Foto tirada de http://www.londontheatredirect.com/ |
War Horse é uma produção do National Theatre (Londres) que estreou em Outubro de 2007. Em 2009 mudou-se para o West End. Em 2011 atravessou o Atlântico para ser apresentada em Broadway. Em 2012 está prevista uma digressão nos EUA. Trata-se de uma produção multi-premiada, adorada pelo público e pelos críticos de teatro, e é um grande sucesso de bilheteira. O lucro anual de 3 milhões de libras das apresentações da peça em West End tornou insignificantes os cortes no subsídio que o National Theatre recebe do Arts Council England (ler notícia aqui).
Em Maio de 2010, o Guardian publicava o artigo Theatre trailers: missing an opportunity. A jornalista incentivava os teatros a serem um pouco mais ambiciosos na divulgação das suas produções, citando como bons exemplos o National Theatre e Sadler´s Wells. Foi neste artigo que encontrei o link para este trailer:
Era a primeira vez que via um trabalho deste género, a fazer lembrar a publicidade dos filmes de cinema, para a divulgação de uma peça de teatro. Lembro-me de ter ficado encantada: toda a edição do trailer (o ritmo, as cenas escolhidas, a música) gerou em mim a vontade de ver a peça, de conhecer a história, de descobrir o que acontece no fim. Será este trailer o segredo do sucesso de War Horse? Provavelmente não. O segredo - que não é segredo - é que as pessoas que assistiram à peça adoraram e passaram a palavra a muitas-muitas outras. Terá este trailer feito a diferença na escolha das pessoas que inicialmente viram a peça? Claro que não tenho dados, mas é provável que tenha influenciado, muito até, no sentido que, no meio de tanta concorrência, entre muitas outras opções na oferta teatral, e não só, de Londres, esta abordagem marcou a diferença, gerou emoções, alimentou o passar-a-palavra, criou a necessidade de não perder (de uma forma muito mais palpável e eficaz do que a afirmação “A não perder!” que muitos produtores, sobretudo na área da música, insistem em colocar em todos os materiais de divulgação, desde os comunicados de imprensa aos cartazes).
A questão dos trailers para as produções de teatro voltou a ser abordada recentemente pelo New York Times, em Trailers to tempt the theatergoer. Um artigo mais técnico, que apresenta alguns exemplos e disponibiliza informações sobre os criadores, os meios e as técnicas, os custos e, sobretudo, os objectivos que se pretendia alcançar através do uso deste meio: desde apresentar a estética de uma companhia ao esclarecer eventuais preconceitos sobre o conteúdo de uma peça e, claro, reforçar na mente das pessoas os pontos fortes de uma produção, as razões porque não a podem perder.
Os trailers fizeram-me pensar novamente nos desafios que os profissionais da Comunicação estão a enfrentar na sua constante busca de novas formas e novos meios para chegarem aos públicos. O ambiente em que estamos a actuar está a mudar rápida e constantemente: a oferta é maior; o poder de compra, nesta fase, menor; os meios tecnológicos ao nosso dispor (e ao dispor do público) estão a afectar profundamente a relação entre ‘produtor’ e ‘consumidor’. O que poderá fazer a diferença na mente e no coração das pessoas? O que é preciso para chamar a atenção delas, despertar o seu interesse, gerar entusiasmo, convencê-las a deslocarem-se até ao nosso teatro, museu, galeria, auditório?
De uma coisa estou certa: não é preciso mais publicidade. ‘Publicidade’ no formato do anúncio de imprensa, espaço pago com publicidade informativa sobre o quê, onde, quando. Penso que este suporte serve ainda, apesar de já não ser o meio principal, para manter informadas as pessoas que normalmente acompanham a oferta cultural na cidade, que assistem a espectáculos, que visitam exposições e que convidam ou recomendam uma determinada actividade a outras pessoas; e serve ainda, e talvez sobretudo, para reforçar a imagem de uma instituição cultural, para ‘marcar posição’. O anúncio de imprensa - assim como o spot de televisão, acrescentaria aqui - é hoje um meio de marketing institucional e não de marketing programático. Aliás, da forma pouco inspirada como o temos usado, alguma vez terá sido?
O que poderá fazer a diferença, então? A imaginação. A inovação. A simplicidade. A intenção de desmistificar, de ser acessível. A vontade de tocar, maravilhar, inspirar as pessoas. De as fazer pensar. E também de as fazer esquecer.
Como é que isto se faz? Pode ser um trailer como o do War Horse; pode ser uma campanha como a “Quer ver a 3D? Venha ao teatro”, promovida há dois anos pelo Teatro Nacional D. Maria II (luminosa excepção, na minha opinião, no que normalmente se entende por ‘campanha publicitária’ pelas instituições culturais portuguesas);
pode ser um vídeo como este, da série Le Louvre invisible, que partilha pequenos momentos do dia-a-dia das nossas instituições; pode ser um programador que faz questão de explicar aos funcionários da bilheteira quais os pontos fortes de cada projecto, porque é que o público não pode perder cada uma das propostas, de forma que eles, os funcionários, e, através deles, o público, se possam sentir mais esclarecidos e informados, curiosos e interessados, e talvez até disponíveis para arriscar algo novo (refiro-me aqui concretamente a uma prática do anterior programador de música no CCB, João Godinho); podem ser os simples emails que cada vez mais artistas, directores de museus, curadores e programadores enviam para o seu ciclo, mais ou menos restrito, de amigos e conhecidos, dando a conhecer pessoalmente o seu trabalho e convidando a assistir/visitar, de uma forma muito mais directa, pessoal, acessível e entusiasmante – tornando inevitavelmente este mesmo ciclo de pessoas em mensageiros; pode ser uma iniciativa tão simples, bem-humorada e envolvente como a It´s Time we Met do Metropolitan Museum of Art, agora na sua quarta edição; pode ser uma forma especial de dizer “Feliz Ano Novo”.
Ler o post de Nina Simon Open thread: How does your institution say happy new year?
Exemplos soltos de coisas que li e vi nos últimos tempos. O que é comum em todos é a vontade de chegar às pessoas, estender o convite, fazer a ligação, evidenciar a relevância, criar envolvimento e cumplicidade.
Exemplos soltos de coisas que li e vi nos últimos tempos. O que é comum em todos é a vontade de chegar às pessoas, estender o convite, fazer a ligação, evidenciar a relevância, criar envolvimento e cumplicidade.