Saturday 12 October 2024

Além da lei

Museu Nacional, Praga.

Em 2021, estava em Praga a visitar o Museu Nacional. Quando apanhei o elevador para chegar à cúpula e ver a bonita cidade lá de cima, vi que havia um banco. Recordo-me de ter sido invadida por uma forte emoção ao ver este pequeno e discreto gesto de hospitalidade e amabilidade. O museu não incluiu o banco no elevador porque era obrigatório por lei. Reconheceu que nem todas as pessoas seriam capazes de permanecer em pé durante a lenta viagem até ao topo e que queria ter a certeza de que as pessoas se sentiriam confortáveis ​​ e seguras; sentir-se-iam bem-vindas. Quando o nosso desejo de abrir as portas a todos (seja lá o que “todos” possa significar) é honesto, partilhar a experiência com todas aquelas pessoas que possam estar interessadas ​​em fazer parte, não estamos condicionados por leis. Estamos prontos para ir mais além.

Sunday 6 October 2024

Das silenciosas maiorias. Do medo e da liberdade.


Mais uma vez, atravessaremos o Atlântico, só para ficarmos conscientes do quão perto estamos e porque é que devemos prestar atenção ao que ali se passa.

Em Julho, escrevi um artigo para o jornal Público sobre o que se tornou numa situação extrema de proibição de livros nas bibliotecas escolares e públicas dos Estados Unidos. Escrevi na altura que os livros contestados tratam normalmente de questões LGBTQI+, raça e racismo, escravatura, genocídio de povos indígenas, religião. Existem também inúmeras exigências para que os livros sobre a puberdade sejam transferidos da secção juvenil para a secção de adultos... Situações semelhantes estão a ocorrer no Brasil e noutros países, sendo mais ou menos noticiadas pelos meios de comunicação mainstream.

Um relatório recente sobre a situação nos EUA, publicado pela Knight Foundation, mostrou alguns resultados muito relevantes: 78% das pessoas confiam nas suas escolas públicas para selecionar materiais apropriados; revelou também que “a maioria dos americanos se sente informada sobre os esforços para proibir livros nas escolas, mas apenas 3% dos inquiridos disseram que se envolveram pessoalmente na questão - com 2% a envolverem-se no sentido de defender o acesso aos livros e 1% a procurar restringir o acesso.” (ler mais). O que é que isto nos diz? Muitas pessoas estão informadas sobre o assunto, algumas, poucas, envolvem-se na defesa da liberdade de ler num país democrático, enquanto uma minoria vocal, muitas vezes violenta, tem permissão para decidir o que os outros podem ler e onde. Soa familiar?