Faisal Kiwewa é um homem calmo, mas cheio de energia e
determinação. Tem estado a trabalhar arduamente para colocar as artes e a
cultura no mapa do seu país natal, o Uganda, mas tem expandido o seu impacto em
toda a África de Leste e o resto do continente africano. Está constantemente a
pensar e a planear o próximo passo para levar a causa mais longe. Neste post conta-nos a história,
em forma de conto de fadas, da sua Bayimba Cultural Foundation. Mas a equipa de Bayimba trabalha para que o conto se torne e permaneça uma realidade. mv
Faisal Kiwewa é fundador e director de Bayimba Cultural Foundation e presidente da comissão oganizadora da Uganda Annual Conference on Arts and Culture (UACAC).
… um rapaz (eu) que se interessou por estudar e
observar o estado das artes e da cultura no seu país, o Uganda. Não foi difícil
notar que havia falta de boas e relevantes oportunidades de formação(informal)
e de instituições; falta de criatividade e das capacidades artísticas e
profissionais necessárias entre artistas, organizações culturais e outras
partes interessadas; falta de produção adequada e de instalações para a
realização de espectáculos; e falta de plataformas de exposição e interacção.
Ao cavar mais a fundo, apercebi-me que as principais causas eram três:
primeiro, a falta de reconhecimento e apreciação do papel das artes e da
cultura em moldar a sociedade; segundo, a falta de investimento nas artes e na
cultura; e, terceiro, a falta de interacção e colaboração entre as partes que
compõem o sector das artes e da cultura.
Como é o caso em muitos países em desenvolvimento,
a cultura não é uma prioridade para o governo. É vista como uma questão
subsidiária ao combate à pobreza. O apoio financeiro ao sector é, por isso,
mínimo e as políticas e estratégias culturais fazem uma abordagem algo estática
relativamente à cultura em vez de olharem para ela como uma força dinâmica,
inovadora e criativa na construção da sociedade. O apoio do sector privado tem
sido também limitado e necessariamente selectivo. Os investidores privados têm
focado sub-sectores onde o risco pode ser gerido e o lucro pode ser maximizado.
Ao mesmo tempo, outras partes interessadas no sector não se têm organizado no
sentido de mudarem o status quo, enquanto a maioria dos projectos e das
actividades é implementada em isolamento e sem uma visão a longo prazo, sem
falar da visão para o sector cultural e das artes no seu todo.
Cheguei à conclusão que o potencial das artes e
da cultura como contribuintes eficazes
ao desenvolvimento social e económico estava a ser altamente
negligenciado e subutilizado. Era altura de provocar alguma mudança! Foi,
assim, fundada a Bayimba Cultural Foundation, com o objectivo de se tornar num
catalisador para essa mudança!
… Bayimba começou a sua viagem …
Confrontado com estes múltiplos desafios e a enorme tabula rasa – a
todos os níveis, estava tudo por fazer -, Bayimba, com a experiência que tinha,
começou a desenvolver o seu primeiro programa. Apesar de vários obstáculos, o
primeiro Bayimba International Festival of the Arts foi organizado em
combinação com três workshops de formação para artistas, com o objectivo de
reforçar as capacidades e estimular colaborações artísticas. Isto aconteceu em
2008 e ali foram semeadas as primeiras sementes. Nos anos que se seguiram,
Bayimba cresceu e conseguiu desenvolver um programa abrangente e ambicioso que
procura dar resposta a muitos dos desafios identificados.
Para reforçar o perfil e a posição das artes e do sector cultural como um
todo, Bayimba decidiu envolver-se em actividades de lobbying, para além
das actividades de formação e da plataforma que criou para apresentar o talento
artístico. Em 2009, Bayimba começou com os primeiros debates sobre o papel das
artes e da cultura na sociedade e despertou o sector. Um ano depois, teve lugar
no Uganda a primeira Conferência sobre Artes e Cultura, como uma plataforma de
discussão e acção conjunta. Bayimba tem sido instrumental em juntar as partes
interessadas e organizar o sector das artes e da cultura, tudo isto com o
objectivo de nos juntarmos para trazermos a mudança.
Para fornecer mais plataformas de exposição do talento artístico, para
assegurar que um púbico mais amplo possa usufruir de uma variedade de
expressões culturais e para ajudar a desenvolver o sector das artes e da
cultura em todo o país, em 2010 acrescentou-se ao programa festivais de um dia,
juntamente com actividades de formação para ajudar a desenvolver o talento
local e um programa de intercâmbio de artistas entre as regiões. Os festivais
Bayimba realizam-se hoje em dia em cinco regiões, fornecendo uma plataforma aos
artistas locais e oportunidades de digressão a artistas já estabelecidos, o que
culmina no Bayimba International Festival of the Arts, que no próximo mês de
Setembro irá celebrar a sua 5ª edição.
Ao mesmo tempo, Bayimba tem continuado a investir no desenvolvimento de
talento artístico. Foram realizados workshops de formação para introduzir novas
disciplinas artísticas no Uganda, como
a fotografia, o teatro de rua, as instalações ou espectáculos de poesia. Alguns
dos seus programas, como a formação em música, estão a tornar-se num programa
de formação mais estruturado e duradouro. Paralelamente, Bayimba apercebeu-se
da necessidade de formar outros elementos do sector que não artistas e em 2011
começou a oferecer cursos para gestores culturais e jornalistas da cultura, uma
vez que eles são igualmente importantes para o sector crescer e prosperar.
Graças à sua crescente relevância e reputação no Uganda, Bayimba tornou-se
também num catalisador importante na região da África de Leste e no continente
africano. É um membro respeitado de várias redes regionais e continentais. Mais
recentemente, em Maio 2011, Bayimba tomou ainda a iniciativa de lançar DOADOA,
como uma plataforma profissional de trabalho em rede e de aprendizagem
conjunta, que junta as partes interessadas – pessoas, organizações, negócios,
conhecimento e tecnologia, com o objectivo de criar demanda e de desenvolver um
mercado para as artes performativas, desbloqueando o potencial das indústrias
criativas de África de Leste.
Programa de formação em Gestão Cultural que acolhe gestores culturais de todo o continente africano (Foto: Bayimba Cultural Foundation) |
Para ter um impacto duradouro no sector, Bayimba tem ainda procurado
desenvolver e estabelecer sistemas e estruturas duradouras. A
institucionalização do já mencionado programa de formação em música é apenas um
exemplo. Para aumentar o acesso ao financiamento para artistas e aumentar o investimento
no sector, Bayimba está ainda a criar uma plataforma inovadora de crowdfunding
para projectos artísticos na África de Leste e um pequeno esquema de
empréstimos para artistas no Uganda. Bayimba está ainda a planear o
estabelecimento de uma infraestrutura multi-funcional para as artes no Uganda
que seria um ponto de encontro significativo para as artes no Uganda, na África
de Leste e no continente e que viria a coroar tudo o que foi feito até agora.
…. e gradualmente mudou a paisagem….
Atrevo-me a dizer que as intervenções de Bayimba nos últimos 5 anos têm
resultado num desenvolvimento gradual do sector. Através da combinação
excepcional de programas e actividades, Bayimba tem conseguido dar resposta a
vários desafios e tem encorajado outros a fazerem o mesmo. Conseguiu-o sendo um
exemplo, com uma equipa jovem, activa e ambiciosa que não evitou tomar riscos
para iniciar projectos e programas igualmente ambiciosos; trabalhando com
parcerias e desenvolvendo uma ampla rede de parceiros; assegurando o
envolvimento de todos; e tornando Bayimba numa marca de propriedade local. Um
grupo interessante de empreendedores criativos nas artes – mais especificamente
em música, dança, cinema e teatro – tem entretanto surgido, trabalhando
arduamente para desenvolver e promover as artes. E Bayimba tem orgulho em ter
contribuído para esta nova era de empreendedorismo criativo no Uganda.
Continuaremos a servir os nossos artistas, as artes e os nossos públicos para
garantir o espaço da criatividade. Assim, não servimos apenas o sector das
artes e da cultura, mas a comunidade, a sociedade e o mundo…
...para que as artes e a cultura no Uganda possam viver felizes para
sempre.
Faisal Kiwewa é fundador e director de Bayimba Cultural Foundation e presidente da comissão oganizadora da Uganda Annual Conference on Arts and Culture (UACAC).
3 comments:
Que bom!
Ao pé disto só consigo exprimir-me dizendo que sou nada.
Nuno
Faz pensar, Nuno, não é verdade? No que é um país "em desenvolvimento" e um país "desenvolvido".
Não faz só pensar. Faz, a mim, sentir de uma forma profunda a minha pequenez e frustração; a cada vez maior lucidez de me sentir a viver numa ficção, num país e num continente onde o que importa é uma aparência oca, vazia, feita de papel de cenário. Felizmente que ainda há no mundo pessoas como este senhor, que nos dão o Mundo!
Obrigado Maria
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