Tuesday, 12 November 2024

The age-old paradox of democracy

 


A minha intervenção hoje na conferência da NEMO - Network of European Museum Organisations. Aqui

Saturday, 2 November 2024

Sem água, uma pessoa morre em nove dias, mas pode viver cinco anos sem toque humano. Este último será um luxo?

Coro de ex-mineiros nas Minas do Lousal. Juntar-se para cantar era (e é)
importante para eles. (Foto: Maria Vlachou)


O título é uma citação do livro de Justin O´Connor
“Culture is not an industry – Reclaiming art and culture for the common good”. Antes de entrar no assunto, vêm-me à memória dois episódios da minha vida profissional.

Em 2016, a Acesso Cultura tomou conhecimento de um grupo de trabalho constituído no ano anterior pelo governo português para fazer face à crise dos refugiados. Neste grupo estiveram representados os seguintes sectores: Direcção-Geral dos Assuntos Europeus/Ministério dos Negócios Estrangeiros, Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, Instituto da Segurança Social, Instituto do Emprego e da Formação Profissional, Direcção-Geral da Saúde; Direcção-Geral da Educação e Alto Comissariado para as Migrações. A cultura não foi convidada a fazer parte. A nossa associação escreveu ao Ministério da Cultura e foi-nos dito que o grupo estava quase a completar a sua tarefa e que o Ministério iria prestar mais atenção no futuro. Mais atenção a quê…? Ninguém considerou que a Cultura tivesse alguma coisa a ver com a chegada de refugiados a um país pequeno – nem mesmo o Ministério da Cultura e talvez também alguns profissionais da cultura.

Saturday, 26 October 2024

Obrigada, mas não, obrigada.

Não é fácil ler o livro de Ece Temelkuran “How to lose a country: The seven steps from democracy to dictatorship”. A escrita incisiva da jornalista turca torna-se por vezes assustadora, os seus testemunhos pesam muito no coração. Tive de fazer uma pausa de vez em quando. Todas as nossas perguntas, dúvidas, preocupações, frustrações sobre o que está a acontecer à nossa volta, estão neste livro. O que alguns de nós estamos a viver pela primeira vez já aconteceu antes e as táticas nunca foram diferentes. Não só a ascensão de Erdogan, a votação do Brexit, a eleição de Trump são colocadas sob o microscópio, mas Temelkuran tem uma visão clara de até onde precisamos de recuar para encontrar as origens de acontecimentos recentes e actuais e perceber que não fizemos/fazemos nada, embora a forma como se desenvolveram seja, nesta altura, muito previsível. Tão previsível como sete passos.

Saturday, 19 October 2024

And now for something completely different: o museu populista


Em Novembro de 2022, o Ministro da Cultura italiano, Gennaro Sangiuliano, falou sobre a necessidade de proteger melhor as obras de arte das acções dos activistas climáticos e afirmou: “Considerando o enorme património a proteger, a intervenção representará um custo considerável para o ministério e para toda a nação. Infelizmente, só posso prever um aumento do custo do bilhete de entrada.”

A declaração pareceu-me profundamente populista (e ridícula) na altura. Talvez não seja mais populista (ou ridícula), no entanto, do que a declaração da National Gallery no dia 17 de Outubro:

“Após os recentes incidentes no interior do museu, é agora necessário introduzir medidas reforçadas para garantir a segurança de todos os que a visitam, do pessoal da National Gallery e da colecção de pinturas da nação.

Thursday, 17 October 2024

Contra os passes cultura


Casa com telhado mas sem alicerces?
foi um post que escrevi em 2011 sobre a iniciativa do governo brasileiro de proporcionar o “Vale Cultura” a pessoas com baixos rendimentos. É um caso abordo ainda frequentemente em formações e debates, pois nunca me convenceu de que estava a abordar os verdadeiros problemas. As perguntas que os cidadãos fizeram na altura foram reveladoras: Podemos comprar videojogos com isto? Podemos pagar a TV Cabo? Uma senhora entrevistada na altura disse que achou muito bem, pois nunca tinha “ousado” ir ao teatro municipal do Rio de Janeiro (“É tão grande, tão bonito”, disse, “pensei, não é para mim”…). Mais importante ainda, houve pessoas que fizeram as perguntas difíceis: Como é que o vamos gastar? Não há livraria – cinema – museu – teatro onde vivemos.

Saturday, 12 October 2024

Além da lei

Museu Nacional, Praga.

Em 2021, estava em Praga a visitar o Museu Nacional. Quando apanhei o elevador para chegar à cúpula e ver a bonita cidade lá de cima, vi que havia um banco. Recordo-me de ter sido invadida por uma forte emoção ao ver este pequeno e discreto gesto de hospitalidade e amabilidade. O museu não incluiu o banco no elevador porque era obrigatório por lei. Reconheceu que nem todas as pessoas seriam capazes de permanecer em pé durante a lenta viagem até ao topo e que queria ter a certeza de que as pessoas se sentiriam confortáveis ​​ e seguras; sentir-se-iam bem-vindas. Quando o nosso desejo de abrir as portas a todos (seja lá o que “todos” possa significar) é honesto, partilhar a experiência com todas aquelas pessoas que possam estar interessadas ​​em fazer parte, não estamos condicionados por leis. Estamos prontos para ir mais além.

Sunday, 6 October 2024

Das silenciosas maiorias. Do medo e da liberdade.


Mais uma vez, atravessaremos o Atlântico, só para ficarmos conscientes do quão perto estamos e porque é que devemos prestar atenção ao que ali se passa.

Em Julho, escrevi um artigo para o jornal Público sobre o que se tornou numa situação extrema de proibição de livros nas bibliotecas escolares e públicas dos Estados Unidos. Escrevi na altura que os livros contestados tratam normalmente de questões LGBTQI+, raça e racismo, escravatura, genocídio de povos indígenas, religião. Existem também inúmeras exigências para que os livros sobre a puberdade sejam transferidos da secção juvenil para a secção de adultos... Situações semelhantes estão a ocorrer no Brasil e noutros países, sendo mais ou menos noticiadas pelos meios de comunicação mainstream.

Um relatório recente sobre a situação nos EUA, publicado pela Knight Foundation, mostrou alguns resultados muito relevantes: 78% das pessoas confiam nas suas escolas públicas para selecionar materiais apropriados; revelou também que “a maioria dos americanos se sente informada sobre os esforços para proibir livros nas escolas, mas apenas 3% dos inquiridos disseram que se envolveram pessoalmente na questão - com 2% a envolverem-se no sentido de defender o acesso aos livros e 1% a procurar restringir o acesso.” (ler mais). O que é que isto nos diz? Muitas pessoas estão informadas sobre o assunto, algumas, poucas, envolvem-se na defesa da liberdade de ler num país democrático, enquanto uma minoria vocal, muitas vezes violenta, tem permissão para decidir o que os outros podem ler e onde. Soa familiar?