No dia 15 de Novembro teve lugar no Convento de Cristo em Tomar o encontro “Museus e Monumentos: comunicar, inovar, sustentar”, organizado pela Direcção-Geral do Património Cultural. Houve quatro painéis: Mass media: mediação ou medianização?; Estratégias de comunicação; Marketing e branding; Fontes de financiamento, modelos de gestão. Foi um encontro interessante para mim, sobretudo pela integração nos painéis de pessoas que não trabalham em museus e monumentos e que possam trazer ao debate pontos de vista muito relevantes para todos nós. Isto é… se estivermos interessados em ouvir, em ser confrontados com as nossas práticas, em actuar no sentido de mudar para melhor.
São dois os
momentos do encontro nos quais gostaria de me concentrar. O primeiro é a comunicação
da jornalista Paula Moura Pinheiro, integrada no primeiro painel, “Mass media:
mediação ou medianização?”. A Paula referiu-se ao trabalho do jornalista e ao
seu papel na comunicação para e com o grande público. Para ela, o jornalista
tem o papel do tradutor. É alguém com uma boa cultura geral, mas que tem
consciência que não sabe tudo e que, por isso, procura os especialistas e as
fontes mais variadas, no sentido de reunir informação. Esta informação é depois
trabalhada e ‘traduzida’, para ser levada ao grande público de
não-especialistas. “Os meus programas não são para os especialistas”, disse
Paula Moura Pinheiro, “e os especialistas não precisam dos meus programas. Os
meus programas são para quem não sabe.” Lembrou-me, inevitavelmente, do naturalista
britânico Edward Forbes que escreveu em 1853: “Os conservadores de museu podem
ser prodígios do conhecimento e, mesmo assim, impróprios para o seu lugar, se
não conhecem nada sobre pedagogia, se não estão preparados para ensinar pessoas
que não sabem nada.” E lembrou-me ainda de algo que tinha lido há uns anos no
livro The Manual of Museum Management
de Barry Lord & Gail Dexter Lord: que uma exposição é como um programa de
televisão, pode sensibilizar, mas não torna ninguém perito.
Uma outra
comunicação no primeiro painel da tarde, “Marketing e branding”, veio testar a
compreensão e relevância das palavras de Paula Moura Pinheiro. O publicitário
Pedro Bidarra, que esteve durante muitos anos à frente da conhecida agência
BBDO, falou-nos do “Muro das Palavras”. Mostrou-nos excertos de textos que
encontrou em exposições e que não lhe transmitiram absolutamente nada, porque…
não os compreendeu. Os seus exemplos provocaram muitos risos na plateia, mas o
Pedro insistiu: “Como querem que eu vá ver as vossas exposições se vocês
próprios criam barreiras na comunicação? Não me falta interesse, gostaria mesmo
de visitar, mas sinto que a vossa oferta não é para mim, não foi produzida a
pensar em mim”.
Os textos
do Pedro Bidarra foram muito bem escolhidos; o que não significa que são
difíceis de encontrar. O discurso dos nossos museus é, em grande parte, uma
conversa entre especialistas. Um enorme esforço é feito para se ganhar no fim o
aplauso e aprovação dos nossos pares. Onde é que isto deixa o público, as
pessoas, a nossa relação com elas?
Escrevia há
duas semanas sobre a forma como os resultados do euro-barómetro foram recebidos por muitas pessoas no nosso sector e perguntava se estes mesmos resultados
alguma vez nos vão fazer questionar as nossas práticas ou se vamos continuar a culpar as pessoas por falta de cultura, ignorância, desinteresse.
Penso no
encontro em Tomar e no impacto que estas duas comunicações, de Paula Moura
Pinheiro e de Pedro Bidarra, terão tido (ou não) na forma como os profissionais
de museus presentes, e sobretudo aqueles com responsabilidades de direcção,
reflectem sobre as suas práticas diárias. Qual terá sido o significado dos
tantos risos na plateia enquanto o Pedro apresentava os seus exemplos? Porque
naquela plateia encontravam-se, sem dúvida, pessoas que foram as autoras de
textos muito parecidos com os que vimos no ecrã. Como dizia a portuguesa Sandra
Fisher Martins, fundadora da campanha Português Claro, na sua TEDx Talk “The
right to understand”: “Estes documentos (estava-se a referir a documentos da
administração pública) não caem do céu, alguém os escreve”.
Para haver
mudança, é preciso haver coragem para enfrentar a crítica; abertura para
reconhecer o que não está bem; determinação em prestar um serviço melhor. É também
necessário termos sentido de humor, sabermos rir dos nossos próprios erros,
desde que o riso sirva para atenuar o – provavelmente inevitável – sabor amargo
que deixa a crítica negativa e reforçar a vontade de fazer de outra forma,
melhor. Se o riso não passar de um riso, sinto que por trás está um Rhett
Butler a pensar: “Francamente, minha
querida, eu não ligo
a mínima”.
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