Wednesday, 21 June 2017

Uma tragédia nacional: o que é que "a Cultura" tem a ver com ela?


No Domingo de manhã as notícias ultrapassavam o pior pesadelo. O grande incêndio na zona de Pedrógão Grande tinha tirado a vida a 19 pessoas. Ao longo do dia, este número foi subindo. O país estava em estado de choque.

O Teatro Maria Matos em Lisboa foi dos primeiros a reagir. Não se limitou a anunciar o cancelamento do espectáculo naquele dia, no seguimento da decretação de luto nacional, mas informou os seus seguidores no Facebook sobre possíveis formas de ajudar e foi actualizando esta informação. Manteve-se solidário e envolvido.

Mensagens sentidas vieram também da parte da Companhia Nacional de Bailado, do Teatro Nacional D. Maria II e do Teatro Nacional São João. Todos eles falaram em tragédia, referiram-se às vitimas e suspenderam a sua programação ou anunciaram um minuto de silêncio. Ontem, o Teatro Nacional D. Maria II anunciou que a receita da bilheteira de dois espectáculos no próximo Sábado reverterá a favor da Associação de Bombeiros voluntários de Pedrógão Grande.

A EGEAC, empresa municipal para a cultura em Lisboa, lamentou profundamente a perda de dezenas de vidas e suspendeu a programação das Festas de Lisboa. Dois dos equipamentos tutelados pela empresa partilharam este post sem mais comentários (dois museus). As Bibliotecas de Lisboa partilharam o post da Câmara Municipal falando na necessidade de ajudar. O Museu de Leiria (juntamente com o Município de Leiria e Leirena Teatro) fez referência às “noticias desoladoras e de profunda tristeza” e informou do cancelamento da programação.

Houve ainda quem anunciou a suspensão da sua programação como resultado da decretação de luto nacional, sem nenhuma referência à tragédia, e, de resto, continuou a publicar notícias relativas à sua programação.

Mas sobretudo houve silêncio. Grande silêncio. Consultei as páginas de Facebook dos museus nacionais no dia 18, e novamente hoje, e não encontrei nenhuma referência, ou seja, nenhuma reacção, nenhum envolvimento, nem uma palavra. O que se passa à sua volta, o facto do país estar em estado de choque, de se terem perdido violentamente tantas vidas, não merece uma palavra? Não tem nada a ver com a missão desses museus? Com a razão porque existem? Alguns colegas, inclusivamente directores de museus, fizeram posts nas suas páginas pessoais, partilharam os seus sentimentos, a sua humanidade. Porque é que consideram, no entanto, que as instituições em que trabalham ou que dirigem, nada têm a transmitir à sociedade portuguesa sobre o que aconteceu? As instituições culturais não são humanas, não estão integradas na sociedade, não sentem a sua dor? Como é penoso este silêncio...


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