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Perdiz no Cabo Sounio, 2014 (Foto: Maria Vlachou) |
Há pouco mais de dez anos, lembro-me da
indignação que senti com um artigo de Clara Ferreira Alves no jornal Expresso,
onde criticava os jovens gregos por se casarem quando o país atravessava uma
grave crise económica. Considerava essa atitude irresponsável, reveladora de
uma falta de noção. Fiquei com raiva porque, no meu ver, a esperança e a
celebração são formas de resistir. A determinação de celebrar perante uma
adversidade é um acto de amor, amor pela vida, amor próprio e amor pelos
outros.
Pensei nisso em diversas outras ocasiões e
também ontem à noite, quando vi o fogo de artifício da minha janela e em muitos
outros lugares do mundo. Nunca gostei muito do fogo de artifício, sempre me
pareceu uma extravagância desnecessária e, também, provocadora de um barulho
angustiante para várias pessoas e animais. Mais recentemente, descobri os seus
efeitos poluentes. Mas este ano, senti que o seu som “explosivo” era também uma
expressão da nossa falta de empatia, pois os ucranianos, enquanto celebravam também
a chegada do novo ano (um acto de amor, esperança e desafio), foram mais uma
vez atacados e tiveram que correr para os abrigos.