Saturday, 7 December 2024

Duas apresentações a 6 de Dezembro

 




Na manhã do dia 6 de Dezembro, fui a keynote speaker na conferência do ICOM MPR / ICOM Georgia em Tbilisi, Georgia. À tarde, participei remotamente na conferência CoMuseum 2024. As apresentações encontram-se aqui and aqui

Tuesday, 12 November 2024

The age-old paradox of democracy

 


A minha intervenção hoje na conferência da NEMO - Network of European Museum Organisations. Aqui

Saturday, 2 November 2024

Sem água, uma pessoa morre em nove dias, mas pode viver cinco anos sem toque humano. Este último será um luxo?

Coro de ex-mineiros nas Minas do Lousal. Juntar-se para cantar era (e é)
importante para eles. (Foto: Maria Vlachou)


O título é uma citação do livro de Justin O´Connor
“Culture is not an industry – Reclaiming art and culture for the common good”. Antes de entrar no assunto, vêm-me à memória dois episódios da minha vida profissional.

Em 2016, a Acesso Cultura tomou conhecimento de um grupo de trabalho constituído no ano anterior pelo governo português para fazer face à crise dos refugiados. Neste grupo estiveram representados os seguintes sectores: Direcção-Geral dos Assuntos Europeus/Ministério dos Negócios Estrangeiros, Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, Instituto da Segurança Social, Instituto do Emprego e da Formação Profissional, Direcção-Geral da Saúde; Direcção-Geral da Educação e Alto Comissariado para as Migrações. A cultura não foi convidada a fazer parte. A nossa associação escreveu ao Ministério da Cultura e foi-nos dito que o grupo estava quase a completar a sua tarefa e que o Ministério iria prestar mais atenção no futuro. Mais atenção a quê…? Ninguém considerou que a Cultura tivesse alguma coisa a ver com a chegada de refugiados a um país pequeno – nem mesmo o Ministério da Cultura e talvez também alguns profissionais da cultura.

Saturday, 26 October 2024

Obrigada, mas não, obrigada.

Não é fácil ler o livro de Ece Temelkuran “How to lose a country: The seven steps from democracy to dictatorship”. A escrita incisiva da jornalista turca torna-se por vezes assustadora, os seus testemunhos pesam muito no coração. Tive de fazer uma pausa de vez em quando. Todas as nossas perguntas, dúvidas, preocupações, frustrações sobre o que está a acontecer à nossa volta, estão neste livro. O que alguns de nós estamos a viver pela primeira vez já aconteceu antes e as táticas nunca foram diferentes. Não só a ascensão de Erdogan, a votação do Brexit, a eleição de Trump são colocadas sob o microscópio, mas Temelkuran tem uma visão clara de até onde precisamos de recuar para encontrar as origens de acontecimentos recentes e actuais e perceber que não fizemos/fazemos nada, embora a forma como se desenvolveram seja, nesta altura, muito previsível. Tão previsível como sete passos.

Saturday, 19 October 2024

And now for something completely different: o museu populista


Em Novembro de 2022, o Ministro da Cultura italiano, Gennaro Sangiuliano, falou sobre a necessidade de proteger melhor as obras de arte das acções dos activistas climáticos e afirmou: “Considerando o enorme património a proteger, a intervenção representará um custo considerável para o ministério e para toda a nação. Infelizmente, só posso prever um aumento do custo do bilhete de entrada.”

A declaração pareceu-me profundamente populista (e ridícula) na altura. Talvez não seja mais populista (ou ridícula), no entanto, do que a declaração da National Gallery no dia 17 de Outubro:

“Após os recentes incidentes no interior do museu, é agora necessário introduzir medidas reforçadas para garantir a segurança de todos os que a visitam, do pessoal da National Gallery e da colecção de pinturas da nação.

Thursday, 17 October 2024

Contra os passes cultura


Casa com telhado mas sem alicerces?
foi um post que escrevi em 2011 sobre a iniciativa do governo brasileiro de proporcionar o “Vale Cultura” a pessoas com baixos rendimentos. É um caso abordo ainda frequentemente em formações e debates, pois nunca me convenceu de que estava a abordar os verdadeiros problemas. As perguntas que os cidadãos fizeram na altura foram reveladoras: Podemos comprar videojogos com isto? Podemos pagar a TV Cabo? Uma senhora entrevistada na altura disse que achou muito bem, pois nunca tinha “ousado” ir ao teatro municipal do Rio de Janeiro (“É tão grande, tão bonito”, disse, “pensei, não é para mim”…). Mais importante ainda, houve pessoas que fizeram as perguntas difíceis: Como é que o vamos gastar? Não há livraria – cinema – museu – teatro onde vivemos.

Saturday, 12 October 2024

Além da lei

Museu Nacional, Praga.

Em 2021, estava em Praga a visitar o Museu Nacional. Quando apanhei o elevador para chegar à cúpula e ver a bonita cidade lá de cima, vi que havia um banco. Recordo-me de ter sido invadida por uma forte emoção ao ver este pequeno e discreto gesto de hospitalidade e amabilidade. O museu não incluiu o banco no elevador porque era obrigatório por lei. Reconheceu que nem todas as pessoas seriam capazes de permanecer em pé durante a lenta viagem até ao topo e que queria ter a certeza de que as pessoas se sentiriam confortáveis ​​ e seguras; sentir-se-iam bem-vindas. Quando o nosso desejo de abrir as portas a todos (seja lá o que “todos” possa significar) é honesto, partilhar a experiência com todas aquelas pessoas que possam estar interessadas ​​em fazer parte, não estamos condicionados por leis. Estamos prontos para ir mais além.

Sunday, 6 October 2024

Das silenciosas maiorias. Do medo e da liberdade.


Mais uma vez, atravessaremos o Atlântico, só para ficarmos conscientes do quão perto estamos e porque é que devemos prestar atenção ao que ali se passa.

Em Julho, escrevi um artigo para o jornal Público sobre o que se tornou numa situação extrema de proibição de livros nas bibliotecas escolares e públicas dos Estados Unidos. Escrevi na altura que os livros contestados tratam normalmente de questões LGBTQI+, raça e racismo, escravatura, genocídio de povos indígenas, religião. Existem também inúmeras exigências para que os livros sobre a puberdade sejam transferidos da secção juvenil para a secção de adultos... Situações semelhantes estão a ocorrer no Brasil e noutros países, sendo mais ou menos noticiadas pelos meios de comunicação mainstream.

Um relatório recente sobre a situação nos EUA, publicado pela Knight Foundation, mostrou alguns resultados muito relevantes: 78% das pessoas confiam nas suas escolas públicas para selecionar materiais apropriados; revelou também que “a maioria dos americanos se sente informada sobre os esforços para proibir livros nas escolas, mas apenas 3% dos inquiridos disseram que se envolveram pessoalmente na questão - com 2% a envolverem-se no sentido de defender o acesso aos livros e 1% a procurar restringir o acesso.” (ler mais). O que é que isto nos diz? Muitas pessoas estão informadas sobre o assunto, algumas, poucas, envolvem-se na defesa da liberdade de ler num país democrático, enquanto uma minoria vocal, muitas vezes violenta, tem permissão para decidir o que os outros podem ler e onde. Soa familiar?

Sunday, 18 August 2024

Guest post: "Diminuição", por Elaine Heumann Gurian

 

Com Elaine, Kennedy Center, Washington DC, 2013.

Breve introdução: Durante muito tempo, Elaine foi para mim uma daquelas pessoas que não existiam “realmente”. Autora de “Civilizing the museu”, influenciou profundamente o meu pensamento e prática, sobretudo ao cunhar o termo “o museu ‘e’”. Mas ela não era alguém que eu pudesse esperar conhecer algum dia, algures. Quando em 2013 tive coragem para lhe escrever, Elaine veio ter comigo. E isso diz muito sobre quem ela é. Mantivemos contacto desde então, ocasionalmente, sobretudo através das suas cartas aos amigos. Na semana passada, recebemos mais uma. Foi um privilégio começar o meu dia a ler aquela carta. Foi mais uma confirmação do quão extraordinária ela é como pessoa. Sempre generosa, permitiu-me partilhar a carta no meu blog. Obrigada, Elaine, por isso e por muito mais.


Diminuição
Agosto de 2024

Caros amigos,

Já há algum tempo que não escrevo. Mais precisamente, há muito tempo que não envio uma carta aos meus amigos porque escrevi algumas que rejeitei e não enviei. Mas aqui estou eu de novo, agora uma mulher de 86 anos, esperando que a minha experiência na velhice possa produzir algumas ideias de interesse geral. Reflito sobre a inevitável diminuição que todos enfrentamos.

Geralmente, nós (anciãos) começamos todos os dias (a não ser que estejamos doentes ou tenhamos um acidente) com a expectativa de termos as mesmas capacidades do dia anterior. No entanto, às vezes, essas expectativas estão erradas e ficamos surpreendidos com a nossa incapacidade. De vez em quando, podemos compensar o que foi perdido, mas frequentemente isso desaparece e os nossos cálculos devem ser reajustado.

Monday, 10 June 2024

“Primeiro ignoram-te. Depois riem-se de ti. Depois lutam contra ti. No fim, tu vences.”

Sufragista a ser presa pela polícia em 1914.
(Imagem retirada de The Independent. PA Wire/PA Images)

O título deste post são palavras de Ghandi, citadas por Rebecca Solnit no seu livro “Hope in the dark”. Cada época tem as suas causas específicas, mas, ao mesmo tempo, podemos observar e sentir o desenvolvimento de outras, vindas de trás. Solnit lembra-nos que as fases identificadas por Ghandi desenrolam-se lentamente e também que “Os efeitos não são proporcionais às causas – não só porque causas enormes por vezes parecem ter pouco efeito, mas porque causas pequenas ocasionalmente têm consequências enormes”. (pág.61).

Tenho pensado na forma como os activistas de diferentes causas são actualmente vistos e tratados. Quando escrevi um capítulo para o livro “The activist museum” (editado por Robert Janes e Richard Sandell), lembro-me de ter optado pela definição de activismo tal como aparecia na Wikipédia, já que os dicionários que consultei na altura muitas vezes lhe davam uma nuance agressiva, violenta, que me deixava insatisfeita. A agressão ou a violência não estão ausentes, claro, mas não são a única forma de ser activista. Relembrando uma entrevista de John Berger, ouvir é um acto (e, na minha cabeça, é aqui que o activismo realmente começa, em sermos capazes de ouvir).

Monday, 6 May 2024

Importemo-nos, honestamente

Foto: Maria Vlachou

Quando participei na conferência da Balkan Museum Network, no mês passado, tive o prazer de ouvir Łukasz Bratasz, chefe do grupo de Investigação do Património Cultural do Instituto Jerzy Haber (Polónia). A sue “keynote speech” era sobre “Sustainability-conscious management of art collections”. Para alguém como eu, que conhece o básico sobre o controlo das condições ambientais em museus, foi uma palestra surpreendente e refrescante. Talvez também para os que sabem mais do que eu. Porque Łukasz partilhou connosco os resultados de estudos que mostram que os objectos são muito menos vulneráveis às variações ambientais do que se supunha anteriormente e que existem outras formas de gerir colecções de arte, com uma pegada de carbono significativamente mais leve.

Wednesday, 1 May 2024

Nunca mais: como é que se vive à altura de uma missão como esta?

Imagem retirada de Vatican News (Agence France Presse)

Em 2014, num post chamado “Em círculos”, escrevia que “Aparentemente, não damos o mesmo valor a todas as vidas humanas e assim, os países europeus representados no Concelho das Nações Unidas para os Direitos Humanos podem abster-se (todos!) na votação para a abertura de um inquérito sobre alegadas violações dos direitos humanos em Gaza; aparentemente, algumas situações do género ‘nunca mais’ são justificadas, e assim os nossos governos podem continuar a apoiar e a vender armas ao governo israelita; aparentemente, cada caso é uma caso e tudo depende, portanto, existem alguns casos do género “nunca mais” em que nós cidadãos comuns podemos reservar o direito de sermos mais ‘equilibrados’ ou neutros.”

Sunday, 24 March 2024

Qual a sensação de viver numa democracia em declínio?

Claudia Roth, Ministra de Estado para a Cultura alemã, na Belinale.
Foto: Andreas Rentz | Getty Images (retirada do The Guardian)

Há alguns dias, estive num encontro internacional, onde o assunto era museus e democracias em declínio. Ouvimos falar dos infortúnios dos directores de museus polacos, amplamente divulgados na imprensa internacional (exemplos desde 2017: aqui, aqui, aqui, aqui, aqui); ouvimos falar de museus na Hungria, que deveriam “interpretar para o povo as vontades do governo” ou a serem censurados por causa de um projecto de arte participativa que representava o Presidente ou, mais recentemente, a verem um director ser despedido por ignorar a lei contra a “promoção da homossexualidade”, na qual ele próprio votou quando era deputado. Também ouvimos falar da Holanda, onde a extrema-direita tem vindo a atacar há já algum tempo as narrativas dos museus e que está agora a tentar formar um governo, depois de vencer as eleições em Novembro.

Wednesday, 3 January 2024

Cultura prescrita

Les Kurbas Theatre, Lviv, Ukraine, 2022. Foto: Adriano Miranda

Assistir a representações de peças antigas nos teatros gregos é uma experiência que me faz sempre pensar. Acho particularmente comovente o fluxo de pessoas que se dirigem ao teatro para assistir pela enésima vez às mesmas histórias que nos falam de amor, ódio, respeito, arrogância, sede pelo poder, guerra, justiça, vingança. Histórias escritas há muitos séculos sobre a natureza humana e tudo o que há de bom e de mau nela. Então, quando olho ao meu redor para as pessoas que enchem o teatro e, sobretudo, quando as vejo ir-se embora depois do espectáculo, muitas vezes me pergunto “E então? E agora?". Até que ponto as pessoas utilizam o “alimento” (food for thought) que lhes foi proporcionado para pensar sobre a vida contemporânea, sobre si mesmas e sobre os outros, o seu lugar no mundo e qual poderia ser a sua contribuição para um mundo melhor? Quando penso na sociedade contemporânea grega (e noutras sociedades), a forma como cuidamos (ou não cuidamos) uns dos outros, lembro-me que o poder não reside apenas na peça, mas também, e talvez até mais, no indivíduo e no que essa pessoa fará (ou não) com o que lhe foi dado.