Foto retirada de My Firefighter Nation. |
Quando em 2006 comecei a trabalhar
na área das artes performativas, e como esse era um mundo totalmente novo para
mim, uma das primeiras coisas que fiz, para além de comprar livros novos, foi
procurar associações, grupos profissionais, conferências e seminários que me
permitiriam integrar-me melhor e mais rapidamente, encontrar outros
profissionais, arranjar apoio, fazer perguntas, trocar ideias e adquirir novas
competências. Mas, além de uma ou duas associações americanas, uma das quais
organizava um conferência anual sobre gestão, não encontrei mais nada que me
pudesse ajudar.
Desse ponto de vista, vinha de um
mundo bastante organizado e colectado, o dos museus, onde se pode encontrar
toda a espécie de modelos: associações internacionais, comités nacionais, redes
regionais e locais, redes temáticas (gestão, conservação, educação,
comunicação, acesso, etc.); existe ainda um grande número de conferências,
encontros, seminários, workshops, cursos de formação, onde uma pessoa pode
adquirir as capacidades necessárias, encontrar outros profissionais, partilhar
informação extensivamente, arranjar apoio, construir projectos, pôr outras
pessoas em contacto.
Lembro-me o quanto me senti
sozinha e assustada (para além de muitíssimo entusiasmada…) quando comecei a
trabalhar para o Teatro São Luiz em Lisboa. Foi graças à ajuda e ao apoio do
gestor do teatro, Rui Catarino, que consegui encontrar o meu caminho. Mesmo
assim, senti a falta de uma rede profissional mais extensa e organizada –
daquele sentimento de comunidade, de família, com preocupações e objectivos
comuns – que encontramos quando iniciamos a nossa vida como profissionais de
museus.
Mesmo assim, aqui em Lisboa, nós
que trabalhamos em Comunicação em diferentes espaços de apresentação de artes
performativas, criámos há cerca de três anos um grupo informal de discussão,
chamado Sala de Ensaios. O funcionamento do grupo era simples: encontrávamo-nos
uma vez por mês, durante duas horas, para discutirmos um tema previamente
escolhido e muitas vezes tínhamos um convidado especial, um especialista na
área que ia ser discutida. Quando esgotámos os temas “grandes e urgentes”, os
nossos encontros, já mais espaçados, serviram como um ponto de encontro, um
espaço e um tempo onde pudéssemos debater as nossas preocupações e dificuldades
com colegas que sabiam exactamente o que pensávamos e sentíamos, que nos podiam
aconselhar, partilhar informações ou simplesmente ouvir…
Lembro-me de uma vez que o tema da
reunião era a publicidade. A nossa convidada era especialista nessa área. Ficou
surpreendida ao ver que, ao contrário do que sucede noutros sectores (onde
concorrência significa que quase tudo é top secret e é impensável que
haja qualquer tipo de partilha), nós estávamos reunidos sobretudo para
partilhar informações, para debater e para nos ajudarmos mutuamente. E esta é,
na verdade, uma das especificidades do sector cultural, tanto nos museus como
nas artes performativas. Não quero com isto dizer que não estamos a competir
uns com os outros, estamos. Mas existe tanta concorrência que vem de fora que,
naquilo que diz respeito aos nossos públicos ‘primários’ (e estou a referir-me
àquelas pessoas que assistem a eventos culturais, que estão interessadas e que
gostam de estar informadas), tornamo-nos mais fortes quando partilhamos informação
e desenvolvemos estratégias comuns do que quando viramos as costas uns aos
outros.
Acredito fortemente nas redes e já
mencionei algumas das razões: podem ajudar-nos a ser melhores profissionais
fornecendo um espaço (tanto real como virtual) de encontro, um espaço para se
fazer perguntas, trocar ideias, adquirir novas competências, arranjar apoio. É
isso que as redes sempre foram para mim. Mas agora vejo nelas mais benefícios.
Em primeiro lugar, pode ser uma
plataforma de uma escala mais adequada para os mais novos se exprimirem. Mais
do que uma vez nas últimas semanas ouvi colegas mais novos a falar da sua
reticência/receio ou desconforto em exprimir as suas ideias ou até fazer
perguntas nos grandes fóruns (como as conferências e os seminários), onde
participam os especialistas “estabelecidos” e respeitados na nossa área. Diria
que é normal. Redes de especialistas mais pequenas e grupos de trabalho podem
ser do tamanho certo para eles se sentirem à vontade para discutir
informalmente as suas preocupações e ideias. E precisamos dessas ideias.
Podem ainda ser os meios mais
apropriados para pessoas que partilham uma determinada mentalidade e têm
convicções relativamente a certos assuntos poderem empurrar a sua causa para a
frente, independentemente de hierarquias formais e rígidas ou, atrevo-me a
dizer, apesar delas. Trabalho em rede significa um lobby mais forte e
decisivo, independentemente da posição dos indivíduos na pirâmide hierárquica
de uma determinada estrutura. Trabalho em rede significa uma liderança
colectiva mais forte.
Na vida, há certas coisas que
simplesmente não podemos fazer sozinhos. Ou porque não somos suficientemente
fortes; ou porque não temos preparação, conhecimentos, experiência ou
auto-confiança suficiente; ou porque não temos uma voz suficientemente forte.
As redes profissionais podem ser o canhão que nos projecta alto e longe; e são,
sem dúvida, a nossa rede de segurança. As artes performativas têm, por isso,
muito a aprender com os museus, e não só em Portugal. Gestão, comunicação, educação, acesso, são todas áreas que
precisam de ser melhor trabalhadas, no sentido de promover a reflexão crítica e
as boas práticas, apoiar os novos profissionais do sector, criar as condições
para maior profissionalismo em áreas que são todas técnicas e construir um
discurso mais firme.