Monday 13 April 2015

Vamos fazer um re-branding?



Recentemente, devido a alguns artigos e posts que li, a questão de como os museus são percepcionados pelas pessoas voltou a surgir na minha cabeça. Senti que há uma necessidade urgente de levar o branding a sério, como sector.

Para aqueles que não estão muito familiarizados com o conceito de branding, sugiro o brilhante discurso de Peter Economides Rebranding Greece, onde explica as coisas de forma muito clara:

- A marca (brand) é um conjunto de impressões na cabeça das pessoas;
- Branding é o processo de gestão dessas impressões;
- As marcas fortes criam impressões fortes e consistentes.

Os museus têm definitivamente criado impressões fortes e consistentes. A expressão muito popular "é uma peça de museu" - ou seja, algo velho, morto, empoeirado, não útil, algo do passado – mostra que impressões são essas, realmente... A nossa necessidade de promover os museus dizendo que eles são "espaços vivos" também indica que sabemos perfeitamente o que as pessoas pensam sobre nós.



Alguns anos atrás, fiz a minha primeira entrevista para o boletim do ICOM Portugal com o Director de Marketing da Xerox. O principal assunto da nossa breve conversa foi a campanha da empresa para a troca de peças antigas por novas. O senhor tentou ser gentil com os museus quando eu perguntei sobre a ligação que fizeram: "(...) Muitos dos nossos clientes mostram muita relutância em trocar equipamentos antigos enquanto estes ainda funcionam. Esta é uma atitude comum perante algumas das nossas ‘peças de estimação’, que gostamos de manter independentemente do seu custo real de manutenção ou de sabermos que a evolução tecnológica já as colocou ‘fora de moda’. Numa empresa, o ‘fora de moda’ pode ser a diferença entre o sucesso ou a sobrevivência. Num museu é onde tipicamente podemos ver peças fora da nossa época e com valor. A campanha pretende comunicar que, apesar do equipamento estar a funcionar e ser valioso, a sua antiguidade faz com que não tenha as funcionalidades e características da era tecnológica actual. Ou seja, estará fora da sua época e o seu lugar é em Museus, onde podemos ver como viviam e trabalhavam os nossos antepassados.” Foi uma tentativa generosa, mas todos nós podemos ler nas entrelinhas, não podemos?


Mais recentemente, li dois artigos (aqui e aqui) sobre o projecto “Futuristic Archaeology”, do artista coreata Daesung Lee. O fotógrafo explicou que a acção humana sobre o meio ambiente é uma das suas preocupações e sugeriu que “as paisagens verdejantes se tornarão escassas e que as recordaremos num espaço onde se apresentarão mortas, intocáveis e inatingíveis: num museu de história natural.”  Todos podemos ler nas entrelinhas, não podemos?



O terceiro caso que gostaria de discutir é o da campanha de um museu: o Museu do Holocausto de Buenos Aires. A campanha data de 2011, mas chegou à minha atenção agora, através de um post no Comunicacion Patrimonio. O slogan do museu é "Un museo, nada de arte", tentando colocar a ênfase nas pessoas e na sua história. Cada foto da campanha apresenta um sobrevivente do Holocausto e diz: "Ele / ela e milhões de outras pessoas não fizeram nada para estar num museu". Percebo o que querem dizer... E, ainda assim, não percebo... O museu aprovou uma campanha (uma bela campanha, devo dizer) que reforça uma série de estereótipos: que quando falamos em museus falamos em museus de arte; que as pessoas não precisam ter medo, porque não vão encontrar arte neste museu; que os museus são sobre os grandes (grandes artistas?) e não sobre pessoas comuns. Como disse, acho que esta é uma bela campanha, uma que coloca as pessoas em primeiro plano. Mas não posso concordar com o facto de, a fim de passarem a sua mensagem, terem usado uma série de estereótipos que ajudam a reforçar impressões negativas que as pessoas têm dos museus. E eles são um museu…

As impressões das pessoas coincidem com o que os museus são hoje? Não vou negar que alguns museus, em quase todos os países, ainda são dignos do que as pessoas pensam deles. Mas muitos não o são. Em grande medida, os museus mudaram as suas atitudes, as suas formas de trabalho, a sua imagem, por isso precisam de pensar seriamente na forma de mudar essas percepções que persistem na cabeça das pessoas.

Um dos meus livros favoritos é "Designing Brand Identity" de Alina Wheeler. Voltei a ler o capítulo “When is it needed?” (ou seja, quando é que o branding é preciso), onde são identificadas seis razões para procurar um especialista em “brand identity”: 1. nova empresa, novo produto; 2. mudança de nome; 3. revitalizar uma marca; 4. revitalizar a identidade de uma marca; 5. criar um sistema integrado; 6. empresas que se fundem. O caso dos museus está claramente associado à terceira razão, considerando que eles precisam de se reposicionar e renovar a sua marca corporativa; já não fazem o mesmo que faziam quando foram fundados; precisam de comunicar de forma mais clara quem são; muitas pessoas não sabem quem são; desejam atrair um novo mercado.

As impressões na cabeça das pessoas são poderosas. Os estereótipos levam muito tempo para se dissolver. Não admira que muitas pessoas ainda se mantenham afastadas (facto para o qual contribui também a forma como os museus comunicam a sua oferta em geral, incapazes, muitos deles, de apelar à pessoa comum, o visitante não-especialista). Os museus precisam de ter um papel activo na mudança dessas percepções e precisam de o fazer com cuidado, com conhecimento de causa, com urgência e ... unidos.

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