OAE, temporada 2014-2015 (imagens retiradas da página de Facebook da OAE) |
Tornou-se muito comum, quando se promove um evento cultural,
de mencionar o quê - quando – onde e de seguida acrescentar a frase mágica
"A não perder!". Às vezes, acrescenta-se mais duas linhas,
basicamente para nos informar que o artista x é o melhor no seu campo ou
mundialmente conhecido. A julgar pelas informações que nos são enviadas por uma
série de instituições culturais, não há nada que possamos perder e há uma série
de artistas que são os melhores no seu campo e mundialmente conhecidos. A
primeira afirmação não é verdadeira e a segunda não é precisa.
Considerando a crescente oferta de eventos e actividades
culturais, as pessoas têm muito por onde escolher. Para algumas pessoas, dada a
sua experiência e conhecimentos, a escolha é mais fácil, pois não precisam que
outros lhes digam o que devem ver, o que não podem perder. Para outros, menos
informados sobre uma série de artistas e o seu trabalho, há alguma necessidade
de orientação. Algumas informações adicionais que possam ajudá-los a
compreender o que há de importante e relevante para eles, o que é que eles,
realmente, não gostariam de perder.
Infelizmente, a declaração "A não perder" - a
menos que se trate de um amigo, alguém em cuja opinião confiamos - não serve
este propósito, não chega. Afinal, todos dizem o mesmo. Da mesma forma, ao
mencionar que o/a artista é o/a melhor não é convincente o suficiente para quem
não o/a conhece e não provoca necessariamente um desejo de conhecer melhor o
seu trabalho. A verdade é que há uma série de artistas que são muito bons no
que fazem. Existe realmente um "melhor"?
Assim, o que muitas pessoas pensam é "Porquê?".
Porque é que não posso perder o concerto, o jogo, a exposição? O que há de tão
importante, tão especial, tão diferente, tão inovador, tão tocante, tão
atraente, tão bonito, tão provocante, tão relevante que vai valer a pena
investir o meu tempo e dinheiro para vê-lo em vez de ver ou fazer outra coisa?
OAE, temporada 2014-2015 (imagens retiradas da página de Facebook da OAE) |
Isto representa um grande desafio para as pessoas que trabalham na comunicação. Há uma necessidade de ir além do habitual, além da informação óbvia e fácil sobre o quê - quando - onde, e de procurar aquele género de informação - bem como a sua representação visual - que pode esclarecer, surpreender, intrigar e apelar às pessoas com quem as instituições culturais desejam comunicar. Há também uma necessidade de escolher os canais adequados para tornar esta informação disponível e facilmente partilhável.
É com grande prazer que tenho vindo a acompanhar o
lançamento da campanha da temporada 2014-2015 da Orchestra of the Age of theEnlightenment (OAE). Algumas informações sobre as suas origens antes de
falarmos da campanha:
A OAE foi criada na década de 1980 com o objectivo de
começar do zero, de repensar toda a instituição chamada "orquestra":
as suas regras, os seus códigos, as suas restrições (vejam a sua curta biografia). Na sua primeira declaração de missão afirmavam que a OAE é para "evitar
os perigos implícitos no tocar como uma questão de rotina; procurando opções
criativas exclusivamente comerciais; ensaiando pouco; dando uma ênfase
excessiva em certas opções, imposta por um único director musical; tornando os
objectivos de gravar mais importante do que os objectivos criativos ". [Wallace, Helen (2006). Spirit of the Orchestra].
Hoje, lê-se no website, "Ainda promove a mudança e ainda se destaca
pela excelência, diversidade e experimentação. E, mais de duas décadas depois,
ainda não há uma outra orquestra no mundo parecida com esta."
OAE, temporada 2014-2015 (imagens retiradas da página de Facebook da OAE) |
Esta filosofia é também aplicada na relação que a OAE procura criar com as pessoas, e especialmente com os mais jovens. Numa altura em que várias orquestras lutam para renovar o seu público e permanecer vivas e relevantes - sem saber bem como fazê-lo -, a OAE há muito que investe neste género de relação. Entre as suas várias iniciativas, gostaria de destacar "The Night Shift” (O Turno da Noite), uma série de concertos nocturnos, informais e descontraídos, que quebram uma série de tradições que tendemos a associar aos concertos de música clássica. Mais de 80% das pessoas que frequentam esses concertos têm menos de 35 anos e cerca de 20% estão a frequentar um concerto de música clássica pela primeira vez. Oiçam o que elas têm a dizer:
Há um tom fluido, descontraído, acessível na forma como a OAE comunica com as pessoas. Torna-se óbvio que a sua missão e objectivos estão claros para eles, são sinceros, gostam de partilhar o que mais amam com todos aqueles que possam estar interessados (incluindo aqueles que não sabem que poderiam estar interessados). A sua visão clara reflecte-se na sua linguagem (verbal e visual), bem como nas plataformas que usam para comunicar (por exemplo, um canal Vimeo muito rico em conteúdos e uma página de Facebook muito viva e envolvente).
OAE, temporada 2014-2015 (imagens retiradas da página de Facebook da OAE) |
A campanha da nova temporada tem um claro e forte visual activista. Os músicos fazem parte dela, são os protagonistas. Os cartazes nas ruas apresentam um visual contemporâneo, lindamente integrado no seu ambiente urbano. As mensagens curtas que encontramos nos cartazes são complementadas com depoimentos dos músicos e outros membros da equipa que falam sobre a sua peça favorita da temporada. O trompista da OAE, Martin Lawrence, diz: "Estou ansioso em relação a este concerto [a Sinfonia do Novo Mundo], principalmente por causa da energia maníaca e a espontaneidade do maestro Adam Fischer. Estou fascinado em saber qual será a sua abordagem a estas peças de cavalo-de-guerra - não vai ser normal ... Espero muito drama, pianissimos monstruosos e ficar na borda da minha cadeira.” Conhecem muitas orquestras de música clássica que comunicam assim?
A OAE quer ser e permanecer relevante. Não assumem que as
pessoas sabem, estão lá para tornar tudo mais claro, mais compreensível, mais
agradável. Eles são acessíveis, apaixonantes, humanos. Têm um bom sentido de
humor e não têm medo de mostrá-lo. Não dizem às pessoas "Não podem
perder-nos" ou "Somos os melhores". O seu muito sugestivo lema é
"Nem todas as orquestras são o mesmo" ... E ooh ... eles deixam
certamente claro para mim o quanto devia lamentar por estar a perdê-los!
Ainda neste blog: