Grécia. Sem necessidade de avisos prévios. (Foto: mdtili no Instagram) |
Tantas 'palavras-chave' num só título... Pergunto-me se este post será mais lido do que
outros devido, precisamente, ao título ou às fotografias que o ilustram. É possível, sim.
A maioria de nós não resiste a títulos e imagens como estes e à ‘promessa’ detrás dos mesmos. O sexo atrai; a nudez também.
As instituições culturais – enfim, as pessoas que nelas
trabalham – são igualmente atraídas por estes temas e às vezes estão mesmo
dispostas a trabalhar sobre eles, procurando as associações mais imaginativas.
Quem esperaria, por exemplo, encontrar uma exposição sobre “o amor e a paixão
na costa” num Museu da Pesca numa pequena aldeia belga? Chamava-se Zeerotica e apresentava histórias sobre
sereias, monstros marinhos mitológicos e as suas vidas íntimas; mariscos
afrodisíacos e a vida amorosa dos pescadores; imagens eróticas de mais de um
século de vida na praia.
A curadora de Zeerotica dizia numa entrevista que, apesar do que as pessoas
poderiam pensar, esta não era uma exposição obscena; na verdade, era uma
exposição para toda a família. Há diferentes maneiras de lidar com estes temas,
como com todos os outros, assim como há também diferentes interpretações do que
pode ser considerado obsceno, chocante ou pornográfico. Para além das decisões
dos conservadores, devemos ainda considerar as opções em termos de marketing. E
os marketeers culturais, tal como todas as outras pessoas, não conseguem
resistir à tentação de usar (ou mesmo ‘abusar’) certos temas para atrair mais
pessoas e públicos novos.
Aproximam-se dois eventos que fizeram recentemente
notícia. Ambos começam esta semana. Ambos lidam com assuntos picantes. Ambos
desenharam campanhas de marketing provocadoras. Mas, quanto mais penso neles e
leio os comentários das pessoas, mais sinto que existe uma diferença
fundamental na sua abordagem. O que provavelmente se reflectirá também nos
resultados.
"Mr.Big" by Ilse Haider, at the entrance of the Leopold Museum. (Photo taken from Delirium Clemens:) |
A exposição Nude Men (Homens Nus) abre
na próxima sexta, dia 19, no Leopold Museum em Viena. Lê-se no website
do museu: “Anteriormente, as exposições sobre o tema da nudez limitavam-se
sobretudo aos nus femininos. Com a apresentação ‘homens nus’ no Outono de 2012,
o Leopold Museum irá mostrar uma exposição há muito devida sobre as diversas
representações de homens nus desde 1800 até hoje.” Na entrada do museu, “Mr. Big”, um modelo gigante de um homem nu
criado por Ilse Haider, atrai as atenções e publicita a exposição. Não é uma
pintura, é uma foto; por isso, é mais ‘real’, não apenas ‘arte’, se me faço entender… Na cidade de Viena as pessoas podem ver dois cartazes diferentes: um
mais ‘tradicional’ – que apresenta “Preacher” de Egon Schiele – e um outro,
menos ‘tradicional’, criado pelos artistas Pierre & Gilles, intitulado
“Vive la France” (novamente, uma foto…)
Cartazes da exposição Homens Nus (imagens gentilmente cedidas pelo Leopold Museum) |
Acompanhei a discussão sobre este segundo cartaz na página do museu no Facebook.
As pessoas podiam votar na versão que gostavam mais. Na verdade, o museu foi
forçado a apresentar as opções censuradas (devido às regras do Facebook que
levaram à eliminação de vários posts), mas prometia aos seus fãs que
tanto na rua como na exposição estaria tudo à vista. Não pareceu haver outro
género de preocupações, todos pareciam estar bem dispostos e ansiosos pela
exposição. Uma vez os cartazes na rua, e de acordo com o responsável de
Relações Públicas do Leopold Museum, Klaus Pokorny, começou a haver queixas,
especialmente de pais que não gostaram de ver o cartaz ao pé das escolas dos
seus filhos. Na semana passada, o museu voltou a colocar o cartaz no Facebook
(a versão ‘especial para Facebook’), não tanto para defender a sua opção, mas
mais para convidar as pessoas a falar sobre ela: “A propósito da nossa
exposição, mostramos homens nus… Nada mais, nada menos. Estamos agora a
discutir se deveríamos ter coberto as partes sensíveis, como fizemos aqui no
Facebook. A representação de um pénis é algo absurdo para a nossa sociedade?”.
As pessoas não demoraram a reagir e, mais uma vez, o diálogo estava bastante
aberto e bem-disposto, concentrado no assunto principal, que era: não era
correcto mostrar algo assim no espaço público?
Versão censurada do cartaz da exposição para o Facebook. |
Dois dias antes da inauguração de Nude Men, no dia
17, estreia Don Giovanni na English National Opera. Soube disto
quando recebi no meu news feed, entre centenas de outros artigos, um que
se intitulava Opera and orgasms (não pude
resistir...). E não era tanto sobre Don Giovanni, como sobre o cartaz:
uma embalagem de preservativo aberta ao lado das palavras: “Don Giovanni. Em
breve”.
(Imagem retirada do jornal LA Times) |
De acordo com uma porta-voz
que falou ao jornal Evening Standard, “o teatro queria para esta ópera uma
campanha publicitária inteligente e cativante. Surgiu esta ideia, que pensamos
que é brilhante, divertida e apanha a essência de Don Giovanni de uma
forma espirituosa.” Não me convencem. Considero que a ideia é pobre, até
preguiçosa, e procura provavelmente chocar apenas e mais nada. E esta parece
ser uma linha geral na forma como a ENO tenta aproximar-se a públicos ‘novos’:
tentam fazer as coisas parecer necessariamente sexy. Uma iniciativa que
tem como objectivo atrair pessoas novas chama-se Undress for the Opera (Despe-te para a ópera)… Há um
vídeo com um discurso apaixonante do encenador Terry Gilliam a dizer porque é
que a ópera é fascinante, mas aquele título (enganoso) era mesmo necessário?
Quando tudo o que querem dizer é “Isto pode interessar-te. Temos aqui alguns
bilhetes baratos para experimentares. A propósito, vem vestido como quiseres”
(na verdade, uma senhora comentou num jornal que para as suas filhas adolescentes
a ida à ópera tinha sido uma ocasião para se vestirem elegantemente…)
Para voltar à campanha do Don Giovanni, as reacções no Facebook, apesar
de não virem daqueles que são o público-alvo da campanha (é verdade, onde estão
eles? Sabem disto? Viram o vídeo? Perceberam que é para eles?…), mostram que
alguns dos actuais fãs da ENO sentem que isto é só conversa e uma tentativa de
parecer forçosamente sexy. Acreditam até que as pessoas já
vão à ópera vestidas como quiserem. Outras pessoas parecem achar a campanha
divertida. No Facebook, a ENO respondeu aos críticos dizendo que “Em termos
gerais, as reacções à campanha publicitária de Don Giovanni têm sido
positivas e a maioria das pessoas vê o lado engraçado e concorda connosco que a
publicidade apanha a essência de Don Giovanni de uma forma espirituosa.”
Soa um pouco como uma resposta ‘oficial’.
Na minha opinião, a diferença entre as duas
campanhas é que, apesar de ambas procurarem chegar a uma audiência mais vasta e
talvez ‘nova’ através de temas populares e sexy, o Leopold Museum tenta
ser rico e criativo na sua abordagem, enquanto a ENO faz a sua parecer e soar
banal e preguiçosa. E acredito que isto vai influenciar os resultados. Ou
talvez não… Tenho a certeza que a seguir às aberturas haverá mais discussão,
tanto na imprensa como no Facebook, incluindo, possivelmente, as opiniões
daqueles que são o alvo destas campanhas. No caso de não haver um outro género
de avaliação somativa por parte das instituições promotoras, será, com certeza,
interessante acompanhar estas conversas informais.
Agradecimentos especiais a:
Klaus Pokorny, Responsável de Relações Públicas no
Leopold Museum, pela gentileza de me enviar os cartazes e responder às minhas
perguntas;
Inês Fialho Brandão, por me dar a conhecer Zeerotica;
Spyros Gryllakis, pela ajuda com as traduções do alemão.
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