Consuelo Hidalgo é uma
mulher cheia de energia e entusiasmo que nos faz sentir que tudo é possível. E
que trabalha muito para que as coisas realmente aconteçam. Neste momento, é a
pessoa certa no lugar certo. Como Directora Executiva da Fundacion Niños com
Futuro pode juntar o seu amor pelas artes ao seu amor pelas crianças. Neste
texto, partilha connosco a história do seu contributo para o futuro de Equador.
Sonha com e trabalha para que o seu país seja habitado por cidadãos sensíveis,
criativos e genuínos pensadores críticos. mv
Uma aluna do ensino pré-escolar num concerto para crianças da Orquestra Sinfónica de Guayaquil. (Foto: Consuelo Hidalgo) |
Lembro-me da primeira
vez que ouvi a minha avó contar-me com grande entusiasmo a história de La
Traviatta. Tinha cinco anos e fiquei muito impressionada com o enredo e o
como aquela música e aquelas vozes apaixonantes narravam o drama de uma forma
tão mágica, e também tão incompreensível. Foi assim que fui apresentada à
ópera: um jogo de contar histórias de uma avó que se tornou num novo modo de
percepcionar e entender essa forma de arte.
Todas as formas de arte têm uma história para contar. Eu,
tendo trabalhado durante muitos anos em projectos de desenvolvimento de
públicos mais novos em museus, orquestras sinfónicas e fundações para crianças,
aprendi a importância da forma, qualidade e frequência das histórias que
contamos às crianças para as envolver nas artes.
No Equador, a maioria das actividades na área das artes
performativas é gratuita para as crianças. Portanto, porque é que a maioria dos
jovens equatorianos está tão afastada do ambiente artístico? Penso que o
problema começa com a ‘vontade’ das instituições de ensino e dos pais de os
levar a espectáculos e ensaios (que, em certos dias, são quase todos abertos ao
público). Sendo assim, a minha questão é: qual é a história que estamos a
contar aos professores e aos pais sobre os benefícios de assistir a um
espectáculo e como é que as instituições artísticas locais planeiam as suas
actividades para servir os públicos mais novos? E, ainda, quão sustentáveis
serão as instituições artísticas nos próximos anos, uma vez que as artes e a
música já não são uma disciplina obrigatória nas escolas e a população consome
outros géneros de entretenimento?
Um concerto do Maestro Ivan Fabre (primeiro violino da Orquestra Sinfónica de Guayaquil) para crianças da Fundacion Niños con Futuro. (Foto: Consuelo Hidalgo) |
Não dispomos ainda
de estudos formais sobre o impacto de programas de educação artística
nos públicos mais novos no Equador. O nosso parâmetro para medir os resultados
é o feedback que recebemos dos pais e dos professores. Lembro-me muito
bem quando estava a desenhar o meu primeiro programa ‘formal’ de educação
artística, “Cultura para todos”. Estava a trabalhar no Museu de Arte Colonial
Nahim Isaias e, como podem imaginar, despertar o interesse das crianças pelas
artes coloniais não era propriamente fácil. Por isso, comecei a brincar com
conceitos usados pelos nossos conservadores nas exposições que poderiam ser
apresentados como uma história paralela numa linguagem familiar para os alunos.
Por exemplo, com base numa exposição permanente inspirada na iconografia,
criámos um programa especial de acordo com padrões académicos estabelecidos a
nível nacional e local. Cada professor recebeu um caderno de actividades para
poder guiar os alunos e era suposto implementar o programa na sala de aulas,
enquanto os conceitos específicos de arte e iconografia eram ensinados durante
a visita ao museu. O programa tinha sido feito para apoiar a aprendizagem na
sala de aulas. O objectivo de tudo isto, e também dos programas para o
desenvolvimento de públicos mais novos que se seguiram na Orquestra Sinfónica
de Guayaquil, era envolver os alunos através de uma abordagem criativa ao
ensino, proporcionar experiências artísticas às crianças e fornecer aos
estudantes instrumentos de auto-expressão. Esta experiência incluía visitas ao
museu, onde as crianças recebiam um caderno de actividades, como palavras cruzadas,
adivinhas, e pistas para jogar um jogo de mistério conduzido pelo pessoal do
museu; incluía ainda visitas à orquestra sinfónica, concertos do quarteto de
cordas nas suas escolas, acompanhados também de um caderno de actividades
realizadas após o concerto. A reacção dos professores e dos pais foi muito
positiva, uma vez que podiam ver claramente que os alunos se envolviam mais nas
aulas e demonstravam uma apreciação pelas artes mais activa e mais sustentada.
A experiência mais recompensadora era ver as crianças regressarem com os seus
pais no fim-de-semana (e darem-nos conhecimento que tinham regressado), assim
como saber que as escolas que tinham participado nos nossos programas incluíam
agora feiras de artes e cultura no seu calendário escolar (fomos convidados a
inaugurar oito dessas feiras).
Foi assim que, há oito anos, comecei a desenvolver
parcerias com a comunidade para garantir uma educação artística de alta
qualidade para os mais novos, e estabeleci o objectivo de melhorar a capacidade
das escolas e da comunidade para abraçar as artes, o que, espero, irá criar no
futuro uma procura sistémica de educação artística.
Então, qual é a história que deveríamos estar a contar à
sociedade sobre a importância das artes na vida das crianças? A arte é uma
estratégia relevante para a educação em todas as áreas. Nos primeiros anos da
infância, aumenta o pensamento criativo, reflectivo e crítico. É um instrumento
de aprendizagem que estimula a habilidade de criar e inovar. Podemos, por isso,
dizer que, através da arte, as crianças podem expressar os seus sentimentos e
criatividade à medida que desenvolvem a sua capacidade de pensamento crítico.
Crianças da Fundacion Niños con Futuro visitam o teatro em Guayaquil. (Foto: Consuelo Hidalgo) |
A questão com a qual estamos a ser confrontados neste
momento não é “educação menos arte” versus “educação mais arte”, mas,
sim, qual é a qualidade das capacidades essenciais com as quais esperamos – e
devemos – equipar as futuras gerações? Será um kit de ferramentas para o desempenho de simples
tarefas práticas? Ou, em vez disto, iremos promover aquele pensamento flexível,
imaginativo e crítico que é necessário para lidar com os desafios, complexos e
em constante mudança, com os quais somos confrontados no mundo contemporâneo?
Será limitado à sala de aulas? Ou, em vez disto, irá tornar-se num recurso ao
longo da vida para o crescimento e enriquecimento pessoal? Irá tornar-nos mais
conscientes dos detalhes subtis da vida?
O meu envolvimento nas artes quando era criança mudou a
minha vida para sempre. Não seria hoje tão activa neste campo se assim não
fosse. Esta é a história que vos quero contar e espero poder ouvir histórias
parecidas no futuro contadas pelas gerações seguintes.
Consuelo M. Hidalgo é
jornalista. Actualmente, é Directora Executiva da Fundacion Niños con Futuro. Antes, tinha sido promotora
cultural da Orquestra Sinfónica de Guayaquil, onde foi responsável pelos
programas de desenvolvimento de públicos, relações internacionais e programas
educativos. Iniciou a sua carreira profissional como Directora de Relações
Públicas do Museu de Arte Colonial Nahim Isaias, em Guayaquil. Durante o seu
tempo no museu, desenvolveu vários projectos culturais com o objectivo de
integrar pessoas com menos recursos. O projecto foi chamado “Cultura para
Todos” e estendeu-se a outras cidades do país. Em 2006 foi convidada pelo MAAC,
um museu de antropologia e arte contemporânea, para gerir o projecto “Vivir la
Cultura”, um projecto que proporcionava espectáculos gratuitos tendo como palco
zonas regeneradas da cidade. Em 2008, entrou no Bureau of Education and Cultural
Affairs do U.S Department of State e no John F. Kennedy Center for the Performing
Arts International Cultural Exchange Fellows Mentoring Program for Performing
Arts Managers. Acabou recentemente o seu fellowship em Arts Management no DeVos
Arts Management Institute at the John F. Kennedy Center for the Performing
Arts.