Museu Nacional, Praga. |
Em 2021, estava em Praga a visitar o Museu Nacional. Quando apanhei o elevador para chegar à cúpula e ver a bonita cidade lá de cima, vi que havia um banco. Recordo-me de ter sido invadida por uma forte emoção ao ver este pequeno e discreto gesto de hospitalidade e amabilidade. O museu não incluiu o banco no elevador porque era obrigatório por lei. Reconheceu que nem todas as pessoas seriam capazes de permanecer em pé durante a lenta viagem até ao topo e que queria ter a certeza de que as pessoas se sentiriam confortáveis e seguras; sentir-se-iam bem-vindas. Quando o nosso desejo de abrir as portas a todos (seja lá o que “todos” possa significar) é honesto, partilhar a experiência com todas aquelas pessoas que possam estar interessadas em fazer parte, não estamos condicionados por leis. Estamos prontos para ir mais além.
A mesma forte emoção invadiu-me quando, há alguns meses, li
um artigo de Raphaela Platow, directora executiva do Speed Art Museum
em
Louisville, Kentucky. O
título era “Extending
the Invitation: Strategies for Welcoming Visitors and Reducing Barriers to
Access”. A missão do museu é “Convidar todas as pessoas a celebrar a
arte para sempre”. Mas, pergunta Platow, “como é que este convite é, ou deveria
ser, na prática?” – abordando assim duas das questões que são permanentes na
minha prática: 1. Porque é que fazemos o que fazemos? e 2. Como passamos das
belas palavras às acções?
O Speed quis ir além das palavras (e provavelmente
também além dos imperativos legais), questionando-se: como podemos criar novas
formas de fazer do museu um espaço convidativo e acolhedor, de pertença
comunitária; como podemos expandir continuadamente as comunidades às quais
estendemos o convite; como convidamos os visitantes a interagir com o museu, as
nossas colecções, espaço e programas. Para criar um museu mais acolhedor, o
Speed considerou o acesso em quatro dimensões principais: cultural, social,
financeira e física. Em suma (embora recomendemos a leitura de todo o artigo
para mais detalhes):
Cultivar um Museu Culturalmente Acolhedor: Como
criar um espaço inclusivo, onde os visitantes sintam que a sua história, origem
e identidade cultural são representadas e respeitadas, em vez de suprimidas em
nome de uma grande narrativa canónica? Como podemos incorporar e comunicar este
valor [da inclusão] aos visitantes? Estas questões têm orientado tanto as
práticas curatoriais como as práticas de mediação cultural/interpretação do
museu.
Construir Espaços Convidativos para o
Intercâmbio Social: Como podemos criar uma experiência
museológica convidativa e social e estender a mensagem de que os visitantes
podem trazer para o museu todo o seu ‘eu’, em todos os aspectos de envolvimento
com o espaço? Falar com pessoas que conhecemos, ou não, sempre foi uma forma de
pensar e criar sentido sobre nós mesmos e sobre o mundo. O museu criou pontos
de conversa coordenados por especialistas, dentro das galerias, que oferecem
oportunidades para conversas informais e abertas. E também oferece novos e
confortáveis bancos e sofás nas galerias, criando um ambiente de “sala de
estar”.
Quebrar Barreiras Financeiras:
Poderá o objectivo de criar um ambiente culturalmente e socialmente acolhedor
ser alcançado se, em primeiro lugar, grande parte do público não puder dar-se
ao luxo de passar pelas portas? Graças a generosos donativos privados, o Speed
garantiu a entrada gratuita aos domingos e no horário nocturno das primeiras
quintas-feiras de cada mês, bem como a adesão gratuita de famílias ou indivíduos
ao grupo de amigos para quem o custo seja uma barreira de acesso. A dimensão
financeira, no entanto, não teria os mesmos resultados se a dimensão cultural e
social não tivessem sido abordadas da forma como o Speed o fez. A isto
devemos ainda acrescentar a dimensão do acesso físico.
Conectar a Abertura Física ao Bem-Estar
Holístico: Em relação a esta dimensão, seria de esperar descobrir
como o Speed se tornou mais acessível para visitantes com deficiência. No
entanto, este é um requisito legal mínimo e deve ser garantido; portanto, nem
sequer é discutido, é uma obrigação e uma expectativa natural. O que se discute
nesta parte é a forma como o museu vai abrir o seu jardim e a sua colecção,
todos os dias e horas do ano, à comunidade local e a outros visitantes. O
objectivo não é apenas dar uma oportunidade às pessoas de se envolverem com a
arte, mas também resolver o problema da falta crítica de espaços verdes
públicos nessa parte da cidade. Nas palavras do museu, “o parque pretende ser
um destino acolhedor para toda a comunidade se conectar com a arte, a natureza
e entre si”.
Esta é a minha expectativa em relação aos museus, e outros
espaços culturais, em 2024: uma intenção honesta de estender o convite; um
verdadeiro desejo de questionar as suas práticas; acções concretas em vez de
belas palavras e reflexão eterna. Estas são as questões que nós, enquanto
profissionais da Cultura, e também os jornalistas deveríamos colocar quando um novo ou
renovado espaço cultural se abre na cidade. Estas são também as perguntas que
todos os membros da sociedade deveriam sentir que têm o direito de fazer.
Espaços para vivermos e pensarmos juntos são essenciais. Este “juntos” não acontecerá se as dimensões cultural, social, financeira e física não forem centrais no nosso planeamento. E se assim for, não é a lei que interessa. As organizações e os profissionais honestos dão mais um passo e vão além da lei. Com prazer.
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