Monday 11 May 2015

Uma boa ideia, duas respostas, algumas lições


Passam este ano 125 anos desde a morte de Vincent Van Gogh. A partir de 3 de maio e ao longo de 125 dias, o Museu Van Gogh em Amsterdão irá responder a 125 questões sobre o pintor, a sua vida e a sua obra. O museu convida todos os interessados ​​a fazer uma pergunta através do seu website e de uma página especialmente criada para apresentar as perguntas e respostas (ver vídeo promocional e visitar a página).


As primeiras oito perguntas foram já respondidas e vejo-me a esperar ansiosamente pelo que vem a seguir. Fico impressionada com o quão simples é a ideia na base do projecto e com a riqueza de conhecimento que irá gerar: não só em relação a Vincent Van Gogh, mas também, e igualmente importante, em relação aos visitantes do Museu Van Gogh (físicos e virtuais), os seus interesses, os seus conhecimentos, as suas perguntas e assim também em relação à resposta que o museu dá, actualmente e no futuro.

Outra coisa que devemos mencionar aqui é que esta não é uma "boa ideia" isolada. Inscreve-se numa política mais alargada do museu de estabelecer um relacionamento com pessoas com diferentes perfis, tendo como base a missão clara de tornar "o trabalho de Vincent Van Gogh e a arte do seu tempo acessível para tantas pessoas quanto possível, com o objectivo de as enriquecer e de as inspirar".


Este foi também o desafio dado aos webdesigners que trabalharam no novo website do museu, apresentado no final do ano passado. David van Zeggeren, da Fabrique, escreveu num artigo publicado no The Guardian, que lhes foi precisamente pedido desenvolverem um website que apoiasse a missão do museu. Como é que eles fizeram isso? Com a criação de duas áreas distintas: Visite o Museu e Conheça Vincent. "Tivemos que garantir que seria fácil para os visitantes planearem a sua visita, mas também tentá-los com histórias inspiradoras sobre o artista. (...) Com este conceito "Conheça Vincent", a equipa teve que tornar não apenas a colecção (e, portanto, o museu) acessível, mas também o artista. (...) Cada história foi especialmente escrita e desenhada para o website e oferece novas abordagens ao trabalho do artista e dos seus contemporâneos."


 Responder a questões particulares das pessoas é também a base simples por trás da Ask App do Brooklyn Museum, da qual falei no meu último post. Baseando-se na sua missão, "actuar como uma ponte entre o rico património artístico das culturas do mundo, tal como se apresenta nas suas colecções, e a experiência única de cada visitante", o Brooklyn Museum procura neste momento mudar (melhorar) a experiência do visitante desde a entrada até à saída. A Ask App tem envolvido, durante mais de um ano,  curadores e membros das equipas de interpretação e web, e vai ser lançada em Junho. Todas as partes do processo têm sido generosamente partilhadas por membros da equipa no blog do museu, e qualquer pessoa interessada pode ir aprendendo com eles. Esta é uma resposta mais sofisticada para a necessidade de envolver as pessoas de uma forma mais personalizada e significativa. Acho que é verdadeiramente impressionante, uma vez que envolve também Location Aware Technology, usada para informar a equipa que responde às perguntas em que sala se encontra o visitante e que outras obras estão nas proximidades, o que lhes permite dar uma resposta mais completa e guiar melhor o visitante. Cada etapa do desenvolvimento da app está a ser avaliada e às vezes há consequências simples e práticas, como o repensar uma tabela, quando os visitantes fazem a mesma pergunta sobre uma obra de arte específica.

O dashboard da Ask App do Brooklyn Museum (imagem retirada do blog do museu)
Apesar do nível de sofisticação dos dois projectos ser muito diferente, a sua base comum - responder a perguntas das pessoas – fez-me juntá-los no mesmo post. Acredito que há algumas lições claras a tirar de ambos:

Tudo começa com uma missão clara: os projectos não são desenvolvidos simplesmente porque alguém teve uma ideia que pareceu boa ou porque se aproxima uma comemoração, mas porque eles ajudam o museu a cumprir sua missão. Realmente, todas as ideias para projectos devem ser testadas em face da missão. Quantas vezes fazemos este exercício?

Devem ser envolvidas as pessoas certas: isto provavelmente soa como um luxo em países que lutam com graves cortes e equipas sobrecarregadas de trabalho, com as pessoas a fazer um pouco de tudo. Mas, se quisermos ser relevantes e fazer parte da vida das pessoas, chega um momento em que as prioridades devem ser claramente definidas e o objectivo deve ser algo mais do que iniciativas que são "OK" e resultados que são "OK" - mesmo que nós insistamos em apresentá-los como "extraordinários". Quando vamos poder começar a trabalhar nisto?

Finalmente, a avaliação: uma missão clara e objectivos claros permitem definir indicadores de avaliação igualmente claros, de modo a monitorizar se as coisas estão a ser desenvolvidas de acordo com o plano e a fazer as mudanças necessárias. Podemos dizer honestamente que o número de exposições apresentadas, o número de actividades propostas e o número de pessoas que participaram são indicadores suficientemente bons quando apresentamos os nossos relatórios no final do ano? O que é que nos dizem - por si só - sobre a qualidade e o impacto do nosso trabalho, em relação aos objectivos inicialmente definidos?


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