Museu de Belas-Artes, Budapeste (Foto: Maria Vlachou) |
Quando entro numa sala de museu que
tem um El Greco pendurado na parede, tudo pára à minha volta. Não há barulho,
não há movimento, apenas eu, ele e silêncio. Em alguns casos em que fui
apanhada de surpresa, porque não sabia que tinham um El Greco na suas colecções,
houve mais ainda: pareceu que de repente deixei de respirar, senti uma fraqueza
nas pernas. Ele é um dos meus pintores favoritos. E é também um homem de Creta,
que levou Bizâncio com ele para qualquer lugar onde fosse e que nunca assinou
as suas obras numa língua que não fosse a dele.
Vi El Greco em várias ocasiões e em
diferentes circunstâncias: exposições blockbuster nas Pinacotecas de
Atenas e Londres, salas muito movimentadas no Louvre ou no Metropolitan ou em
Toledo, um canto sossegado na Phillips Collection em Washington ou, mais
recentemente, numa sala grande quase só para mim, no Museu de Belas-Artes de
Budapeste. Qual foi a melhor experiência? Todas elas.
Várias vezes nos últimos tempos li e ouvi comentários
de profissionais de museus e de visitantes que se queixam que os museus não são
o que eram. Sentem que não podem ter o que chamam “uma verdadeira experiência”
porque estão cheios de gente. Anseiam para poder estar sozinhos com a arte e
são muito críticos deste museu novo onde toda a gente é bem-vinda, mesmo que
não estejam lá pelas “razões certas”. Compreendo as pessoas que procuram um
ambiente específico de calma e intimidade quando visitam. Mas preocupa-me
quando parece que acham que os museus foram feitos só para eles (e assim deveriam
ficar) e quando os profissionais apoiam estas opiniões.
Os museus têm que dar resposta a todo o tipo de
pessoas e necessidades. Quando se procura diversificar a audiência, levanta-se
sempre a questão de como o fazer sem afastar os públicos existentes. Não é
fácil de qualquer forma e torna-se ainda mais difícil no caso de museus
movimentados e populares. Há visitantes que sabem mais e visitantes que sabem
menos; visitantes que procuram intimidade e visitantes preparados para fazer a
fila durante horas e para visitar na companhia de centenas de outras pessoas.
Necessidades diferentes, perspectivas diferentes, mas nenhuma mais legítima que
as outras, diria eu.
Uma amiga enviou-me na semana passada o artigo de
Brian Cohen How to visit a museum.
Apesar de não concordar com as suas opiniões sobre o que os museus representam
(ou deveriam representar) na vida cultural de quem os visita, vejo que é um
visitante que sabe muito bem o que procura e gostei muito de ler os seus
conselhos para as pessoas que desejam adaptar a visita às suas necessidades e
interesses. Os museus talvez pudessem adoptar esta ideia e aconselhar os seus
visitantes no que diz respeito a horários e dias mais calmos, percursos
sugeridos ou alternativos etc. (alguns já o fazem). Deveriam estar abertos e
ser corajosos, deveriam reconhecer que os seus visitantes têm agendas
diferentes e tentar orientá-los nos seus propósitos. E acima de tudo, deveriam
deixar claro que um visitante não é mais bem-vindo do que outro.
Voltando a mim, uma visitante como tantos outros, tomo o meu El Greco como estiver. Adoro os encontros íntimos, aqueles
momentos preciosos em que o tenho só para mim e posso parar, olhar e sentir o
tempo que quiser. Mas já mais que uma vez tive que o partilhar com
muitas-muitas outras pessoas, tive que ficar na fila e esperar pacientemente
até ser a minha vez de ficar em frente a um quadro, sentindo-me um pouco
pressionada pela pessoa atrás de mim. Faz tudo parte do ritual. Sabia que ia
ser assim e gostei daquele sentimento de comunidade, de prazer e alegria
partilhados. Gosto de museus calmos e gosto de museus movimentados. Gosto de
museus.
Ainda neste blog
Mais
leituras
Are blockbuster exhibitions worth queueing for?. Entrevistas com Miranda Sawyer e Charles Saumarez Smith no Observer (12.11.2011)
Blockbuster art: good or bad?. Entrevistas
por Emine Saner no Guardian (25.1.2013)
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