Musée d' Orsay (Imagem retirada de Louvre pour Tous) |
O debate da semana passada
sobre fotografia nos museus, organizado pela Acesso Cultura e pelo ICOM Portugal, não correspondeu às minhas expectativas. E
considero que, em parte, a culpa seja minha. Entendi o meu papel de moderadora
como, sobretudo, o de reguladora da conversa. Tendo partilhado publicamente as minhas
posições sobre este assunto – neste blog,
no
blog Mouseion, no jornal Público e também no portal Louvre pour Tous - considerei que este deveria ser o momento para
dar a oportunidade aos oradores convidados e aos colegas que assistiam para
trocar opiniões, esclarecer ideias, partilhar a sua visão para os museus no
século XXI. Porque o contexto actual em que se discute a fotografia nos museus
é um contexto para discutir a relação dos museus com as pessoas no século XXI.
A campanha "It's Time we Met" do Metropolitan Museum usou fotos tiradas pelos visitantes no museu. |
O debate tomou um rumo
diferente, concentrando-se principalmente em questões de direitos de autor e
nos interesses e pressões comerciais por trás da Directiva da EU Relativa à Reutilização de Informações do Sector Público.
Pouco
foi perguntado ou dito sobre os visitantes – fotógrafos e a forma como a actual
legislação portuguesa limita (ou não) a sua contribuição na promoção dos
museus. Houve algumas perguntas concretas sobre este assunto – como, por
exemplo, “O que é que se entende no despacho (ler aqui)
por
“divulgação” e os visitantes que tiram fotografias e partilham-nas nas redes
sociais são criminosos?”; ou “A actual legislação não
é incompatível com o facto de dois museus e dois palácios nacionais estarem
neste momento no Google Art Project?” -, mas ficaram sem resposta. A falta de
resposta directa pode ser ela mesma um indicador de incapacidade ou falta de
vontade em abordar estas questões fundamentais, mas, como moderadora, deveria
ter insistido para que houvesse uma resposta clara - afinal, era esse o propósito do debate - ,no entanto, achei que ia
envolver-me num diálogo pessoal com os intervenientes e, por isso, não o fiz (mea
culpa).
Imagens amplamente disponíveis na Internet. Autores desconhecidos ou... difíceis de encontrar. |
Mais para o fim do debate,
houve mais uma pergunta muito relevante: a Direcção-Geral do Património
Cultural tem realmente condições para controlar o uso das imagens tiradas pelos
visitantes e é esse o propósito do despacho? Qual é hoje a sociedade que é
suposto os museus servirem? Nesse momento, fomos informados que é muito difícil
controlar e que o despacho tem sobretudo uma função dissuasiva.
Cartazes criados pelo Musée Saint-Raymond, Musée des Antiques de Toulouse. |
Assim, e mais uma vez, os
visitantes, as pessoas, não estiveram no centro da discussão. Os objectos é que
sim. Um outro momento interessante no debate foi uma pergunta relativamente à
manipulação de imagens de obras de arte – como a imagem usada para a promoção
do debate. As opiniões foram diversas: desde o não haver mal nenhum neste uso
criativo de uma obra de arte, uma vez que as obras têm uma vida própria; ao
identificar um perigo na disponibilização de imagens de qualidade – como está a
fazer neste momento o Rijksmuseum e outros museus – e realçar a responsabilidade
dos profissionais dos museus em salvaguardar e proteger.
Gosto de museus que nos fazem sentir bem-vindos, livres,
inspirados. Aprecio os museus que têm bom sentido de humor e não têm medo de o
mostrar. Admiro os museus que não permanecem afastados do que se passa à sua
volta, na sociedade. Respeito os museus que procuram criar ligações com o mundo
exterior, debater e não impor. Não vejo nenhum perigo nisto, nem alguma falta
de respeito; vejo simplesmente relevância e sentido de missão.
Mas, acima de tudo, sinto-me tão contente quando vejo
pessoas a divertirem-se nos museus e a partilharem o seu prazer (mais ou menos
criativamente). Haverá melhor sinal de missão cumprida?
Publicidade da KLM. O Rijksmuseum foi o primeiro a partilhá-la no Facebook. |