Nas últimas semanas, tive a oportunidade de conversar com alguns colegas em relação a certas questões de acessibilidade nas suas exposições. Coisas como legendas mal iluminadas, mau contraste entre letras e fundo, legendas colocadas demasiado baixo, objectos expostos a um nível elevado e sem inclinação, textos longos e complicados. Acredito que estas são questões que podem ser facilmente resolvidas, sem qualquer investimento adicional, apenas com um algum planeamento prévio e a preocupação de não excluir. Na verdade, quando as exposições são projectadas para ser inclusivas, não só não custam mais, como podem, realmente, trazer mais receita, uma vez que mais pessoas terão acesso às mesmas.
Senti-me um pouco
confusa quando as pessoas que abordei me disseram que sabiam tudo sobre as
questões que levantei. Porque é que as coisas aconteceram dessa maneira, então?
É possível que nós estejamos a criar conscientemente barreiras ao conteúdo das
nossas exposições? Porque é que as fazemos, então, se não para as pessoas as
poderem apreciar?
Sinto a mesma
perplexidade em conferências ou cursos de formação, quando discutimos questões
de gestão, comunicação, marketing, serviços ao visitante, educação, etc. Às
vezes, alguns colegas aproximam-se e dizem: "Temos estado a dizer aos nossos superiores o que
acabaste de dizer há anos e anos. "
Assim, parece que não
faltam profissionais de museus (incluindo os vigilantes) que estão conscientes
de uma série de pequenos e grandes problemas de gestão ou de comunicação. Temos
ainda feedback dos próprios visitantes, através de livros de visitas, cartões
de comentários, estudos de público, etc. Por fim, existe ainda o contributo de
académicos, pensadores, bloggers, como Maria Isabel Roque - que recentemente
nos lembrou algumas das coisas que ainda estão por acontecer, no seu post
Acerca do que (ainda) falta ao património - ou Luís Raposo - um dos poucos profissionais de
museus em Portugal que partilha regularmente e publicamente as suas opiniões,
sendo o seu mais recente artigo de opinião sobre a abertura do novo Museu dos
Coches e os planos para o eixo Belém - Ajuda em Lisboa.
Assim, não podemos
reclamar que não temos já feedback realmente valioso - tanto de “insiders” como
de “outsiders” - que pode ajudar a construir estratégias, corrigir erros, tomar
decisões, registar tendências, compreender mudanças e desenvolvimentos. Porque
é que os decisores e os responsáveis directos pela gestão dos museus não agem
sobre isso? O que é que nos impede de avançar, com que tipo de barreiras
estamos a lidar? Porque é que procuramos mais estudos, estudos novos, se não
fizemos nada ainda sobre as coisas que já sabemos? Porque é que o conhecimento
existente parece não ter qualquer impacto sobre práticas de gestão?
Aqui está a minha
tentativa de identificar algumas razões:
Talvez seja porque,
apesar das declarações politicamente correctas que os museus estão ao serviço
da sociedade, eles estão sobretudo ao serviço de quem as gere. As pessoas -
aquelas que vêm e as que não vêm - e os seus interesses e necessidades não são,
na verdade, a nossa principal preocupação. Os objectos é que o são e basta que
fiquem bonitos para aqueles que sabem apreciá-los.
Talvez seja porque
neste sector trabalhamos com planos de curto prazo, que seguem os ciclos
eleitorais e que podem facilmente ser abandonados, sem explicações de maior e
sem assumir responsabilidades. Assim, grandes e pequenas questões permanecem e
a sua discussão perpetua-se, sem trazer desenvolvimentos.
Por fim, talvez seja
porque temos a tendência de ficar pelo que é “bom o suficiente”. Sabemos quais
são os problemas, mas chega um momento em que não podemos insistir mais: ou
porque não conseguimos convencer com os nossos argumentos ou porque sentimos
que não podemos esperar ou exigir mais dos outros. Só que “bom o suficiente”
não é bom o suficiente e o argumento “um passo de cada vez” não nos leva tão
longe quanto devia. Na verdade, muito frequentemente nos mantém no mesmo lugar.
Ainda neste blog
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