É sempre um
grande prazer ter uma conversa com Nicholas Moyo. Não só pelo seu sentido de
humor, mas sobretudo pela sua sabedoria e experiência, pela sua forma calma e
equilibrada de analisar as realidades à sua volta, pela sua crença num futuro
melhor. Neste post, Nicholas escreve sobre a proliferação de festivais
das artes no Zimbabwe e os esforços do National Arts Council para criar algumas
directivas no sentido de assegurar que todos os festivais sejam realizados de
acordo com as aspirações do país, no que diz respeito ao desenvolvimento das
indústrias criativas. mv
Intwasa Arts Festival (Foto retirada de www.intwasa.org) |
A criação de
festivais das artes no Zimbabwe para a exposição de produtos artísticos e
culturais tem sido moda na última década. Por muito que as pessoas possam
concordam sobre o que é um festival, no Zimbabwe um festival relacionado com as
artes é promovido como uma plataforma para a celebração das artes, onde
artistas e outros profissionais ligados à cultura se juntam por um período
específico para mostrar os seus produtos num ambiente carnavalesco e de festa.
Esta
definição persiste porque os festivais são, em geral, um tempo de celebração e
divertimento. Trata-se de um evento normalmente promovido por comunidades que
se concentram num aspecto único daquele grupo de pessoas. No que diz respeito
ao sector das artes e da cultura, cada festival é moldado à volta de um grupo
particular de pessoas, que constituem o núcleo do mercado e do público.
O cenário
actual
Há
aproximadamente 25 festivais no Zimbabwe: seis internacionais, oito nacionais,
seis provinciais e cinco distritais. A maioria destes festivais começou na
última década, quando o panorama político estava em colapso, sobretudo a
economia.
Nesse
período, Zimbabwe testemunhou a proliferação de festivais de arte realizados em
todo o país. Sem dúvida, alguns deles foram criados para lidar com questões
relacionadas com os direitos humanos. Outros eram acolhidos por organizadores
fugazes que procuravam ‘arrancar’ fundos a patrocinadores. Este cenário teve como
resultado a intervenção do National Arts Council, que iniciou uma consulta com
o sector, criando algumas directivas gerais para todos os festivais que tinham
lugar no país. As directivas tinham como objectivo assegurar que todos os
festivais de artes seriam realizados de acordo com as aspirações do país no que
diz respeito ao desenvolvimento das indústrias criativas.
Harare International Festival for the Arts (Foto retirada de www.hifa.co.zw) |
Sucessos
Os festivais
são, em geral, uma plataforma enorme criada para o estabelecimento de uma
transacção entre públicos e organizadores, que envolve a comercialização de um
produto artístico. Em primeiro lugar, todos os festivais têm registado um
aumento sustentado de afluência todos os anos. Existe um mercado crescente e
uma nova relação entre este mercado e o sector criativo. As pessoas começam a
trocar o seu tempo e recursos financeiros por ‘boa arte’.
Em segundo
lugar, os criadores consideram importante e necessário criar ‘boa arte’, nova e
excitante, enquanto os produtores, directores e artistas têm estado a subir a
fasquia, devido à natureza competitiva da indústria criativa. Os organizadores
de festivais contratam novas produções, sobretudo a produtores respeitados, uma
vez que estes conseguem atrair mais pessoas a produções específicas.
Harare International Festival for the Arts (Foto retirada de www.hifa.co.zw) |
Desafios
As indústrias
criativas têm tido bastantes desafios no mercado. No topo da lista está a
incapacidade de atrair importantes parcerias que ou trariam apoios financeiros
para o festival ou suportariam algumas das suas componentes, mesmo em género.
Alguns organizadores não têm a capacidade de estabelecer estas parcerias, sendo
impossível marcarem com regularidade datas no calendário. Assim, vemos certos
festivais serem obrigados a cancelar datas com as quais poderiam ter avançado
apenas se aparecesse um parceiro da última hora.
Os patrocinadores,
especialmente aqueles do sector empresarial, não se têm mostrado disponíveis
para apoiar as artes. E os festivais não são excepção. Alguns, como o Harare
International Festival for the Arts, têm criado sinergias de negócios com
empresas. Poderíamos dizer que os desafios económicos que o Zimbabwe enfrenta
como nação têm o seu impacto na circulação do dinheiro na área do
entretenimento. Os rendimentos dos trabalhadores do Zimbabwe estão abaixo da
linha da pobreza e, por isso, este facto por si tem um efeito global nos
hábitos de compra das pessoas e na forma como gastam o seu dinheiro.
Intwasa Arts Festival (Foto retirada de www.intwasa.org) |
Em conclusão,
os festivais no Zimbabwe são necessários para o desenvolvimento das indústrias
criativas do país. Com os diferentes impulsos dados por diferentes festivais, é
evidente que estes são cuidadosamente preparados no sentido de atrair
consumidores específicos a produtos artísticos específicos. No entanto, terão
que ser redesenhados como empreendimentos de negócio para os produtos
criativos. O crescimento dos festivais irá igualmente garantir que as artes
sejam vistas como um contribuinte decisivo para o PIB do país.
Nicholas Moyo
é neste momento Director-Adjunto do National Arts Council do Zimbabwe. Tem mais
de 20 anos de experiência em gestão cultural – como director, produtor e
administrador. Tem participado em várias acções de formação e pequenos cursos,
sobre gestão cultural, liderança, e fundraising, entre outros. Fundou o
segundo maior festival multi-disciplinar do Zimbabwe, Intwasa Arts Festival
koBulawayo, e é neste momento membro do Conselho Consultivo. É igualmente
membro do Conselho Consultivo de Tusanani Cover Trust, uma organização que
apoia crianças desfavorecidas. Nicholas Moyo foi um dos consultores do primeiro
festival de artes e cultura da Zâmbia, o AMAKA Arts Festival, que teve lugar
nos dias 8 a 14 de Outubro.
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