É sempre um prazer e uma inspiração ler os posts de Nina
Simon. Mas os que eu sempre gostei mais foram aqueles em que Nina partilha as suas
aprendizagens pelo facto de ocupar um lugar de responsabilidade, como Year One as a Museum
Director… Survived! ou o mais recente Why We Moved the Abbott Square Opening - A Mistake, a Tough Call and a Pivot.
Estamos todos muito habituados a directores de museus - ou
outras pessoas que ocupam lugares com responsabilidade de liderança no nosso sector
- disponíveis para falar de finais felizes. Raramente do processo, nunca das
falhas. Mesmo quando se sentem forçados a comentar sobre acções e situações que
recebem críticas negativas, parece haver sempre uma forma de dar a volta, encontrar
justificações, focar detalhes irrelevantes, oferecer verdades alternativas.
Qualquer coisa que possa desviar a nossa atenção do que deve ser essencialmente
discutido. Qualquer coisa excepto um claro "É verdade, errámos, estamos
disponíveis para falar sobre isso."
O último post de Nina Simon lembrou-me, inevitavelmente, da
recente re-inauguração do Museu Nacional dos Coches. Para aqueles que não estão
familiarizados com este caso, este museu nacional foi apressadamente inaugurado
pelo governo português em 2015, como um novo edifício e um armazém para a colecção
dos coches, já que a museografia ainda não estava pronta. Ainda assim,
chamou-se de "museu" e cobrou entradas como um "museu",
enquanto a falta de museografia foi apresentada como um detalhe menor pelo
então Secretário de Estado da Cultura. Em ano de eleições legislativas, o museu
tinha que abrir a qualquer custo.
Com a museografia finalmente pronta, o Museu Nacional dos
Coches foi re-inaugurado no mês passado. O termo "re-inaugurado" foi
usado com e sem ironia por jornalistas, profissionais de museus e cidadãos. E,
no entanto, algumas pessoas que ocupam lugares de responsabilidade entraram
voluntariamente num jogo de palavras, opuseram-se ao uso do termo
"re-inauguração" e informaram-nos que esta era "apenas" a
apresentação oficial do projecto de museografia. Como cidadã e como
profissional de museus, senti-me incomodada e profundamente ofendida. Neste
ambiente de "vale tudo", existem pessoas com responsabilidades que
facilmente sacrificam a sua auto-estima e cometem o terrível erro de subestimar
e desrespeitar a inteligência dos outros.
O caso do Museu Nacional dos Coches não é único em
Portugal. Naquele mesmo ano de 2015, o Museu do Aljube (um museu municipal que
conta a história da resistência contra a ditadura) foi inaugurado antes da sua
conclusão, porque "tinha que" abrir no dia 25 de Abril, o dia da
revolução. O que diferencia este caso é que as pessoas que visitaram nas primeiras
semanas após a inauguração eram informadas pelos funcionários que não se pagava
entrada porque o museu ainda não estava pronto – o que não torna a situação mais
aceitável, mas torna-a um pouco mais honesta. Outra "falsa"
inauguração foi a do MAAT - Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia, em Outubro
de 2016, que levou as pessoas a fazer fila durante horas, para sairem depois
dizendo "É só isso?!" (leiam o post MAAT, gerador de expectativas).
Voltando ao post de Nina Simon, em relação ao adiamento da
abertura da Abbott Square, duas declarações ressoaram particularmente comigo:
"Há
dez dias, cancelámos tudo. Porquê? A razão é simples: não estávamos prontos."
Claro, directo, honesto. Nina Simon não procurou desculpas,
não tentou embelezar os factos, muito menos procurou apresentar factos
alternativos. As coisas não estavam a ir de acordo com o plano, havia decisões
difíceis que tinham que ser tomadas. E foram tomadas.
Mais à frente, uma outra grande lição que Nina Simon nos
dá:
"Estou
muito agradecida à nossa equipa, ao conselho de administração e à comunidade
por apoiarem esta mudança. Cometi o erro, e eles fizeram a solução funcionar. A
nossa equipa fez um trabalho incrível, comunicando a alteração junto da
imprensa, de membros e parceiros – conseguiram mesmo adiar uma notícia de capa
que foi para impressão apenas algumas horas depois da alteração. A nossa equipa
informou toda a gente, com clareza e rapidez, sobre a alteração e enfatizou que
adiámos a abertura para podermos oferecer aos nossos membros a melhor
experiência possível. As pessoas mostraram-se compreensíveis em relação ao atraso
e entusiasmadas com a perspectiva da abertura. E eu voltei a dormir à noite...
enquanto passo os meus dias a trabalhar arduamente para garantir que o projecto
corresponda aos maiores sonhos da nossa comunidade."
O que vejo em Nina Sinom é uma verdadeira líder: que
reconhece os seus erros, que é honesta consigo própria e com os outros, que age
com respeito com a sua equipa e com a comunidade, que procura servir, acima de
tudo, a missão do museu. E o que recebe em troca é precisamente o respeito e
apoio das pessoas. Nina não procurou desculpas, não culpou os outros, não
tentou enganar ninguém com pequenas mentiras ou histórias alternativas. Prestou
contas publicamente e partilhou o que aprendeu com todos nós, seus colegas. Abbott
Square irá abrir e será uma grande festa para todos. Será também um excelente
exemplo de liderança num museu. Espero que venha a ter a ressonância que merece
aqui no nosso canto do mundo.
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