humanos. Não poucas vezes, senti alguma frustração por passar grande parte do meu tempo num gabinete e não poder estar mais próximo dos visitantes ou espectadores, nos locais de atendimento, durante a preparação da visita, na sala de exposições, nos vários espectáculos. É sobretudo nesses momentos que conseguimos avaliar, mesmo de forma empírica, o impacto do nosso trabalho, a forma como é aceite e julgado. E é desta forma que se criam também relações mais próximas, por vezes pessoais, duradouras, com os destinatários finais da nossa acção.
Várias vezes pensei que as instituições que lidam com públicos mais reduzidos têm a sorte de poder trabalhar com eles dessa forma mais personalizada. Cria-se assim um sentimento de partilha, de comunidade e também de pertença, que muito influencia a qualidade da experiência, a forma como as pessoas vivem o espaço e o que este lhes oferece. E é particularmente compensador e reconfortante para quem trabalha para que isto aconteça. As coisas assim ganham sentido.
Podemos ter esta experiência, ainda que com uma frequência menor, também nas grandes instituições. Acho que, apesar de já não me lembrar dos rostos, nunca me esquecerei da experiência que foi receber o primeiro grupo de crianças no lançamento da actividade Uma Noite no Museu no Pavilhão do Conhecimento. A forma como todos, funcionários do Pavilhão e crianças, partilhámos aquela aventura pela noite dentro, a forma como nos aproximámos, o difícil que foi separarmo-nos no dia seguinte, o prazer de nos reencontrarmos nas salas expositivas do Pavilhão noutras ocasiões.
Também no São Luiz, e nos quase quatro anos que lá estou, aquilo que destacaria como a vivência mais marcante e compensadora tem a ver com uma experiência partilhada com o público. Foi em 2008, quando se organizou em co-produção com o CCB o Festival Pina Bausch. Numa manhã assistimos num workshop do Centro de Pedagogia e Animação (CCB) sobre o Café Müller, a peça que a própria Pina Bausch ia dançar nessa noite no São Luiz. No workshop participava uma dezena de crianças provenientes de meios familiares desfavorecidos. Acabado o workshop e tendo presenciado o entusiasmo, interesse, prazer e criatividade das crianças, pensámos que elas deveriam ter a oportunidade de ver o espectáculo ao vivo. Assim, numa sala praticamente esgotada, conseguiu-se arranjar umas cadeiras e as crianças assistiram. Será impossível esquecer o brilho nos olhos delas, o fascínio, a alegria e também a admiração, misturada com medo, quando puderam entrar nos bastidores a seguir ao espectáculo e encontrar-se com a própria Pina, que assinou os seus programas.
Neste contexto, gostei particularmente do último post de Nina Sinom no seu blog Museum 2.0, intitulado Complicity, intimacy, community. Gostei da forma como gostamos quando algo está na nossa cabeça e finalmente alguém consegue estruturá-lo com palavras e torná-lo concreto. A Nina Simon lembra-nos neste seu texto que mesmo as instituições maiores têm formas de proporcionar experiências que criam cumplicidade entre o público e a instituição, criando igualmente um sentimento de intimidade e comunidade. Isto não passa necessariamente por um serviço personalizado, tal como nós o idealizamos, mas criando as condições para que o visitante / espectador / participante se sinta em primeiro lugar orientado (sabe onde está, o que pode ou não pode fazer) e para que possa viver e partilhar confortavelmente a experiência com os outros, conhecidos ou desconhecidos.
É tão bonita a troca de um sorriso de cumplicidade.
Nota à parte: Como disse, dá-me um prazer muito particular encontrar estruturadas em palavras coisas que tenho na minha cabeça, preocupações, ideias… E quando as encontro, é-me impensável deixar de citar o nome da pessoa que as estruturou, para eu as poder utilizar também. Neste blog não se encontram ideias originais. São opiniões e sentimentos, resultado das minhas leituras e experiências, que procuro aqui de alguma forma estruturar e partilhar. Mesmo assim, seria simpático se, quando reproduzidas na íntegra as minhas palavras, a fonte não deixasse de ser mencionada por quem as utilizou. Foi-me solicitado por um museu o link do meu post sobre as entradas gratuitas nos museus. Na semana passada, encontrei as minhas palavras num jornal, nas declarações do director desse museu. Pode ser que o director tenha referido a fonte mas o jornal não tenha incluído a referência no artigo. Ou não.
Para quem trabalha na área da Comunicação, a relação com os públicos é fundamental. Conhecê-los bem, criar aos poucos relações pessoais, de amizade até, são formas de chegar cada vez mais longe nesta relação e conseguir alargá-la, aos poucos, aos não-públicos. Nos últimos 10 anos trabalhei em duas instituições relativamente grandes. ‘Grandes’ também considerado o volume de trabalho que se deseja desenvolver e os poucos recursos humanos. Não poucas vezes, senti alguma frustração por passar grande parte do meu tempo num gabinete e não poder estar mais próximo dos visitantes ou espectadores, nos locais de atendimento, durante a preparação da visita, na sala de exposições, nos vários espectáculos. É sobretudo nesses momentos que conseguimos avaliar, mesmo de forma empírica, o impacto do nosso trabalho, a forma como é aceite e julgado. E é desta forma que se criam também relações mais próximas, por vezes pessoais, duradouras, com os destinatários finais da nossa acção.
Várias vezes pensei que as instituições que lidam com públicos mais reduzidos têm a sorte de poder trabalhar com eles dessa forma mais personalizada. Cria-se assim um sentimento de partilha, de comunidade e também de pertença, que muito influencia a qualidade da experiência, a forma como as pessoas vivem o espaço e o que este lhes oferece. E é particularmente compensador e reconfortante para quem trabalha para que isto aconteça. As coisas assim ganham sentido.
Podemos ter esta experiência, ainda que com uma frequência menor, também nas grandes instituições. Acho que, apesar de já não me lembrar dos rostos, nunca me esquecerei da experiência que foi receber o primeiro grupo de crianças no lançamento da actividade Uma Noite no Museu no Pavilhão do Conhecimento. A forma como todos, funcionários do Pavilhão e crianças, partilhámos aquela aventura pela noite dentro, a forma como nos aproximámos, o difícil que foi separarmo-nos no dia seguinte, o prazer de nos reencontrarmos nas salas expositivas do Pavilhão noutras ocasiões.
Também no São Luiz, e nos quase quatro anos que lá estou, aquilo que destacaria como a vivência mais marcante e compensadora tem a ver com uma experiência partilhada com o público. Foi em 2008, quando se organizou em co-produção com o CCB o Festival Pina Bausch. Numa manhã assistimos num workshop do Centro de Pedagogia e Animação (CCB) sobre o Café Müller, a peça que a própria Pina Bausch ia dançar nessa noite no São Luiz. No workshop participava uma dezena de crianças provenientes de meios familiares desfavorecidos. Acabado o workshop e tendo presenciado o entusiasmo, interesse, prazer e criatividade das crianças, pensámos que elas deveriam ter a oportunidade de ver o espectáculo ao vivo. Assim, numa sala praticamente esgotada, conseguiu-se arranjar umas cadeiras e as crianças assistiram. Será impossível esquecer o brilho nos olhos delas, o fascínio, a alegria e também a admiração, misturada com medo, quando puderam entrar nos bastidores a seguir ao espectáculo e encontrar-se com a própria Pina, que assinou os seus programas.
Neste contexto, gostei particularmente do último post de Nina Sinom no seu blog Museum 2.0, intitulado Complicity, intimacy, community. Gostei da forma como gostamos quando algo está na nossa cabeça e finalmente alguém consegue estruturá-lo com palavras e torná-lo concreto. A Nina Simon lembra-nos neste seu texto que mesmo as instituições maiores têm formas de proporcionar experiências que criam cumplicidade entre o público e a instituição, criando igualmente um sentimento de intimidade e comunidade. Isto não passa necessariamente por um serviço personalizado, tal como nós o idealizamos, mas criando as condições para que o visitante / espectador / participante se sinta em primeiro lugar orientado (sabe onde está, o que pode ou não pode fazer) e para que possa viver e partilhar confortavelmente a experiência com os outros, conhecidos ou desconhecidos.
É tão bonita a troca de um sorriso de cumplicidade.
Nota à parte: Como disse, dá-me um prazer muito particular encontrar estruturadas em palavras coisas que tenho na minha cabeça, preocupações, ideias… E quando as encontro, é-me impensável deixar de citar o nome da pessoa que as estruturou, para eu as poder utilizar também. Neste blog não se encontram ideias originais. São opiniões e sentimentos, resultado das minhas leituras e experiências, que procuro aqui de alguma forma estruturar e partilhar. Mesmo assim, seria simpático se, quando reproduzidas na íntegra as minhas palavras, a fonte não deixasse de ser mencionada por quem as utilizou. Foi-me solicitado por um museu o link do meu post sobre as entradas gratuitas nos museus. Na semana passada, encontrei as minhas palavras num jornal, nas declarações do director desse museu. Pode ser que o director tenha referido a fonte mas o jornal não tenha incluído a referência no artigo. Ou não.
2 comments:
Maria, até à data foi o post que mais gostei de ler. Não só para a área de comunicação será fundamental conhecer os públicos; antes o será para todos aqueles que trabalham na área - dita - cultural. Se não o conhecem, como sabem para quem trabalham? Seria importante que todos os que trabalham num gabinete tivessem a disponibilidade de se levantar, nem que fosse uma hora por semana, para correrem o espaço, para conhecerem a Gente.
Sinto-me uma priveligiada, porque vou agora começar a desenvolver um trabalho de gabinete, vocacionado para a educação, mas passei 4 anos em contacto directo com o público que nos visita.
Pois é Maria, infelizmente é essa a realidade em que vivemos... mas sejamos superiores à vulgaridade. Bjo.
José Vale
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